Vilarinho eleito presidente do Benfica há dois anos

Faz hoje dois anos que Manuel Vilarinho derrotou Vale e Azevedo nas eleições para os órgãos sociais do Benfica. Depois de um período de euforia, causado pela vitória histórica sobre Vale e Azevedo, o actual líder da direcção benfiquista, que assumiu o cargo a 31 de Outubro de 2000, foi perdendo visibilidade, aparecendo apenas em polémicas envolvendo o clube - dívidas ao fisco, "apoio" ao PSD e construção do novo Estádio da Luz - e o protagonismo desportivo para Luís Filipe Vieira.Contrariando as sondagens, os adeptos benfiquistas deram a presidência a Vilarinho ( com 62 por cento dos votos) e a vitória à TVI, num processo em que dois canais comerciais quebraram regras deontológicas, apoiando o candidato que lhes poderia dar os direitos televisivos. Perderam Vale e Azevedo e a SIC, que se gabara de vender com a mesma facilidade um Presidente da República e um sabonete, mas que nem um líder de um clube conseguiu eleger.Contudo, a euforia depressa deu lugar à preocupação. Os problemas apareceram em catadupa e o verdadeiro buraco financeiro do clube e da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) iam-se desvendando ao mesmo tempo que o Benfica rompia com a SIC, reconciliando-se com a Olivedesportos, e a gestão de Vale e Azevedo era visada em investigações da Polícia Judiciária.A nível desportivo, a estreia de Vilarinho também não correu da melhor forma. Prometera durante a campanha eleitoral a contratação de Jardel - o brasileiro foi para o outro lado da Segunda Circular - e afirmara que o seu treinador era Toni. O treinador benfiquista na altura, José Mourinho, venceu o Sporting e encostou a direcção "encarnada" à parede: a renovação do contrato ou a saída. A ruptura foi inevitável.Toni regressou ao clube como salvador, mas conseguiu apenas um sexto lugar na I Liga. Na temporada seguinte, Luís Filipe Vieira, então gestor do futebol, anunciou uma "equipa maravilha". Toni avisou para as deficiências no plantel, mas foi ele que deixou o cargo quando as derrotas se acumularam. Ao mesmo tempo, Vilarinho assistiu reforçar o poder a Vieira, renovando-lhe a confiança, apesar de não agradar a alguns sectores dos órgãos sociais o crescente protagonismo do gestor para o futebol e, por associação, do empresário José Veiga, que é hoje detentor da maior parte dos passes do plantel do clube.Jesualdo Ferreira foi promovido a treinador principal, mas o Benfica voltou a falhar a presença numa prova europeia. A resposta surgiu no início desta época, com várias contratações sonantes. A chegada de Nuno Gomes instalou a polémica, já que, ao mesmo tempo que contratava jogadores de renome, o Benfica recusava pagar juros de dívidas ao fisco, contraídas por Vale e Azevedo e entretanto pagas pela nova direcção.Apesar de ser João Malheiro, director de comunicação, que responde às intrigas no futebol, o presidente do Benfica, que já este ano vendeu boa parte das acções que detinha na Benfica, SAD (Vieira foi um dos compradores), acabou por se expor. As dívidas ao fisco acabaram por colocar a nu a inércia do Governo socialista e as relações polémicas com o PSD. Durante as eleições legislativas, Vilarinho provocou uma autêntica tempestade ao manifestar apoio a Durão Barroso, explicando posteriormente que se tratava de um apoio pessoal. O segundo acto desta polémica registou-se quando a ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite corroborou um parecer da administração tributária, aceitando as acções do Benfica, não cotadas na Bolsa de Lisboa, como garantia dos juros da dívida, entretanto paga. O facto de um dos antigos advogados do clube ter assumido o cargo de secretário de Estado dos Assuntos Fiscais ajudou a agudizar a confusão, agora em inquérito na Assembleia da República.Muitas dores de cabeça tem causado também a nova Luz, pois os acordos com a Câmara de Lisboa foram difíceis de obter, num processo que também causou muita polémica devido aos alegados acordos verbais entre o anterior presidente da autarquia, João Soares, e o Benfica. Há poucos dias, e antes de a UEFA efectuar nova inspecção ao recinto e de lhe serem apresentadas garantias financeiras, as obras pararam num espécie de braço-de-ferro entre clube e construtora.Mas se Vilarinho foi forçado a dar a cara nos vários problemas extra-desportivos, foi Luís Filipe Vieira quem apareceu nos momentos que mais empolgam os adeptos. O futebol está há muito tempo nas mãos do ex-presidente da SAD do Alverca, agora líder da SAD benfiquista, que foi apontado como arquitecto, ao lado de José Veiga, das várias contratações sonantes dos dois últimos anos: Simão, Zahovic, Nuno Gomes e Petit reforçaram um plantel que ontem somou o quarto jogo sem vencer. Vieira manteve-se em silêncio apenas no momento mais difícil: o despedimento de Toni.

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