A indefinição que rodeia, há perto de dez anos, o problema da travessia ferroviária de Vila Franca de Xira está a preocupar os eleitos locais e motivou a constituição de uma comissão específica, aprovada, por unanimidade, na última sessão da Assembleia Municipal local. O Ministério das Obras Públicas não se pronuncia, para já, sobre o assunto, esclarecendo que vai iniciar conversações com a câmara vila-franquense. O problema arrasta-se pelo menos desde 1994, quando evoluiu a quadriplicação da Linha do Norte entre Braço de Prata e Alverca. Para o troço seguinte, entre o Sul de Alhandra e Vila Franca, previu-se, inicialmente, um "fusível" - por falta de espaço para a quadriplicação na área da cidade vila-franquense, mantinham-se as actuais duas vias -, só que se concluiu, posteriormente, que este "estrangulamento" iria prejudicar em muito os objectivos de expansão do serviço ferroviário e reduzir a importância da estação local. Iniciaram-se, então, diversos estudos, já concluídos, mas os custos envolvidos e as implicações físicas e ambientais das soluções mais baratas têm adiado uma decisão. Os eleitos vila-franquenses preferem a construção de um subterrâneo no actual traçado ou desviado para Oeste, solução que criaria condições para uma autêntica "revolução" na vida de Vila Franca, libertando um extenso corredor à superfície e facilitando muito as ligações entre o centro da cidade e a sua margem ribeirinha. Só que essa solução é bastante onerosa e a Refer tem estudado alternativas como a triplicação da linha em vez da quadriplicação - a câmara não concorda - ou a construção de um viaduto no actual traçado ou a Oeste da cidade.TGV acentua preocupações As mais recentes notícias sobre o projecto do TGV (comboio de alta velocidade) e a possibilidade de vir a aproveitar grande parte da actual Linha do Norte, passando por Vila Franca, também acentuaram as preocupações.Na penúltima sessão da Assembleia Municipal vila-franquense foi aprovada, por unanimidade, uma moção, apresentada pela bancada do PSD, que rejeita "qualquer facto consumado por parte da Refer em relação à não execução do projecto de rebaixamento da via-férrea em Vila Franca de Xira" e exige que, nos cenários a estudar, "a hipótese do enterramento da via seja considerada a primeira prioridade, com a criação de uma estação central subterrânea" na cidade. O documento sustenta ainda que os eleitos municipais não aceitarão "soluções provisórias e transitórias que não constituam melhorias à modernidade, à mobilidade e à segurança dos cidadãos".De acordo com a moção, uma comunicação da Refer, datada de 2003, aponta três situações de difícil resolução no projecto de modernização da Linha do Norte: Vila Franca de Xira, Espinho e Trofa. Só que, refere a moção, "enquanto para Espinho se previa o rebaixamento da linha com a criação de uma estação subterrânea, na Trofa uma solução semelhante, para Vila Franca não existia solução mas necessitava de um grande bom senso".Já na semana passada, a assembleia vila-franquense aprovou a constituição de uma Comissão Eventual para Acompanhar o Desenvolvimento de Projectos Ferroviários no Concelho, que deverá aprofundar o conhecimento dos eleitos locais sobre o assunto e discutir as propostas em análise com a câmara, a Refer e o Ministério das Obras Públicas. A nova comissão vai integrar três eleitos do PS, dois da CDU e um do PSD. O PÚBLICO tem procurado, nos últimos meses, obter informação mais precisa junto da Refer sobre os planos delineados para a travessia de Vila Franca, mas soube apenas que os estudos prosseguem e que, muito provavelmente, o Governo é que terá uma palavra decisiva na opção a tomar. Um porta-voz do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações disse que vão iniciar-se conversações entre o secretário de Estado das Obras Públicas e a Câmara de Vila Franca de Xira e que só depois desses contactos é que o Governo deverá avançar mais pormenores sobre a sua posição, considerando que não o deve fazer antes de promover estas negociações com a autarquia. A Assembleia de Freguesia de Castanheira do Ribatejo aprovou uma moção em que manifesta o seu total desacordo com a intenção já anunciada pela Refer de vir a designar a nova estação que está a construir próximo do antigo apeadeiro por "Estação de Vila Franca-Norte". O documento requer que a nova estação venha a ter o nome de Castanheira do Ribatejo, tendo em conta que se situa na freguesia castanheirense e que o nome "Vila Franca-Norte" preconizado pela empresa ferroviária "não teve em linha de conta a opinião" da junta e da assembleia de freguesia da Castanheira, enquanto órgãos representativos da população. A nova estação está a ser construída no âmbito da modernização e quadriplicação do troço da Linha do Norte compreendido entre o Norte de Vila Franca e Azambuja, obras que deverão ficar concluídas no próximo ano.