Sete "sábios" procuram novo Governo para o Haiti

Um Conselho de sete personalidades vai propor nos próximos dias ao Presidente interino do Haiti, o juiz Boniface Alexandre, um novo primeiro-ministro, para substituir Yvon Neptune, que fora nomeado há dois anos pelo chefe de Estado entretanto caído em desgraça, Jean-Bertrand Aristide.Os sete "sábios" são Lamartine Clermont (da Igreja Católica), Macdonald Jean (Igreja Episcopal), Daniele Magloire (Comissão dos Direitos Humanos), Christian Rousseau (Universidade), Anne-Marie Issa (sector privado), Ariel Henry (Convergência Democrática, da oposição) e Paul-Emile Simon (Partido Lavalas, de Aristide).Depois de sugerirem o nome do novo primeiro-ministro do mais pobre país das Américas, os conselheiros presidenciais deverão ajudá-lo a formar Governo, num processo que se poderá arrastar por oito dias, enquanto o Presidente que teve de renunciar ao cargo se encontra exilado na capital da República Centro-Africana, Bangui.Um porta-voz de Jean-Bertrand Aristide declarou ontem à CNN, a partir de Paris, que ele está impedido de atender telefonemas desde que disse àquela mesma estação televisiva que fora obrigado pelos Estados Unidos a deixar o país, num "golpe de estado moderno" que se poderia considerar um rapto.Aristide e a mulher, Mildred Trouillot, encontram-se numa residência oficial que é vigiada por militares, nomeadamente franceses, enquanto se determina quando é que poderão seguir para a África do Sul, conforme seria seu desejo."Não queremos que nos cause embaraços, pois já disse que é prisioneiro e acusou Washington de ter orquestrado a sua partida", contou o ministro centro-africano da Informação, Parfait M'Bay, ao explicar por que é que o visitante já não é autorizado a usar o telefone.O anfitrião, general François Bozizé, tomou o ano passado o poder num golpe de estado e não quer mais problemas para um país que tem apenas três milhões de habitantes e um nível de vida muito baixo. Mas parece que tão depressa não se conseguirá livrar do convidado indesejável, uma vez que Pretória não demonstra qualquer pressa em o receber; pelo menos enquanto não se concretizarem as eleições legislativas de 14 de Abril, que o ANC espera voltar a vencer.Segundo a AFP, só umas quantas pressões e a esperança de algum benefício financeiro é que teriam convencido a República Centro-Africana a desempenhar a missão "humanitária" de receber Aristide, que já nem a França nem os Estados Unidos queriam ver mais à frente dos destinos do Haiti.O ministério francês dos Negócios Estrangeiros considerou sexta-feira pouco apropriada a expressão "cumplicidade" que o antigo Presidente utilizara para se referir ao papel de Paris na sua partida de Port-au-Prince, que não teria sido precedida de uma "demissão formal, segundo as normas".Fuzileiros norte-americanos enviados para restaurar a ordem no território em convulsão entraram já nas cidades de Cap Haitien e Gonaives, tentando auxiliar a polícia local a desarmar os rebeldes, mas alguns deles resistem.A capital, Port-au-Prince, é que está muito mais calma do que há uma semana, mas o medo dos roubos permanece, bem como o temor de uma crise humanitária, por escassez de alimentos. E milhares de partidários do político afastado têm desfilado em frente à embaixada dos Estados Unidos, a fim de protestarem contra a "ocupação" do país e pedirem o regresso do antigo messias.Tropas fortemente armadas têm visto do alto daquela representação diplomática as multidões que apupam os fuzileiros norte-americanos e que chamam "terrorista" a George W. Bush, alegando que houve um conluio entre certos interesses locais e a comunidade internacional para lhes levarem um Presidente que era apreciado nos bairros mais miseráveis. O Presidente interino ainda nem sequer foi ratificado pelo poder legislativo, de que quase não há sinal desde o início do ano, pelo que o Haiti se depara com um vazio de poder, propenso a todas as aventuras.Apenas a presença de cerca de 2000 soldados dos Estados Unidos, França, Chile e Canadá ajuda a manter uma certa aparência de ordem, num território que quase sempre tem vivido mal, ao longo dos seus dois séculos de independência.

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