NATO antecipa em alguns meses novo alargamento ao Leste europeu

A NATO prepara-se para formalizar o seu novo alargamento ao Leste da Europa no início de Abril, alguns meses antes da planeada cimeira de Istambul que em princípio deveria acolher os novos Estados-membros, todos provenientes do ex-bloco soviético. A antecipação da expansão da Aliança coincidiu com um novo aviso proveniente de Moscovo, relacionado com a sua recusa em permitir o estacionamento de tropas ou equipamento militar dos aliados nos Estados do Báltico. Um porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, citado ontem pela Reuters, admitiu a realização em Abril de uma cerimónia em Bruxelas "a nível de ministros dos Negócios Estrangeiros", apesar de não acrescentar pormenores sobre este "acto oficial", como o designou.Os três Estados do Báltico (Estónia, Letónia e Lituânia), a Eslováquia, a Eslovénia, a Roménia e a Bulgária deveriam juntar-se à NATO no decurso de uma cerimónia formal prevista para Istambul em finais de Junho. No entanto, o reforço da aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos de 19 para 26 Estados-membros poderá assim ocorrer no dia 2 de Abril na sede do quartel-general Aliado, em Bruxelas. O mesmo responsável admitiu outra celebração para mais tarde, também destinada a assinalar o histórico alargamento. A primeira vaga de expansão da NATO em direcção ao Leste registou-se em Abril de 1999 com a adesão da Polónia, República Checa e Hungria, quando a Aliança estava empenhada nos ataques aéreos contra a ex-Jugoslávia (actual Estado da Sérvia-Montenegro), até então a principal operação militar desde a sua fundação em 1949. Com estas novas adesões a Aliança assegura finalmente a "ligação territorial" com a Turquia, o segundo exército da NATO e o Estado-membro posicionado mais a Leste. No âmbito da reestruturação estratégica em curso entre os aliados, os Estados Unidos parecem agora dispostos a concretizar a transferência de diversas bases na Europa Ocidental para alguns dos países que integravam o extinto Pacto de Varsóvia. Nesta perspectiva, os norte-americanos admitem uma significativa redução dos seus 70 mil efectivos ainda estacionados na Alemanha, um legado proveniente da Guerra Fria. Com a aproximação da nova expansão aliada, Moscovo voltou a reagir. Serguei Iastrzhembski, o enviado especial do Presidente Vladimir Putin para a política externa e que na passada sexta-feira visitou o quartel-general da NATO em Bruxelas, disse ao "Financial Times" que seria "muito negativo" se a Aliança "colocasse uma pegada, independentemente do seu tamanho" na Estónia, Letónia e Lituânia, países que fazem fronteira com a Rússia ou com o enclave russo de Kalininegrado. "A NATO deve ter em consideração as preocupações nacionais da política russa", sublinhou Iastrzhembski. "Percebemos uma pegada da NATO na Bulgária ou Roménia na forma de bases para a aviação no combate contra o terrorismo. É difícil entender a necessidade de acções anti-terroristas nos Estados do Báltico", concluiu. A posição do responsável russo parece reflectir, na perspectiva de diversos observadores, um endurecimento da política externa do Kremlin sobretudo em torno do Tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa (CFE), um pilar da segurança europeia. Este tratado, assinado inicialmente em Paris em 1990 e depois ratificado em Istambul em 1999, destina-se a estabelecer a paridade das forças e armamentos convencionais do Atlântico aos Urais tendo em consideração as "realidades do pós-Guerra Fria", mas ainda não foi ratificado por Moscovo. Numa recente conferência em Munique, e ainda segundo o "FT", o ministro da Defesa russo Serguei Ivanov referiu que Moscovo não pretende ratificar o tratado na sua forma presente, uma posição repetida por Iastrzhembski. Moscovo possui bases militares na Geórgia e na Transnístria, uma região da Moldávia controlada por nacionalistas russos e onde foi auto-proclamada uma república independentista. Diplomatas na NATO escutados pelo "FT" referiram que a Rússia está a tentar relacionar a adesão dos Estados do Báltico à NATO com as obrigações que o CFE lhe impõe no Cáucaso. Moscovo defende a integração dos Estados do Báltico no tratado CFE, que implicaria a imposição de limites sobre as armas convencionais e a movimentação da NATO nestes países, ao mesmo tempo que promete iniciar em breve discussões com a nova liderança da Geórgia sobre o encerramento das bases militares que ainda possui nesta ex-república soviética do Cáucaso do Norte.

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