A arte dos cantoneiros de todo o país está reunida em Alcains

O Museu do Canteiro abriu, anteontem, no distrito de Castelo Branco. É um espaço único em Portugal que perpetua uma arte cada vez mais rara

O saber e a arte dos canteiros, visível no património edificado em todo o país, desde o interior de cada casa, às janelas, portas e brasões, ficará perpetuado no Museu do Canteiro, que abriu, anteontem, as portas ao público, em Alcains. Este é um projecto único em Portugal que retrata não só o engenho dos velhos canteiros, habituados a ornamentar a pedra com as suas próprias mãos e utensílios, mas também a transformação desta tradição numa indústria. Uma abrangência reforçada pelo coordenador científico do projecto museológico, Benjamin Pereira, que salientou, durante a inauguração, que "não havia em Portugal nenhuma instituição que atendesse à importância da pedra e fosse capaz de cristalizar esse património riquíssimo e vastíssimo".O espólio museológico inclui algumas peças do antigo museu de Alcains também dedicado aos canteiros, mas não se limita à cantaria local. O circuito permanente deste espaço - pautado por duas versões diferentes da cantilena que acompanhava os canteiros - constitui uma incursão pelas diferentes etapas de intervenção sobre a pedra, com vista à produção de cantarias.
O Museu do Canteiro está instalado no Solar dos Goulões, hoje denominado Solar Ulisses Pardal. Este edifício, um exemplar único da cantaria, foi adquirido em 1990, pela Câmara Municipal de Castelo Branco em avançado estado de degradação. Em 2002, foi classificado como imóvel de interesse público, tendo-se iniciado a requalificação do prédio com vista à criação de um espaço cultural. Além do Museu do Canteiro, o Centro Cultural de Alcains alberga uma biblioteca e um auditório com capacidade para cerca de 230 pessoas.
A abertura deste espaço museológico, constitui, na opinião do presidente da Câmara de Castelo Branco, mais um exemplo da "revolução cultural que tem ocorrido no concelho". Alvo de críticas da oposição de descurar a cultura, Joaquim Morão admite "que não é um homem de cultura", mas assegura que tem "a sensibilidade de se saber rodear das pessoas que sabem fazer cultura para levar a cabo essa revolução cultural". "Quando, em 1998, chegamos à câmara, Castelo Branco não tinha uma sala de espectáculos. Construímos duas e pusemos em marcha dois museus. Nunca, como hoje, se apoiou tanto a cultura. Nunca, como hoje, se editaram tantos livros. Nunca, como hoje, se projectou tanto a cidade culturalmente. São factos e não conversas", afirmou o edil, salientando que este Museu do Canteiro deve ser também uma alavanca para o desenvolvimento turístico do concelho.

Museu do Canteiro fora da rede nacional
Apesar de ter contado com o apoio da Rede Portuguesa de Museus (RPM), através do programa de apoio à qualificação dos museus, o Museu do Canteiro não integra a rede nacional. A adesão dependerá do quadro técnico pessoal e da dotação orçamental que terá esta estrutura para organizar actividades.
A avaliar pela especificidade e qualidade do projecto museológico, Paulo Costa, do Instituto Português dos Museus (IPM), assegurou que a RPM "vê com todo o interesse a integração de mais este espaço". Mas terão de ser cumpridos os restantes requisitos. No entanto, apesar de o presidente da Câmara de Castelo Branco ter manifestado a vontade de entrar nesse circuito, Paulo Costa adiantou ao PÚBLICO que, por enquanto, as adesões estão fechadas. "A Rede Portuguesa de Museus é uma estrutura-projecto do Instituto Português dos Museus e, neste momento está a ser avaliada, para sabermos qual será a sua solução definitiva", explicou o representante do IPM.
Além das áreas expositivas, o museu inclui uma loja de lembranças, o centro de documentação e uma sala para os serviços educativos, que funcionou no dia da inauguração com o contributo voluntário de algumas pessoas. Segundo Joaquim Morão, o alargamento do quadro de pessoal "vai depender da afluência ao museu". A remodelação do Solar Ulisses Pardal custou um milhão e 250 mil euros.

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