Conheça os insectos que nos destróem os livros (e aprenda a exterminá-los)

Entre as mais de 950 mil espécies de insectos que existem, pelo menos 70 vivem nos arquivos, bibliotecas e museus, alimentando-se de papel, cola, pergaminho, cabedal ou tecido e madeira das encadernações. A ameaça que estes insectos - os bibliófagos - representam para os livros, manuscritos, fotografias e mapas está na base de uma exposição que hoje se inaugura no Arquivo Municipal de Lagoa, no Algarve."Queríamos chamar a atenção para a importância de combater os insectos bibliófagos, que são muitas vezes os responsáveis pela destruição de parte importante do nosso espólio cultural", disse ao PÚBLICO Bárbara Ribeiro, 36 anos, técnica superior do Arquivo de Lagoa e responsável pela mostra.Inventariar as principais características, preferências alimentares e "habitats" dos vários bibliófagos, para quem os arquivos são um armazém de celulose, amido e proteínas - os seus alimentos preferidos -, é o objectivo da exposição. "Quanto mais soubermos sobre estes bichinhos, mais facilmente e rapidamente os podemos identificar e eliminar". Para além de "placards" com imagens e informações sobre os insectos, os visitantes poderão observar diversos exemplares através de uma lupa binocular ligada a um computador e aceder a um programa informático sobre a salvaguarda do património documental.Entre os vários bibliófagos expostos estão baratas, térmitas, traças, peixinhos-da-prata e carunchos. Ao todo são cerca de 20 espécies de insectos, recolhidos no Arquivo Municipal de Lagoa e cedidos pelo Museu Zoológico da Universidade de Coimbra e pelo Instituto Português de Conservação e Restauro.Mas nem só de insectos vive a exposição - vários livros comidos também estão na mostra, permitindo ao visitantes testemunhar os danos causados pelas distintas espécies. Embora esta iniciativa seja pioneira, trata de um problema que desde sempre tem preocupado arquivos, bibliotecas e museus. Em 1920, a Biblioteca Nacional chegou mesmo a vender algumas toneladas de papel inutilizado, proveniente dos livros destruídos por bibliófagos, que na altura renderam 6500 escudos. No mesmo ano, o Convento de São Francisco, em Beja, inaugurou uma exposição com livros e manuscritos destruídos por insectos. O objectivo era alertar o Estado para a calamitosa situação em que se encontrava o seu espólio devido às más condições do edifício.Como exterminar os bibliófagos?Galerias sinuosas, pequenos orifícios circulares, largas cavidades, presença de ovos ou larvas e pequenos montes de serrim, excrementos ou matérias orgânicas segregadas são os principais indícios da presença destes insectos. Mas o uso de produtos químicos para os combater em espaços fechados, como arquivos e bibliotecas, "deve ser evitado", alerta Bárbara Ribeiro: "Os insecticidas libertam substâncias tóxicas nocivas para a documentação." O congelamento controlado e a remoção do oxigénio, normalmente substituído por nitrogénio, fazem parte dos "métodos de desinfestação mais promissores e que mais recentemente se difundiram". O Museu Zoológico da Universidade de Coimbra, por exemplo, "recorre a equipas especializadas e faz cerca de seis desinfestações por ano", diz Maria Pratas do Vale, 55 anos, coordenadora do museu. Contudo, a melhor política de controlo de infestações é a criação de condições que não sejam propícias aos insectos. "É preciso investir na preservação e conservação dos arquivos, o que passa por tirar os documentos dos sotãos e caves", diz Bárbara Ribeiro. Isolamento de possíveis rotas de entrada, detecção de infiltrações ou zonas húmidas, ventilação, remoção de restos alimentares e colocação de armadilhas são outras das medidas preventivas.Esta foi a aposta da Biblioteca Central de Gambelas, no Algarve, que abriu há dois anos e que, além de ter investido em caves com desumidificação e em estantes metalizadas para evitar a propagação dos insectos, tem também instalações preparadas para o tratamento de documentos infestados. "Mas como ainda não houve problemas de contaminação, essas instalações ainda não foram inauguradas", diz Maria João Barradas, 46 anos, bibliotecária da Universidade do Algarve e membro da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas.Em paralelo à exposição, que termina a 12 de Dezembro, vai ser organizada a 3 de Outubro uma conferência dirigida a técnicos de arquivos, bibliotecas e museus, com abertura ao público. Está também prevista a realização de um "workshop" para alunos de escolas secundárias da zona, em data a confirmar.Insectos bibliófagosLAGOA Arquivo Municipal de Lagoa. Lg. dos Combatentes da Grande Guerra. Tel.: 282340127. De 2ª a 6ª, das 10h15 às 12h15 e das 14h45 às 18h30. Até 12 de Dezembro. Entrada livre.

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