Morreu o actor Richard Harris

O actor irlandês Richard Harris, de 72 anos, morreu anteontem num hospital de Londres, vítima de um cancro linfático. O funeral ainda não tem data marcada, mas a sua família já anunciou que o actor será cremado em Londres e que as suas cinzas serão depositadas nas Bahamas, onde Harris vivia antes de ser hospitalizado. Há cerca de dois meses, antes do seu internamento, o intérprete do Professor Albus Dumbledore, de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", conseguiu ainda terminar as filmagens do terceiro filme desta série, "Harry Potter e a Câmara dos Segredos". Em declarações à agência Reuters, David Heyman, produtor das películas de Potter, frisou que Harris "é insubstituível". "Podemos encontrar um novo Dumbledore, mas existe só um Richard Harris". Também o primeiro-ministro da Irlanda, Bertie Ahern, lamentou este perecimento, evocando o "artista extraordinário" que era Harris.Desde muito jovem que o actor irlandês aprendeu a viver com várias maleitas. Aos 19 anos, sofreu uma tuberculose que o impediu de integrar a equipa nacional de rugby - "Na verdade, ter tido tuberculose foi a sorte da minha vida", declarou um dia ao explicar a decisão de ser actor - e, anos mais tarde, teve de lidar com um grave problema de alcoolismo. Filho pródigo de Limerick, terra natal, sempre aludiu à literatura como uma das razões que o incitou para os palcos. "Se não tivesse lido tanto, hoje seria um agente de seguros", apontou, citado pela agência AFP. Leitor fanático de James Joyce, Samuel Beckett e William Yeats, seus compatriotas, Harris chegou a Londres, no início dos anos 50, com 23 anos e duas dezenas de livros no bolso. A representação era já uma prioridade e depressa ingressou na London Academy of Music and Dramatic Arts. Em 1956 estreia-se nos palcos londrinos e três anos depois debuta no filme "Live and Kicking". Entretanto, casa com Elizabeth Rees-Williams, filha do Lord Ogmore, com quem teve três filhos, mas apesar disso o casal acabou por divorciar-se. Ainda no decénio de 50 a sua carreira esteve muito limitada aos teatros de Londres, mas a oportunidade de participar no famoso filme "Os canhões de Navarone", em 1961, abriu-lhe o caminho para Hollywood. Em "This Sporting Life" (1962), Harris desempenha o protagonista e a sua interpretação é distinguida, no ano seguinte, com o prémio de melhor actor do Festival de Cannes. Seguiu-se uma fulgurante carreira cinematográfica que teve como pontos altos "Um Homem Chamado Cavalo", "O Conde de Monte Cristo", "Unforgiven" e "Gladiador". O estrondoso sucesso da peça "Camelot", na qual interpretava o papel de Rei Artur, tornou-o milionário e a sua afeição pela música (foi também cantor) concretizou-se com a canção "MacArthur Park", presente na tabela do Top 10 londrino durante muitos meses. Com uma filmografia de 70 filmes, duas nomeações para os Óscares e um nome reconhecido no cinema norte-americano - a par de Richard Burton, Charlton Heston ou Marlon Brando -, Harris teve, porém, uma vida bastante conturbada: dois casamentos falhados, duas vezes na bancarrota e muitas aventuras com o alcoól e com mulheres. "Bebo porque gosto absolutamente disso", declarou Harris, que passou de duas garrafas de vodka diárias para a total abstinência, em 1981, quando recebeu o ultimato de que viveria apenas mais 18 meses caso não estancasse a sua sofreguidão pelas bebidas alcoólicas. Apesar dos falhanços, o actor nunca se arrependeu do seu passado. "Quis sempre salvar cada minuto da minha vida. Tal como o fizeram Richard [Burton] e Peter [O'Toole]. Nunca tivemos uma ambição desdemida de fazer o melhor Hamlet ou o melhor Lear", sublinhou, concluíndo uma entrevista ontem citada pela Reuters com uma frase que bem poderia ser o seu próprio epitáfio: "Get laid, get pissed, move on".

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