ICAM aposta em parceria com a animação espanhola

O Instituto de Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM) vai apostar em criar parcerias, no domínio da animação, com a Espanha, e em particular com as regiões da Galiza e da Extremadura. O anúncio foi feito pelo presidente do Instituto, Elísio de Oliveira, num debate realizado na quinta-feira à noite, no âmbito do Cinanima, em Espinho.As "potencialidades artísticas" da animação portuguesa e a perspectiva de "obtenção de retornos económicos" em projectos com orçamentos até três milhões de euros - um exemplo é o sucesso europeu conseguido com "El Bosque Animado", uma longa-metragem produzida pela Dygra Filmes, na Corunha - justifica, notou o presidente do ICAM, esta relação privilegiada com os animadores do país vizinho. O diálogo com a Galiza está, aliás, já em curso, através de parcerias para a concretização de duas longas-metragens: "João Mata Sete", que será o primeiro filme de longa duração na animação portuguesa, e que está a ser produzido pelo Cineclube de Avanca, e "Sonho de Uma Noite de S. João", co-produção da Appia Filmes, de Espinho, com a citada Dygra Filmes.Em curso está já também a preparação de um 1º Encontro Luso-Galaico de Animação, que terá lugar a 16 e 17 de Janeiro, na Casa da Animação, no Porto, e cujo programa incluirá uma mostra de filmes e multimédia portugueses e galegos e a realização de conferências e debates.PsicodramaDescontada esta componente noticiosa e motivadora de algum optimismo, o debate de quinta-feira mostrou-se, como tem acontecido em anos anteriores, uma espécie de psicodrama colectivo dos agentes da animação portuguesa perante as dificuldades do sector. O tema proposto para debate era "A animação portuguesa e a televisão", e a ausência na mesa de representantes da SIC e da TVI, que não corresponderam ao convite do festival, limitou-se a espelhar a indiferença com que os canais privados tratam a animação nacional. Numa sessão presidida por António Gaio, director do Cinanima, e moderada pelo jornalista António Melo, e depois da intervenção de Elísio de Oliveira, coube à responsável pelo Departamento de Programas Infantis e Juvenis da RTP, Teresa Paixão, dar testemunho da relação que o canal público tem com a animação. E fê-lo sem iludir a realidade: na RTP, as curtas-metragens portuguesas são encaradas como "um presente para os dias festivos", como o Natal e a Páscoa. Tal significa que elas estão arredadas da programação normal, assegurada pelas séries estrangeiras, e principalmente do "prime time". "Mesmo um filme vencedor do Óscar seria exibido à tarde", notou a responsável da RTP. Na assistência, Humberto Santana, da Associação Portuguesa dos Produtores de Animação (APPA), depois de referir a escassez de recursos e a falta de escolas de formação, lamentou a dessintonia entre o ICAM, que apoia a produção das curtas-metragens, e a RTP - que também as apoia, na sequência de um protocolo assinado com o Instituto -, daí resultando a falta de garantia de exibição dos filmes na televisão pública. "Falta sintonia entre o financiamento, a produção e a exibição", sintetizou o responsável da APPA, dizendo que tal requer "vontade política".Antes, o escritor Rui Zink tinha criticado "a relação desequilibrada, mesmo selvagem", que existe entre as televisões portuguesas e os criadores, que são sempre tratados como "amadores" e a quem é normalmente pedido que trabalhem de graça - Teresa Paixão responderia que a RTP sempre pagou os trabalhos que pediu na área da animação.Também na plateia estava o ex-presidente do ICAM, Pedro Behran da Costa, que acusou a gestão do seu sucessor de "falta de credibilidade", citando, a propósito, o erro no anúncio do concurso público de apoio à animação, o episódio, ocorrido na semana passada no Maputo (ver PÚBLICO de 9/11), do adiamento da assinatura de um protocolo entre o Instituto português e o seu congénere moçambicano para a co-produção entre os dois países, e a indefinição da legislação quanto aos apoios serem dirigidos ao cinema ou ao audiovisual - quer dizer: à televisão. Críticas que Elísio de Oliveira, manifestamente irritado, rebateu dizendo não admitir que "mexam com a credibilidade das instituições"."Se nos zangarmos, é óptimo", comentava na sala o realizador João Botelho (presidente do júri internacional do Cinanima), que chamou a atenção para o facto de os canais de televisão fugirem ao pagamento da taxa de publicidade (actualmente de 3,2 por cento), "escondendo-se no subterfúgio dos patrocínios". Depois de destacar a importância da animação, como o cinema português em geral, enquanto expressão criativa e não apenas um produto para preencher os buracos da programação das televisões, Botelho perguntou: "Por que é que as pessoas não gostam de ser portugueses?"Já no final, o realizador Rui Gonçalves lançou um desafio: que os animadores tenham as mesmas condições - os mesmos concursos - que os cineastas da imagem real para fazerem longas-metragens.

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