Torne-se perito

Nigéria apadrinha regresso de Fradique de Menezes a São Tomé

Acompanhado pelo chefe de Estado da maior potência da África Ocidental, Fradique de Menezes chegou num avião das linhas aéreas nigerianas, apesar de vir de Libreville no Gabão. O avião que transportou os Presidentes são-tomense e nigeriano foi o terceiro da companhia da Nigéria a aterrar no aeroporto internacional de São Tomé, apinhado de militares. Um dos aparelhos trazia a guarda do Presidente Obasanjo, o outro responsáveis ministeriais e equipas de jornalistas da televisão, rádio e imprensa nigerianas. A forte presença da Nigéria foi interpretada como um importante apoio que o Presidente desta potência regional pretende dar a Fradique de Menezes num momento de contestação interna . O acordo assinado permitiu o regresso do Presidente, mas com algumas condições às quais o chefe de Estado são-tomense tem evitado dar resposta, como o respeito da Constituição, relativamente à limitação de poderes presidenciais, e a resolução dos problemas das Forças Armadas. A aplicação de uma Lei de Recursos Petrolíferos, num momento em que o Governo e a Presidência são acusados de falta de transparência na condução do dossier petróleo, são outras das cláusulas impostas pela Junta Militar. Quando, há uma semana, se colocou a hipótese de uma intervenção militar para repor a legalidade, foi para Abuja que as atenções se viraram. Analistas não hesitaram em associar, na altura, essa eventual disponibilidade da Nigéria - mesmo se no quadro da União Africana - aos interesses petrolíferos que este país tem no pequeno arquipélago lusófono. O interesse não resultará tanto da produção associada à exploração conjunta, uma vez que a Nigéria é já o primeiro produtor da África subsariana, mas sobretudo dos interesses de empresas nigerianas em contratos petrolíferos já estabelecidos com São Tomé. Os dois países ainda no ano passado tinham um diferendo relativo à partilha de um bloco na zona de exploração conjunta. São Tomé aproximou-se nessa altura da administração Bush, e não negou por completo a eventualidade de vir a construir-se uma base naval norte-americana no arquipélago. O Presidente são-tomense chegou a invocar ameaças externas, para a criação dessa base, referindo-se implicitamente a barcos nigerianos. Hoje, embora o diferendo entre os dois Estados tenha sido por completo ultrapassado, com a ratificação do Tratado de Exploração Conjunta, a empresa que conseguiu assinar com São Tomé alguns dos acordos mais prejudiciais de toda a África, é controlada por capitais de um empresário nigeriano, próximo do poder em Abuja. O à-vontade com que o Presidente da Nigéria e toda a sua comitiva demonstraram nesta manifestação de apoio a Fradique de Menezes, não passou despercebido aos são-tomenses. O tão aguardado momento foi acompanhado por dezenas de jornalistas, muitos deles nigerianos. Fradique de Menezes saiu do avião, seguido de Olusegun Obasanjo. Ambos foram recebidos pelo Presidente da Assembleia Nacional, Dionísio Dias, que assumiu a Presidência na ausência de Fradique de Menezes e foi uma das figuras presas no golpe. Funcionários da Presidência e colaboradores do Presidente são-tomense, um membro do seu partido, MDFM, Tomé Vera Cruz, a Presidente do Supremo Tribunal , e os embaixadores de Taiwan e da Nigéria, foram algumas das personalidades presentes na recepção aos dois chefes de Estado. A longa caravana que depois seguiu para o Palácio Presidencial era sobretudo composta por viaturas de altos responsáveis da Nigéria e um aparato especial da segurança de Obasanjo. Algumas pessoas saíram à rua para assistir à passagem dos vários carros ao longo da Marginal, com algumas palmas mas pouco entusiamo. A guarda do Presidente Fradique de Menezes, ausente desde o golpe de 16 de Julho, voltou a controlar o Palácio do Povo. Nesta que é a residência oficial do chefe de Estado são-tomense, foi Obasanjo e não Fradique de Menezes quem se dirigiu à imensa comitiva de jornalistas, para pedir que se retirassem. Sentados lado a lado, os dois ficaram reunidos com patentes militares da Nigéria e outros representantes vindos de Abuja, sem que houvesse as esperadas declarações à imprensa. A Nigéria integrou, desde o início, o grupo de países da mediação. Ontem, enquanto os representantes de Angola, do Gabão e do Congo-Brazzaville se deslocaram a Libreville para apresentar a Fradique de Menezes as propostas, entretanto negociadas, que levaram ao acordo assinado pelas partes, a Nigéria acertava com a Junta Militar, em São Tomé, o mesmo documento que viria a ser o Memorando de Entendimento. Esta última fase da mediação aconteceu na presença de uma delegação da África do Sul, que a pedido dos golpistas, participou para salvaguadar os interesses de alguns dos membros da Junta, que como elementos do ex-Batalhão "Búfalo", trabalharam para o Estado sul-africano.

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