Maioria dos acidentes domésticos causada por quedas

Mais de metade dos acidentes domésticos e de lazer ocorrem em casa e 60 por cento devem-se a quedas, segundo dados recolhidos em 19 unidades de saúde pelo sistema de vigilância do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), durante 2003. Os dados pertencem ao projecto Acidentes Domésticos e de Lazer - Informação Adequada (ADELIA) e confirmam uma tendência dos últimos 10 anos. As estatísticas de 2003 são tornadas públicas hoje, no primeiro dia da 7ª conferência mundial da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre prevenção de acidentes e promoção da segurança, em Viena. O projecto ADELIA, do INSA, recebe e faz tratamento estatístico dos casos que chegam a um conjunto de unidades de saúde resultantes de acidentes não intencionais nem auto-infligidos, e excluindo os sinistros rodoviários e os de trabalho. As restantes situações são classificadas como acidentes domésticos e de lazer. No ano passado, foram registados 38.882 casos em 11 hospitais e oito centros de saúde, um número bastante acima dos 20.925 registados em 2002. Esta diferença deve-se, sobretudo, ao registo mais frequente dos casos pelas unidades de saúde ligadas ao projecto que foi iniciado em 2001, explica o coordenador do ADELIA, Baltazar Nunes. Do total de acidentes verificados em 2003, 53,8 por cento ocorreram em casa e 11,9 por cento verificaram-se na escola e áreas institucionais. O terceiro lugar mais referido é um local onde se pratica desporto. Quanto às causas do acidente, a maioria (65,1 por cento) aponta a queda como motivo. Chocar ou ser atingido por um objecto foi referido por 14,3 por cento das vítimas e fazer um esforço exagerado (levantar peso, por exemplo) foi indicado por 2,9 por cento dos indivíduos. As actividades ligadas ao lazer aparecem como as mais apontadas (26 por cento em 2003) quando ocorreu o acidente. O trabalho doméstico é indicado por 13,6 por cento. Grande parte das actividades é, no entanto, desconhecida, dado que a opção "outras" é referenciada por 39,1 por cento das vítimas. "Muitas vezes a pessoa diz que se deslocava da cozinha para a sala e que não estava a fazer nada", afirma Baltazar Nunes. Em relação à distribuição por sexo e idade, os resultados apurados mostram que até ao grupo dos 45/64, a percentagem de homens que são vítimas de acidentes domésticos e de lazer é maior. Depois dos 65 anos, a maioria das situações acontecem às mulheres. Os números recolhidos em 2003 têm padrões idênticos aos de 2002 e, segundo Baltazar Nunes, não são muito diferentes dos recolhidos entre 1987 até 1999 pelo anterior sistema - o European Home and Leisure Accidents Surveillance System (ELHASS) - que dependia do Instituto do Consumidor. A informação recolhida pelo sistema ADELIA é uma amostra dos acidentes domésticos e de lazer, já que o total deste tipo de sinistro deve somar 750 mil casos em Portugal por ano. O cálculo baseia-se na percentagem de vítimas desta categoria de acidentes (11 por cento) que recorrem às urgências hospitalares em todo o país. Tratamento da informação lentoO ADELIA integra actualmente uma rede de 30 unidades de cuidados médicos, entre 10 hospitais (Castelo Branco, Faro, Lagos, Viseu, Vila Real, Coimbra, Lisboa, Elvas e Évora) e 20 centros de saúde. A missão do projecto é pôr de pé um sistema de monitorização dos acidentes domésticos e de lazer, com vista a apontar frequência e tendências neste tipo de sinistros ocorridos em Portugal. Apesar de ter começado a funcionar desde 2001, o ritmo do tratamento da informação recolhida e a sua disponibilização não é o desejável. Os dados de 2003 só são agora apresentados em parte, e a informação recolhida em 2004 ainda não foi alvo de tratamento estatístico. Baltazar Nunes reconhece que a celeridade poderia ser maior, mas apenas dispõe de uma equipa de três pessoas, incluindo o próprio coordenador. A Associação Portuguesa para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) é uma das organizações não governamentais que recorre ao ADELIA e que se tem debatido com a falta de informação recente em Portugal. "Não sabemos se a lei dos parques infantis está a ter impacto", exemplifica Helena Cardoso de Menezes, presidente da APSI. O antigo sistema, o ELHASS, permitia ver tendências no tipo de acidente, acrescenta. A conferência mundial da OMS sobre prevenção de acidentes espera, nos próximos quatro dias, mais de 1500 especialistas que irão trocar experiências e conhecimentos sobre sinistros, violência, suicídio e desastres.

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