Exposição em Berlim sobre grupo terrorista Baader-Meinhof gera polémica

Críticos consideram que exposição mistifica os terroristas e insulta os familiares das vítimas

A mostra "A representação do terror: a exposição da RAF", centrada na Fracção do Exército Vermelho (RAF), que inaugurou no sábado, em Berlim, está a provocar uma grande polémica na Alemanha. A exposição na galeria KunstWerke apresenta os ecos nos media da RAF, conhecida como o grupo Baader-Meinhof, lado a lado com interpretações artísticas sobre o grupo, com obras de artistas como Joseph Beuys e Gerhard Richter. Os críticos consideram que a exposição mistifica os terroristas e insulta os familiares das vítimas. Nos anos 70 e 80, o grupo de extrema esquerda, fundado pela jornalista Ulrike Meinhof e pelo deliquente juvenil Andreas Baader, fez vários atentados bombistas, raptos e assassínios na República Federal da Alemanha, tendo como principais alvos membros da elite política e económica da Alemanha Ocidental. Ulrike Meinhof suicidou-se na cadeia em 1976, e Andreas Baader em 1977.
A exposição estava para inaugurar no ano passado mas, devido à polémica, o ministro social-democrata do Interior, Otto Schily, manifestou "profundas dúvidas" sobre o financiamento estatal à exposição, relata a AFP. Segundo a mesma agência, foi a própria galeria que acabou por renunciar ao subsídio e modificou o projecto que era para se chamar "Mito RAF".
O correspondente do "El País" diz que a perda do financiamento fez com que 50 artistas doassem obras num leilão na Internet, que arrecadou 250 mil euros para o projecto. O "New York Times" conta que a polémica explodiu porque um comunicado não oficial a explicar o conceito da exposição sugeria que algumas das ideias do grupo "ainda poderiam ter relevância". Os organizadores da exposição distanciaram-se do conteúdo do comunicado mas de pouco adiantou. Nas semanas seguintes choveram artigos hostis nos jornais alemães e alguns sublinharam que um dos curadores, Felix Ensslin, um dramaturgo de 37 anos, era filho de uma das terroristas do grupo, Gudrun Ensslin, que morreu na prisão em 1977.

Exposição foi "mal interpretada"Vários políticos apelaram ao fecho da exposição e familiares das vítimas escreveram uma carta ao chanceler alemão, Gerhard Schröder. Segundo o "El País", o chanceler acabou por se opôr à exposição.
Klaus Biesenbach, um dos curadores, disse ao "NYT" que a exposição foi "profundamente mal interpretada". "Não glorifica a RAF. É sobre a percepção do terrorismo nos media e na arte", defendeu. "O terrorismo da RAF é um dos assuntos mais nevrálgicos na Alemanha. A sociedade ficou traumatizada com o terrorismo que viam nos media e a exposição mostra como é que os artistas lidaram com estas imagens", acrescentou Biesenbach, 38 anos, que é agora curador no Museum of Modern Art, em Nova Iorque.
A exposição inclui 88 obras de 52 artistas, estende-se por cinco pisos e mistura documentos dos meios da comunicação social, imprensa e televisão, 80 fotografias de Hans-Peter Feldmann dos mortos (terroristas e vítimas) e obras de artistas como Martin Kippenberger, Sigmar Polke, Katharina Sieverding, Klaus Staeck e Michaela Meise.
Gerhard Richter tem, aliás, a sua célebre série de 15 telas a preto e branco a partir de fotografias da era Baader-Meinhof, onde estão figuras como Gudrun Ensslin, namorada de Andreas Baader. Os líderes do grupo, Ulrike Meinhof e Andreas Baader, serviram de inspiração a diversos filmes e o símbolo da RAF, uma estrela atravessada por uma metralhadora, tornou-se um motivo comum exibido em t-shirts na Alemanha. A exposição termina a 16 de Maio.

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