Governo trabalhista sobrevive ao "Cheriegate"

A popularidade do Governo trabalhista saiu ilesa do escândalo que rodeou a mulher do primeiro-ministro britânico, Cherie Blair. O mesmo não pode ser dito da popularidade de Tony Blair que, pela primeira vez em dois anos, está a descer, revelou uma sondagem divulgada pelo jornal "Guardian" esta semana.Não têm sido tempos fáceis para Tony Blair. No fim de Novembro foi a greve dos bombeiros, que surgiu em simultâneo com o crescendo de ameaças terroristas em solo britânico. A crise parece pacificada: Blair não deu aos bombeiros os 40 por cento de aumento de ordenados que reivindicavam, ficou-se pelos 16 por cento, mas abriu portas a novas greves no sector público.Na questão de um possível ataque ao Iraque, a maioria não está com Tony Blair, 44 por cento opõem-se a uma guerra, mais três por cento do que no mês passado. Apesar de tudo, se as eleições fossem hoje o Parido Trabalhista continuava no poder. Pela primeira vez em quatro anos, os Conservadores atingiram a sua mais baixa taxa de popularidade, com 27 por cento de apoiantes, o que os aproxima cada vez mais do terceiro partido da oposição, os Liberais Democratas, com 23 por cento. Mas a popularidade de Blair regista, pela primeira vez em dois anos, uma descida, perdeu seis pontos percentuais desde Maio deste ano: 45 por cento dos inquiridos diz não estar satisfeito com a sua actuação como primeiro-ministro. A descida não é dramática, mas mostra que o escândalo que a imprensa baptizou como "Cheriegate" teve os seus efeitos. Tudo começou quando o "Daily Mail" revelou, a 1 de Dezembro, que a mulher do primeiro-ministro, uma advogada bem sucedida, usou como intermediário na compra de dois apartamentos em Bristol (onde o filho mais velho dos Blair está a estudar) Peter Foster, um homem com antecedentes criminais, que o ligam, por exemplo, a fraudes relacionadas com falsos produtos dietéticos. Os descontos nos apartamentos, com a ajuda do "intermediário", chegaram às 20 mil libras (cerca de 32 mil euros). O envolvimento de Foster é negado, não pela própria Cherie, mas usando como porta-voz o gabinete de comunicação de Downing Street.Afinal, o envolvimento de Foster é verdadeiro. Cherie terá mentido ao gabinete de imprensa do Governo. A partir daí, a mulher do primeiro-ministro tenta reduzir danos demarcando-se do marido e do Governo. Afirma ter sabido dos antecedentes de Peter Foster tarde demais, pela imprensa; recorreu a Foster por se tratar do namorado da sua grande amiga Caroline Caplin, uma ex-modelo de topless tornada sua conselheira de moda e de terapias alternativas.Mas esta é apenas a questão inicial. Cherie terá pedido informações sobre o nome do juiz que estava a tratar da deportação de Peter Foster, a pedido da amiga, e terá recebido uma cópia do seu processo judicial, aumentando suspeitas de que estaria a usar a sua influência como advogada e mulher do primeiro-ministro para impedir a deportação de um criminoso reincidente de origem australiana.Num discurso lacrimoso, há duas semanas, Cherie não aborda quaisquer uma destas questões mais polémicas, veste o papel de mãe e pede desculpa por não ser "a super-mulher". Entre lágrimas, afirma que apenas estava a tentar proteger o seu filho mais velho, Euan, para quem um dos apartamentos se destinava, da atenção dos media. O discurso de Cherie terá sossegado, por alguns tempos, a imprensa, mas não evitou danos na sua reputação. Depois de os Blair serem considerados a primeira família normal (um casal de classe média com quatro filhos) a habitar Downing Street desde há anos, o envolvimento de Cherie com uma guru "new age" e um charlatão fizeram estragos. Segundo a sondagem do "Guardian", cerca de 45 por cento dizem não ter ficado satisfeitos com as explicações de Cherie.

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