Peter Eisenman recebe Leão de Ouro em Veneza

O arquitecto norte-americano Peter Eisenman recebeu ontem, das mãos de Kurt W. Forster, o Leão de Ouro (Prémio Carreira), na 9ª Mostra de Arquitectura da Bienal de Veneza, numa cerimónia que decorreu no Teatro Alle Tese, no Arsenal. O júri da Bienal, constituído por arquitectos, historiadores de Arquitectura, críticos, jornalistas (Dieter Bogner, Luís Fernandez-Galiano, Kent Martinussen, Marianne Stockbrand e Vittorio Zucconi), destacou, na declaração oficial, "os seus constributos como pensador e professor, como mentor, como arquitecto de singular capacidade e criatividade, e como mestre para o novo milénio". No discurso de agradecimento, Eisenman salientou a contribuição de todos os seus colaboradores e, afirmando, em tom irónico, perceber mais de futebol do que de Arquitectura, disse ainda esperar "poder corresponder a este prémio, construindo um 'auto-grill' numa estrada do Sul de Itália". O Leão de Ouro para a melhor representação nacional foi atribuído ao Pavilhão da Bélgica, com a instalação "Kinshasa, a cidade imaginária", comissariada por Katrien Vandermarliere. Premiada, segundo o júri, pelo modo provocatório como expõe o desfasamento entre as vivências urbanas de sobrevivência e a estrutura construída no período da colonização belga no território africano, a instalação belga assenta num conjunto de vídeos e fotografias que mostram uma segunda "cidade invisível" que se move por entre os espaços físicos da "cidade real".O terceiro Leão de Ouro, destinado "à mais significativa obra exposta na exposição geral 'Metamorph'", foi atribuído a Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, da firma japonesa SANAA, pelos projectos para o Museu de Arte Contemporânea do Século XXI (Kanazawa, Japão) e para a extensão do edifício Ivam (Valência, Espanha). Foram ainda premiados outros trabalhos no âmbito dos temas criados por Kurt W. Forster em "Metamorph". Em "Topografia", que integra obras de Eduardo Souto Moura - Duas Casas em Ponte de Lima -, o júri distinguiu o Parque Automóvel Novartis, em Basle, na Suíça, do escritório Foreign Architects. Já na categoria "Hiperprojectos", onde estão patentes duas maquetas da Piscina das Marés, de Álvaro Siza, em Leça da Palmeira, foi premiada a equipa espanhola Martinez Lapena-Torres Arquitectos, com o Fórum Esplanada, para Barcelona. O italiano Piero Zanini foi distinguido por "Episódios"; o austríaco Gunther Domeng, por "Transformações"; o japonês Shuhei Endo, por "Superfícies"; e o escritório australiano PTW Architects Pty Ltd, por "Atmosferas". O prémio "Auditórios" coube à firma Plot (Julien De Smedt e Bjarke Ingels), de origem dinamarquesa e belga, pelo projecto para o Concert Hall Stavangez, na Noruega.A Bienal de Arquitectura de Veneza divide-se em dois espaços: o Arsenal (onde está patente "Metamorph" e a representação portuguesa "Metaflux" - ver PÚBLICO de ontem) e no Giardini, que abriga a maioria dos pavilhões nacionais, designadamente o italiano, onde o premiado Peter Eisenman foi responsável pela montagem de uma das salas com o título "Diagrams".No conjunto da Bienal, percebe-se que, por um lado, preocupações sociais e éticas levam a uma quase negação da Arquitectura - caso exemplar do premiado pavilhão belga; e, por outro, que as possibilidades tecnológicas permitem transformar o projecto de Arquitectura num lugar de exuberantes formas e sinaléticas. Em Veneza, a Arquitectura entra claramente no domínio da arte, ou no da sociologia, desaparecendo.Recuperando o "tema-slogan" da edição de 2000 - "Mais ética, menos estética" -, dir-se-ia que estes dois princípios tendem, em 2004, a afastarem-se e a radicalizarem-se: cada vez mais, a ética obriga à exclusividade do olhar social e antropológico e, no sentido oposto, cada vez mais as exigências estéticas tendem a transformar a forma no principal conteúdo da Arquitectura.

Sugerir correcção