Artistas Unidos assinalam três anos d'A Capital em sala emprestada

"Triste, cheio de raiva mas sem a angústia" de há umas semanas atrás: é este o estado de espírito de Jorge Silva Melo, o director dos Artistas Unidos (AU) que hoje comemorariam três anos n'A Capital, em Lisboa. A data é assinalada, na Associação Abril em Maio, em Lisboa, com a exibição, às 22h, de "A Capital", um documentário de Rui Ascensão realizado durante os últimos ensaios que decorreram no edifício do Bairro Alto ("Nunzio", de Spiro Scimone).Independentemente da continuidade do projecto, Jorge Silva Melo irá contracenar com Kati Outien, a actriz fétiche do realizador finlandês Aki Kaurismaki - que recebeu o prémio de melhor actriz no último Festival de Cannes por "Um Homem Sem Passado". Vai ser em "Descrição de um Quadro", de Heiner Müller, com encenação de Jean Jourdheuil e Mark Lammert, e a estreia está marcada para Junho, em Estugarda, na Alemanha. O espectáculo fará uma digressão europeia mas não está prevista a sua passagem por Portugal.A longo prazo, Silva Melo tem também o projecto de fazer um espectáculo musical a partir de "Verdes Anos", de Paulo Rocha - o filme fundador do cinema novo português - que contaria com a colaboração do escritor belga Arne Sierens, do TAF Theater. Mas, diz, neste momento "não sou um parceiro digno de crédito" para a companhia TAF Theater, colaboradora na produção de "Mouchette", de Sierens, um espectáculo que teve apenas dez representações na Voz do Operário, em Lisboa. "É um desperdício gastar-se dinheiro numa produção para depois fazerem-se dez espectáculos, tal como aconteceu com 'O Encarregado' ou como vai acontecer com 'Baal': estamos três meses a trabalhar para fazer apenas 19 espectáculos. Devíamos fazer, pelo menos, dois meses de carreira seguida", acrescenta o encenador, actor, realizador e escritor.Volvidos seis meses sobre o despejo d'A Capital - em finais de Agosto a Câmara Municipal de Lisboa (CML) emitiu uma ordem de evacuação devido a problemas estruturais no edifício -, os AUf+b f-bcontinuam sem saber se terão um espaço. O que os impede, diz Silva Melo, de dar garantias aos parceiros internacionais - justamente uma das grandes apostas da companhia que renovou a paisagem teatral lisboeta e acolheu as mais recentes dramaturgias contemporâneas europeias, trazendo muitas vezes a Portugal os seus autores.Instalados provisoriamente em Braço de Prata pela CML por tempo indefinido, sem que nenhuma data tenha sido avançada para a sua saída ou para o realojamento noutro local, os AU alugaram uma sala, no Convento do Beato, para ensaiar "Baal", de Brecht (estreia a 7 de Março, no Teatro Viriato, em Viseu), uma vez que o local não tinha condições para acolher os 22 actores que entram na peça. Fonte da CML afirmou que o pelouro da Cultura continua à procura de espaço para a companhia, apoiada pelo Instituto Português das Artes do Espectáculo (IPAE) com 90 mil contos anuais entre 2000 e 2004, mas nada foi ainda definido.A continuidade do projecto, diz Silva Melo, está dependente de uma reunião marcada para dia 30 com os elementos da companhia na qual se vai decidir uma das duas alternativas: a extinção da companhia ou a suspensão da actividade. Silva Melo admite suspender a actividade apenas se obtiver uma resposta positiva do Ministério da Cultura e da CML para a concretização do Centro de Artes da Capital (CAC) a instalar no edifício do Bairro Alto. O projecto, concebido pelo arquitecto Pedro Borges, previa a reestruturação do edifício (dois anos foi o tempo mínimo estimado para a conclusão das obras) e funcionaria como pólo aglutinador de várias artes. O anterior presidente da Câmara de Lisboa, João Soares, mostrou interesse no CAC, tal como os titulares da pasta da Cultura durante o governo PS e, segundo Silva Melo, também o actual autarca Pedro Santana Lopes, e o secretário de Estado da Cultura, José Amaral Lopes, consideraram o projecto interessante. Mas ainda não deram garantias sobre a sua concretização."Nunzio", de Spiro Scimone, um documentário de Rui Ascensão

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