Lagoas ácidas da mina de S.Domingos procuradas para curar doenças

José Vilão, reformado da Polícia de Segurança Pública e natural da Mina de S. Domingos, mas a residir em Lisboa, sobe uma barreira que dá acesso à Lagoa da Achada do Gamo, onde vai encher garrafões de água sulfurosa. "Sempre que me falta esta água em casa venho logo buscá-la", explica, convencido dos seus efeitos benéficos para a saúde. Acabado de se banhar na lagoa que recebe as escorrências das escórias da antiga mina de cobre, cuja exploração encerrou nos anos 60, o antigo polícia tira o chapéu e sacode o cabelo encharcado: "Como vê... está cá todo". Se não o molhasse naquela água, afirma, "já estava careca". As propriedades curativas, garante, estendem-se às pernas das mulheres que apresentem varizes e outras mazelas. "Se as mergulharem na lagoa é remédio santo. Ficam com umas pernas lindas".José Vilão estava acompanhado por um vizinho e por um filho, um jovem de 14 anos. Ambos tinham experimentado as qualidades curativas das águas ácidas, alegando que "fazem bem à pele porque têm muito enxofre".Enquanto a conversa decorria, duas mulheres e um homem desciam em direcção à Achada do Gamo para se meterem dentro de água. "Como vê, há muita gente a acreditar que estas lagoas curam mesmo", diz o antigo guarda. Em Lisboa deixou um irmão que sofre do fígado e "só está vivo porque é tratado com a água de S. Domingos". "E quando tem crises bebe um golo e fica logo aliviado", afiança sem pestanejar.De acordo com as análises já realizadas às águas ácidas da mina de S. Domingos verifica-se que o deu Ph é de 2,4 quando a água deve ter um Ph neutro, ou seja, de 7. O que significa que nem os coliformes fecais sobrevivem num ambiente tão agressivo. Mas as pessoas continuam a chegar de todo o país "à pergunta das águas santas", diz uma residente em S. Domingos. A câmara de Mértola tentou obstar o acesso às lagoas, colocando painéis advertindo para o perigo da sua utilização. De nada valeu. Rapidamente foram arrancadas e destruídos. O vereador da câmara de Mértola, Jorge Rosa diz que autarquia "pouco mais pode fazer que colocar as placas e pedir à GNR que vigie o local". A solução só virá de for vedado o acesso às águas ácidas. Mas o autarca desconhece as razões que estão a atrasar a recuperação ambiental e a instalação de sistemas de segurança, prometida pelo Governo para o primeiro semestre de 2003, ainda não foi iniciada, nem se sabe quando será.As intervenções na mina de S. Domingos incidem sobre os coroamentos (os paredões de terra) das quatro barragens que forneciam água à mina quando esta estava em exploração. Outro dos objectivos é afastar dos locais onde estão depositados milhões de toneladas de escória contaminada a rede hidrográfica que atravessa o couto mineiro, para reduzir as águas ácidas e a contaminação dos terrenos a jusante.Instado pelo PÚBLICO a justificar as causas do atraso, Gaspar Nero, administrador da Exmin, a empresa que vai recuperar uma centena de minas portuguesas, diz que estão "só à espera que os organismos ligados ao ministério do Ambiente dêem o aval para começar". Os trabalhos estavam programados para arrancar durante o primeiro semestre de 2003 e a empresa diz que enviou o respectivo projecto para a comissão de acompanhamento que respondeu passados seis meses com uma nota. "O projecto continua em apreciação", lamenta Gaspar Nero.Os milhões de toneladas de resíduos depositadas ao longo de um século no couto mineiro de S. Domingos e que têm contaminado as águas, podem vir a ser aproveitados para pavimentar as estradas do concelho de Mértola. A autarquia já estabeleceu um protocolo com o Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (INETI) para se proceder ao levantamento topográfico do couto mineiro, recolher amostras das escórias e avaliar a possibilidade de as libertar das substâncias contaminadas."O objectivo é utilizar as escórias depois de inertizadas na pavimentação de estradas, depois do INETI ter demonstrado a viabilidade do projecto" salienta o vereador Jorge Rosa, frisando que os produtos perigosos "serão transportados para um local adequado". O protocolo prevê um investimento de 150 mil euros a efectuar durante dois anos.

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