Jardim Botânico será o "coração" do futuro corredor verde de Coimbra

O que têm em comum o Jardim Botânico de Coimbra e o "Jardin des Plantes" de Paris? Quase tudo. A amizade entre Avelar Brotero e Lamarck, respectivamente mentores dos jardins de Coimbra e de Paris, fez com que fosse transportado para Coimbra um conjunto de ideias que torna os dois espaços semelhantes. Desde as chamadas "Escolas" - os canteiros de plantas devidamente assinalados -, passando pelos gradeamentos e pelas alamedas (em Coimbra, é a das Tílias; em Paris, é a dos Plátanos), e até pelas estátuas de Lamarck e Brotero, que surgem sentados como que a vigiar os jardins, tudo é parecido.O que têm em comum o Jardim Botânico de Coimbra e o "Jardin des Plantes" de Paris? Muito pouco, se vistos à lupa. Em Paris, o verde é mais verde, as plantas são mais coloridas, a "Aula" - anfiteatro onde decorriam lições - ainda existe, o número de visitantes é substancialmente maior e a ligação com o Museu de História Natural é completa. Em Coimbra, os nove hectares de mata estão ali, no centro da cidade, tão perto de todos e, ao mesmo tempo, tão fechados e tão fora do alcance.Mas é precisamente abrir o Jardim Botânico à cidade o principal objectivo que o projecto Link se propõe alcançar. Abri-lo e como que prolongá-lo até à margem esquerda do Mondego, criando um corredor verde composto por percursos cujo "coração" será sempre o Botânico. "Em Coimbra, a ligação deveria ser altamente promovida e o jardim é um ponto de estudo fundamental", começa por afirmar a presidente da Associação Portuguesa de Jardins e Sítios Históricos (APJSH), Cristina Castel-Branco, um dos membros da comissão de acompanhamento do projecto criada a 9 de Junho (ver caixa)."São orientações e não soluções imediatas", apressa-se, contudo, a ressalvar. "Para abrir o Botânico ao público são precisas preparações", adianta Cristina Castel-Branco, que, da lista das intervenções que podem vir a ser realizadas, salienta a necessidade de criação de equipas de porteiros e guardas, de monitores para acompanhamento das escolas na mata e de jardineiros especializados para todos os núcleos abrangidos pelo projecto: Botânico, Parque Verde e Choupalinho (espaços resultantes do Programa Polis), Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Portugal dos Pequenitos e Quinta das Lágrimas.Mas porquê criar este corredor verde? "Pelo facto de os dois pólos de atracção turística da cidade serem a Universidade de Coimbra [UC] e o Portugal dos Pequenitos [na margem esquerda]", explica, por seu lado, o reitor Seabra Santos, que defende a necessidade de descobrir formas de as pessoas se deslocarem de um lado para o outro. Ou seja, permitir a quem está na UC passar pelo Jardim Botânico, pelos espaços do Polis, por Santa Clara e pela Quinta das Lágrimas. Ou vice-versa. As intenções, para já, não passam disso mesmo. "É prematuro adiantar prazos. Nem daqui a dois meses [a entrega do primeiro relatório está prevista para Setembro] estas soluções estarão definidas", acrescenta Seabra Santos.A ideia é ambiciosa. Para além da criação de um conjunto de infra-estruturas, o projecto Link tem que ultrapassar as dificuldades impostas pela diferença de cota entre as zonas alta e baixa da cidade. "Aqui, a Câmara de Coimbra tem que ser chamada a toda a força", afirma Cristina Castel-Branco.O bastonário da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice - proprietário da Quinta das Lágrimas - é responsável por determinar que forma de articulação institucional (associação, fundação, por exemplo) pode possibilitar a candidatura do projecto a apoios financeiros.(caixa)Quem pertence ao projecto LinkFormalmente apresentado a 9 de Junho, o projecto Link engloba duas comissões com objectivos diferentes mas um fim comum. Uma, composta por Seabra Santos, pela directora do departamento de Botânica da UC, Helena Freitas, pelo arquitecto Gonçalo Byrne, por Cristina Castel-Branco e pelo pró-reitor Raimundo Mendes da Silva, é responsável pela criação de um Plano Director para o Jardim Botânico. A outra, incumbida de definir a estratégia de extensão da intervenção aos outros espaços verdes existentes em Coimbra, reúne a APJSH, João Rebelo, da Câmara Municipal de Coimbra, Camilo Cortesão e João Nunes, do Programa Polis, Carlos Beja, da Fundação Bissaya Barreto (de quem depende o Portugal dos Pequenitos), José Miguel Júdice, da Quinta das Lágrimas, e Victor Walker, da American Society of Landscape Architecture. ALBCx2O que fazer ao Botânico de Coimbra?Para que os nove hectares de mata que compõem o Jardim Botânico de Coimbra sejam abertos à população, o projecto Link - que estuda formas de ligar aquele espaço à margem esquerda do Mondego - prevê a criação de várias infra-estruturas e a recuperação das já existentes. Desde logo, a da colecção botânica, criando uma espécie de mostruário, e a dos elementos mais antigos, como os bancos, as namoradeiras ou o gradeamento. As propostas do projecto Link passam ainda pela colocação, na mata, de elementos que remetam para o conhecimento científico (como Ciência Viva); a preparação de um espaço ao ar livre para eventos; a identificação de locais para instalar a recepção, sanitários, "gift-shops" e uma cafetaria; a criação de um secretariado de organização e de divulgação ambiental; a promoção do atravessamento do jardim a partir do portão de baixo; e a colocação, no Botânico, de meios de transporte eléctricos, como trotinetes e carrinhos eléctricos. ALB

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