O "diabo" de vermelho

A pisadela em Vítor Baía é apenas a última entrada na longa lista de problemas disciplinares de Roy Keane durante a sua carreira. Quando Eric Cantona, em 1997, reformou a gola mais famosa do futebol, Alex Ferguson não teve dúvidas em fazer do irlandês o novo "capitão" do Manchester United. No entanto, além da qualidade e da braçadeira, Keane parece ter também herdado o volátil temperamento do francês, o mesmo que lhe valeu no Estádio do Dragão a 11ª expulsão da sua carreira. "É muito agressivo, perde as estribeiras facilmente e não tem problemas em dizer tudo o que sente e pensa", admite Dominic McGuinness, jornalista da rádio inglesa Talksport.Apenas dois anos após trocar o Nottingham Forest pelo Manchester no Verão de 1993 por uma verba recorde entre clubes ingleses (3,75 milhões de libras, cerca de 5,6 milhões de euros), já Keane estava envolvido num escândalo depois de ter sido expulso por pisar Gareth Southgate na meia-final da Taça numa altura em que o país inteiro apelava à calma devido à morte de um adepto do Crystal Palace. "Foram os meus dois minutos de loucura", desculpou-se, num momento de lucidez. Ainda assim, este antigo boxeur amador que é há vários anos "a batida do coração" do United mostrava qualidade mais do que suficiente para ser um fruto muito apetecido. "Comprem-no", disse um dia Maradona já na fase descendente da carreira. "Juntos jogamos bem". "Keano" aparentou mais serenidade durante uns tempos, mas voltou à carga nos últimas épocas. Primeiro, com a famosa expulsão da comitiva irlandesa que estava na Coreia para disputar o Mundial por um grave desentendimento com o seleccionador Mick McCarthy - escreveu um artigo num jornal irlandês a condenar a falta de organização desportiva e estrutural da sua selecção. Depois, com a edição de uma autobiografia em que confessava faltas deliberadas - incluindo a que acabou com a carreira do norueguês Alf-Inge Haaland -, alcoolismo e antipatia por alguns dos seus colegas de equipa, que, aliás, não tem problemas em criticar quando acha que isso beneficia a equipa. O Hulk de Old Trafforde o fantasma CantonaNo total, Keane perdeu já 30 encontros pelos "red devils" na Premier League inglesa devido a castigo, quase uma época inteira de jogos. Poderá não ser o noivo ideal para apresentar à família, é certo, mas é também o primeiro que os colegas de equipa querem a seu lado. "Antes de ser campeão europeu em 1999, o Manchester jogou a segunda 'mão' da meia-final em Turim com a Juventus e estava a perder 2-0. Keane viu um amarelo que o afastou automaticamente da final, mas, em vez de atirar a toalha ao chão, 'puxou' a equipa para a frente e galvanizou-a até à reviravolta", recordou McGuinness. Por isso, Roy Keane será sempre "um dos atletas mais impopulares da história do futebol", mas o mais amado pelo adeptos do clube que representa. "Adorado em Manchester, sim, mas só pelos adeptos do United, porque os do City odeiam-no". Bastava uma rápida olhadela a um qualquer stand não oficial dos que existem à volta de Old Trafford para confirmar a opinião: por seis libras pode levar para casa uma camisola com a cabeça de Keane no corpo do irado herói da BD Hulk com a inscrição "Mean, green, killing machine", qualquer coisa como "máquina má, verde e assassina". Esta época, de resto, quase tanto como a qualidade do Arsenal, um dos problema do Manchester United tem sido a sua folha disciplinar, nomeadamente o castigo de oito meses a Rio Ferdinand, que deixou a equipa com poucas soluções de qualidade para a defesa. De tal modo, que já se começam a fazer comparações com o ruinoso efeito que a ausência forçada de Eric Cantona em 1994/95. Quando já levava 12 golos em 21 jogos, o francês foi suspenso por pontapear um adepto do Crystal Palace e o acabou por não ganhar qualquer prova: o campeonato viajou para Blackburn, o Everton ganhou a Taça de Inglaterra e o Liverpool a Taça da Liga.Para Ferguson, os adeptos e a imprensa britânica é consensual a importância da baixa de Keane para os resultados europeus do Manchester, mas a estatística mais recente até contradiz a influência do irlandês. Nos 67 jogos da Liga dos Campeões que realizou desde que foi campeão continental em 1998/99 - a propósito, o nº 16 não jogou a final contra o Bayern... devido a suspensão -, o United apresenta um melhor registo com Keane do que sem ele. Durante essas quatro épocas e meia, o Manchester United jogou 21 jogos sem o seu irascível médio, dos quais ganhou 14, empatou quatro e perdeu três. O saldo desce nos 46 jogos em que Keane participou: 24v-10e-12d. Rio Ferdinand - Oito meses de suspensão a partir de Janeiro por ter faltado a um controlo anti-"doping"Gary Neville - Expulso na 5ª eliminatória Taça de Inglaterra contra o Manchester City. Quatro jogos de suspensão a partir do jogo de ontem com o Fulham. Paul Scholes - Acusado pela federação inglesa depois de alegadamente ter agredido Doriva (Middlesbrough). Deve enfrentar uma suspensão mínima de três jogos.Roy Keane - Expulso nos quartos-de-final da Liga dos Campeões contra o FC Porto. Um jogo de suspensão.

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