Torne-se perito

Detidos 80 taliban no Sudeste do Afeganistão

A Força Internacional de Assistência e Segurança no Afeganistão (ISAF) acusou ontem o líder islamista Gulbuddin Hekmatyar de estar na origem do ataque da véspera contra o seu quartel-general, em Cabul. O ex-primeiro-ministro pode estar a financiar e a organizar os taliban, expulsos do poder em Dezembro de 2001, depois da intervenção americana no país que albergava Osama bin Laden. As autoridades locais anunciaram ontem a detenção de 80 taliban na mesma região onde os EUA lançaram - horas depois do arranque da guerra no Iraque - a maior campanha militar do último ano no país."Os taliban e a organização Al-Qaeda não têm já os meios para agir militarmente", defendeu, em declarações à AFP, o coronel Thomas Loeborring, porta-voz da ISAF. "Mas Hekmatyar tem dinheiro, influência, vontade política e poder para reorganizar os taliban. Pode mobilizar novos grupos para levar a cabo ataques terroristas do tipo deste", continuou, referindo-se ao atentado contra as instalações da força na capital. Hekmatyar, perseguido pelas forças americanas desde que chegaram ao país, é acusado por Washington de ligações a Osama.Recusando aceitar que a segurança em Cabul possa deteriorar-se significativamente devido à guerra no Iraque, Loeborring admite que este ataque é diferente dos anteriores. "É, apesar de tudo, a primeira vez que um 'rocket' atinge o seu alvo e toca as infra-estruturas da ISAF. Há uma diferença significativa com os incidentes precedentes, é um ataque muito mais sofisticado."Ontem voltaram a registar-se ataques pontuais com morteiros e "rockets" em bases dos EUA ao longo do Leste do país. As forças americanas ripostaram, pedindo apoio aéreo e atingindo um grupo de vários veículos suspeitos, matando pelo menos dois atacantes.Os ataques contra soldados dos EUA - quase 10.000 que continuam a tentar capturar líderes da Al-Qaeda e dos taliban - registam um aumento significativo nas últimas semanas, verificando-se na sua maioria na região onde decorre desde dia 20 a operação "Ataque Coragem", a mesma onde se sediava a base de poder do regime dos estudantes de teologia. Sábado, dois soldados foram mortos numa emboscada perto de Kandahar, a grande cidade do Sudeste do país, nas primeiras baixas americanas no país desde 2001. Para além de Kandahar, cidade capital de província, antigo bastião taliban e terra natal do seu líder espiritual, o "mullah" Mohammad Omar, estes ataques, quase sempre com morteiros e visando bases militares usadas pelos EUA, têm-se sucedido nas províncias de Ghazni, Gardez, Paktia, Paktika, Helmand, Nangahar e Jalalabad. Entre os 80 prisioneiros detidos desde nos últimos dois dias na região encontram-se "vários comandantes militares e altos responsáveis", incluindo o ex-ministro do Comércio, "mullah" Abdul Razzaq, o antigo vice-ministro da Educação, Shahid Khil, e um dos responsáveis pelos serviços secretos do regime taliban, Asadullah Sadozai. "Foram presos um pouco por toda a província, na cidade de Ghazni propriamente dita e em localidades rurais. Vindos do Paquistão, começam a reagrupar-se para desenvolverem acções hostis", explicou Asadullah Khaled, governador desta província. Khalid Pashtoon, porta-voz do Governo central, admitiu à Associated Press que as informações já obtidas nos interrogatórios a estes suspeitos indiciam um reagrupamento taliban numa zona vasta do país. Para já, este aumento da actividade militar e aparente ofensiva coordenada permanece limitado ao Sul e ao Sudeste. Alguns analistas lembram que é um fenómeno habitual no fim de cada Inverno. Mas, segundo disse sábado à BBC o "mullah" Dadullah, um comandante taliban, na primeira entrevista de um líder do regime desde o seu colapso, mais ataques contra os americanos no país vão acontecer e prosseguirão ao ritmo da guerra no Iraque.No dia em que arrancou a "Operação Liberdade Iraquiana", a ONU suspendeu as suas actividades "não essenciais" em todo o território afegão. Ao mesmo tempo, a ISAF anunciava o reforço em 20 por cento as suas patrulhas nocturnas e pedestres. Quinta-feira, um delegado do Comité Internacional da Cruz Vermelha foi morto, levando esta organização a suspender os movimentos do seu "staff" nos arredores de Cabul. Cartazes alegadamente escritos pelo "mullah" Omar apareceram, entretanto, em várias cidades do Leste. "Fomos culpados em nome de Osama porque eles diziam que ele era um terrorista e estava connosco. Qual é a culpa do Iraque? O Iraque não tem nenhum Osama bin Laden no país", diz um dos cartazes, assinado por 600 responsáveis islâmicos..

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