Parque da Bela Vista reabriu,mas ainda com muito entulho

O Parque da Bela Vista reabriu anteontem, como prometido, e logo de manhã já lá se podiam ver várias pessoas, algumas a correr, aproveitando o fresco, outras a jogar cartas e outras ainda simplesmente a ler o jornal, debaixo da sombra dos pinheiros. Se o panorama que se vê a partir da entrada principal parece já praticamente limpo das estruturas do Rock in Rio - com as encostas outrora verdes agora rapadas, até que no próximo ano a relva volte a crescer -, já para quem percorra os vários caminhos da Bela Vista o que por enquanto se depara é um grande parque de entulhos, pontuado por alguns "oásis": o Parque das Merendas e as zonas de arvoredo, onde há bancos para tirar partido da sombra."Isto agora está feio e só se vai pôr bonito quando vier o Inverno. Aí, então, a relva vai rebentar e isto vai pôr-se verde outra vez", dizia ontem Francisco Nabais, um antigo jardineiro da câmara, agora já reformado e frequentador habitual do parque. "Mas isto já ficou muito diferente. Abriram aí umas ruas alcatroadas que não existiam. E de benefícios do Rock in Rio, o que eu vejo são as bocas-de-incêndio e os postes de iluminação", acrescentava o homem.Salientando conhecer bem o local, Francisco Nabais lamentava que para se fazer o festival tivessem dado cabo do sistema de rega automática que ali fora instalado."Isto tinha um sistema de rega automática, que já não estava a ser usado porque a câmara achava que saia muito caro, mas com as obras do Rock in Rio arrancaram os canos e destroçaram tudo. Foi pena, porque a rega automática, quando a puseram aqui, ainda custou uns milhares de contos à câmara", acrescentava o antigo "mestre" jardineiro, que trabalhou para a autarquia durante 37 anos."Ainda há muita coisa para remover"Francisco Nabais era uma das pessoas a quem já fazia falta o parque. "Venho aqui apanhar ar e andar um bocado. E às vezes jogar cartas aí com os velhotes e isto já me fazia falta. Abriram quarta-feira, mas já há oito dias que deixavam as pessoas entrar, da parte da tarde. O que não havia era água para as pessoas beberem, só ontem é que as bicas passaram a funcionar. Mas ainda aí há muita coisa para remover."E de facto, percorrendo os caminhos para um e outro lado da entrada principal, encontravam-se nalguns casos estruturas desmontadas à espera de serem levadas e noutros estruturas ainda por desmontar. Muita madeira empilhada e muito ferro espalhado pelo chão.Nos trabalhos de desmontagem, que estão a ser executados pela Rebel e pela empresa Silvestre, não se viam ontem muitas pessoas envolvidas. Dois aqui, dois acolá, uma carrinha a acelerar por um dos caminhos, um camião TIR lá em baixo, à espera de ser carregado, mas não se pode dizer que houvesse grande azáfama."No final desta semana, isto já vai estar tudo limpo", dizia um funcionário de uma daquelas empresas.Lá no alto, junto ao miradouro e à chamada zona das piscinas, a confusão de materiais acumulados reinava. Mais adiante, dois trabalhadores empilhavam as madeiras de um palco e não longe uma caixa de electricidade tombada no chão e com os fios à vista fazia temer perigos vários, sobretudo para as crianças que frequentam o parque.Da relva nem sinais, porque obviamente desapareceu, espezinhada por muitos milhares de pessoas - chegaram a ser cem mil no último dia do Rock in Rio. O contraste - entre o castanho terra e o verde - está à vista, para quem do alto da Bela Vista olhe para o troço do parque que foi destacado e transformado num clube de golfe.A relva, porém, rebentará de novo - basta que a semeiem e a reguem, como observava o velho jardineiro. Já os caminhos, que eram pontuados a pedra, dificilmente recuperarão dos danos causados pela passagem de camiões.E ainda não será para já que a Bela Vista vai retomar o seu aspecto e o silêncio que antes tanto prezava o ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues, para quem a vocação daquele parque era "ser apenas isso, um parque".Novas festas se avizinham em Agosto (ver caixa) e "em Setembro serão retomadas as obras de renovação do parque", disse fonte camarária, que não soube explicitar que tipo de renovação irá ser feita.

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