Torne-se perito

Desfibrilhador não foi utilizado, mas a assistência foi adequada

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A assistência prestada Miklos Fehér foi rápida, adequada e dispôs de tudo o que de mais avançado existe do ponto de vista tecnológico. Esta é a conclusão dos diversos intervenientes na operação de socorro ao futebolista, que são igualmente unânimes ao admitir que o desfecho verificado era invitável, e que, de facto, o jogador era já cadáver quando foi transportado para o hospital de Guimarães. "Não é simpático nem pode ser assumido em termos de discurso oficial, mas a realidade é mesmo essa", disse ontem ao PÚBLICO um dos clínicos envolvidos na operação. Apesar do PÚBLICO ter confirmado que não chegou a ser usado o aparelho de desfibrilhação (reanimação através de choques eléctricos), a mesma fonte desvalorizou também qualquer eventual polémica em torno desta matéria, frisando que "foi feito tudo o que era adequado e com recurso à tecnologia mais avançada". Isso mesmo foi referido no comunicado conjunto emitido ainda na noite de domingo pelos médicos do Guimarães e do Benfica, respectivamente Salazar Coimbra e João Paulo Almeida, tendo este último esclarecido já ontem "que não foram usados meios técnicos de ressuscitação por decisão médica". Uma fonte da UCIC (Unidade de Cuidados Intensivos Cardíacos) do Hospital Nossa Senhora da Oliveira, confirmou ontem ao PÚBLICO que não foi, de facto, usado o desfibrilhador (ou desfibrilador, como também é designado o aparelho), dado não serem visíveis no corpo do jogador as marcas características da sua utilização. A mesma fonte explicou que, se tal tivesse ocorrido, as marcas seriam visíveis nas zonas onde devem ser aplicados os choques, ou seja "na ponta do coração, do lado esquerdo, e mais acima, junto ao ombro, no lado direito". E, embora a situação vivida no domingo à noite no estádio D. Afonso Henriques apontasse para um caso típico de recurso a esses aparelhos, o certo é que terão sido as circunstâncias a ditar que tal não tivesse acontecido. O jogador foi assistido num relvado encharcado e sob chuva intensa, o que fazia com que a descarga eléctrica se dissipasse, perdendo-se o seu efeito útil. Ao mesmo tempo, o contacto com a água poderia poderia provocar um choque sobre o utilizador do aparelho, colocando assim em perigo a sua própria vida. "É quase como meter um secador na banheira", sintetizou a mesma fonte. A solução foi a massagem cardíaca, que numa primeira fase resultou num breve efeito de "ressuscitação" - que o país constatou pelas reacções dos colegas de Fehér através das imagens televisivas. Uma vez na ambulância do INEM, a preocupação passou a ser a máquina de respiração artificial, já que estes veículos dispõem de todo o material de socorro tecnologicamente mais avançado. Segundo fonte hospitalar, Fehér entrou no hospital - que fica a escassas centenas de metros do estádio - "em coma" e manteve-se "sempre inconsciente", muito embora "tenha respondido, a pequenos espaços, sob o ponto de vista cardíaco". No entanto, "nunca houve resposta do ponto de vista neurológico", e as reações cardíacas terão sido "consequência dos medicamentos, que foram usados em doses máximas", frisou a mesma fonte. Duas horas antes teria sido o caosA assistência ao malogrado jogador do Benfica decorreu com a máxima eficácia e com recurso a sofisticada tecnologia, mas o curioso é que, se tudo tivesse acontecido cerca de duas horas antes, a situação seria completamente diferente. Próximo das 20h00, houve uma falha de energia na cidade, e o gerador de emergência que nestas situações deveria alimentar a UCIC não funcionou, deixando a unidade sem luz eléctrica. "Felizmente não tínhamos ninguém ligado à ventilação [respiração artificial], senão a falha teria sido fatal", disse ao PÚBLICO fonte do hospital, acrescentado que, mesmo assim, estavam ocupadas duas das quatro camas do serviço "com doentes que estavam a ser monotorizados". Também na unidade intermédia estavam ocupadas cinco das seis camas disponíveis, tendo a falha de energia gerado uma situação muito complicada, conforme terá sido descrito no relatório de ocorrência elaborado pelo pessoal de enfermagem. Ao que o PÚBLICO apurou, a situação foi mesmo discutida na manhã de ontem, durante o período de mudança de turno, com o pessoal clínico a chamar a atenção para os perigos de uma situação como esta, "que não deveria nunca acontecer". A tendência é para apontar o dedo à administração e à "falta de manutenção por causa da lógica de poupança dos hospitais SA", mas uma fonte da administração disse ao PÚBLICO que esta foi uma situação anormal. "O técnico de manutenção foi chamado em 15 minutos", sublinhou. Uma situação idêntica terá ocorrido há mais de um mês, mas, na ocasião, as baterias de que dispõem os próprios aparelhos clínicos terão sido suficientes para o abastecimento de energia durante o período em falta. Ontem, a falha eléctrica fez-se sentir durante quase meia hora, e os profissionais de saúde notam mesmo que "até os geradores do 'shopping' [que fica em frente ao hospital] foram accionados mais depressa".No Nossa Senhora da Oliveira existem dois geradores, que deveriam assegurar o fornecimento de energia aos serviços de neonatologia e de cuidados intensivos, cuja falha pode ter efeitos fatais. Tais aparelhos dispõem dum mecanismo que se acciona automaticamente em caso de necessidade, mas no domingo apenas terá funcionado o que serve o serviço de neonatologia. O outro terá chegado a arrancar, mas falhou logo de seguida.

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