Torne-se perito

Telenovelas e Big Brother, a receita do sucesso

Foi com ficção portuguesa numa mão e com Big Brother na outra que José Eduardo Moniz conseguiu que muitos portugueses trocassem a SIC pela TVI. Sem esquecer a informação de cariz popular e a forte promoção, a qual explica em grande medida a a ascensão do canal. Para os observadores contactados pelo PÚBLICO, não foi um programa único a conseguir a proeza da liderança, mas sim o conjunto de uma estratégia. A viagem para ascender ao topo das audiências começou há três anos, quando as séries-telenovela faladas em português começaram a conquistar cada vez mais telespectadores e o pontapé de um concorrente do Big Brother fez disparar as audiências. Em 2000, a série Todo o Tempo do Mundo, com Eunice Munoz e Ruy de Carvalho, traçou um esboço do sucesso de audiências que as novelas seguintes viriam acentuar. Jardins Proibidos, a segunda série, chegou aos 18 por cento de audiência e quase 50 por cento de "share", números nunca antes vistos em produção portuguesa. E de 13 episódios iniciais previstos passou para 150 capítulos. Olhos de Água e Filha do Mar consagraram a popularidade das novelas portuguesas e Anjo Selvagem, uma criação estrangeira adaptada, está no ar há dois anos. Em Setembro de 2000, rodeado de muita polémica, estreou-se o "reality-show" que seria decisivo para a TVI - o Big Brother. Pouco mais de um mês depois do arranque, a agressão física de um concorrente a outra participante monopolizou as atenções dos portugueses e permitiu uma salto irreversível nas audiências do concurso. Alguns dos concorrentes - sobretudo o que venceu o "reality-show" - ganharam uma popularidade nacional estrondosa, de uma forma instantânea. O auge do Big Brother foi atingido na derradeira noite. À hora em que o "herói" Zé Maria foi consagrado como vencedor, quase 90 por cento dos telespectadores que viam televisão àquela hora sintonizaram a TVI. Miguel Gaspar, crítico de televisão de "O Independente", acredita que o Big Brother serviu para os telespectadores repararem que havia um novo canal, mas foi a novela portuguesa que fixou o público. "O Big Brother lança um projecto que a telenovela agarra e a informação consolida", resume. Quanto à promoção dos programas, essa, "era uma lição que vinha da SIC". O crítico de "O Independente" lembra que na informação o Jornal Nacional é o mais visto da concorrência e que, ao contrário do que se costuma dizer, não serviu para publicitar o "reality-show". "Quando o Big Brother vai para o Jornal [Nacional], é para promover o próprio jornal." Desde então o horário nobre passou a oferecer uma dupla imbatível: sucessivas doses de Big Brother e telenovela portuguesa. As séries faladas em português, originais ou adaptadas, foram conquistando a preferência dos telespectadores e destronaram a rainha novela brasileira. Um ano depois de a TVI ter aplicado esta estratégia, o canal chegou à liderança das audiências e ultrapassou a SIC pela primeira vez. Em 2000, o ano de viragem, a TVI começou com 18 por cento de audiência e acabou com 33 por cento. José Carlos Abrantes, vice-presidente do Centro de Investigação Media e Jornalismo, partilha da opinião de que o sucesso do canal não está dependente de um único factor. "Um dos elementos decisivos foi o Big Brother, um estilo de televisão que agrada a muita gente, o outro foi a ficção", defende o especialista. No campo das novelas, "a TVI compreendeu que era preciso investir na televisão falada em português nas horas de grande audiência". A forte promoção - a música das novelas servia como separador publicitário ao longo de toda a emissão - foi também uma peça-chave em toda a estratégia de criar o hábito de ver a TVI em vez da SIC.Sem querer personalizar em José Eduardo Moniz o sucesso do canal, Miguel Gaspar não deixa de salientar o mérito do director-geral enquanto profissional "com genica e com capacidade organizadora". "O José Eduardo Moniz tem o mérito de ter percebido para onde o público ia, tal como o [Emídio] Rangel percebeu isso em 1992/19993 na SIC." Também José Carlos Abrantes considera que o director-geral da TVI "tem uma liderança forte e percebeu como é que funciona esta sociedade portuguesa laxista".

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