Sudeste Asiático em estado de alerta total

O primeiro-ministro da Austrália, John Howard, de visita a Bali, onde um atentado no sábado matou quase 200 pessoas, grande parte delas australianas, avisou ontem que a situação na Indonésia é "infinitamente mais perigosa" do que alguma vez foi, aconselhando todos os ocidentais a abandonar o país. Jacarta tem desde ontem bases legais para enfrentar esta ameaça, depois de a Presidente Megawati Sukarnoputri ter assinado dois decretos de combate ao terrorismo.Afirmando não acreditar que os australianos possam ser alvos específicos de qualquer ameaça, Howard garantiu que as informações recolhidas pelo país indicam uma "grande probabilidade" de novos ataques terroristas no Sudeste Asiático "de conotação anti-ocidental". O primeiro-ministro referiu-se ainda ao aviso feito pelo director da CIA, George Tenet, que sublinhou a evidência de a Al-Qaeda ter passado a uma fase de "execução".Howard considerou o "padrão muito similar" a outros ataques atribuídos à organização de Osama bin Laden, pelo que se afirma convencido de que a Al-Qaeda está por detrás deste atentado, independentemente da colaboração de grupos locais. "O uso de explosivos capazes de grandes velocidades em lugares públicos e designados para infligir o máximo de danos na forma mais cruel possível", disse, descrevendo o alegado padrão. As autoridades tinham já concluído que os explosivos plásticos usados no ataque não foram fabricados no país.Quase 100 investigadores de sete países diferentes participam já nas investigações, coordenadas agora por uma delegação que reúne indonésios e australianos. Ontem não foram anunciadas novas detenções, sabendo-se apenas que quatro pessoas continuam a ser interrogadas.O líder da Jemaah Islamyah (JI), o principal elo da Al-Qaeda no Sudeste Asiático, que responsáveis de vários governos acreditam ter colaborado no atentado de Bali, foi entretanto hospitalizado. Abu Bakar Bachir, que nega as ligações a esta organização, não deverá por isso apresentar-se hoje na capital indonésia, onde foi intimido a depor.Vários países do Sudeste Asiático estão a caminho de colocar a JI nas suas listas de organizações terroristas, o que contribuiria para aumentar a pressão sobre a Indonésia. Há muito na posse de informações que ligam o grupo à Al-Qaeda e a atentados na região, o Governo Indonésio tinha até agora fechado os olhos à sua existência.Para provar a sua determinação em enfrentar o problema, Sukarnoputri assinou ontem dois decretos antiterroristas. A partir de hoje, a polícia poderá prender alguém durante três dias com base em informações dos serviços secretos e até um ano sem acusação. A legislação institui ainda uma unidade de contraterrorismo e prevê a pena capital para este tipo de crimes.Desde sábado que os países da região estavam em alerta. A Malásia e a Tailândia já tinham anunciado um aumento do patrulhamento em redor das embaixadas estrangeiras e junto a locais muito procurados por turistas. Ontem, o primeiro-ministro malaio admitiu que o país poderá ser alvo de ataques idênticos aos de Bali."Certamente, a Malásia poderá ser objecto de ataques similares aos de Bali ou a estes das Filipinas, mas tomámos todas as medidas de prevenção para eliminar esta possibilidade", afirmou de visita a Nova Deli, apelando aos seus cidadãos para não entrarem em pânico.O país refutou, por outro lado, alegações contidas contidas num relatório das Nações Unidas onde a própria coligação governamental é ligada à Al-Qaeda. O vice-primeiro-ministro, Abdullah Badawi considerou ontem estas referências "selvagens e irresponsáveis", pedindo que sejam retiradas do texto. Este responsável lembrou o apoio dado pelo seu Governo à luta contra o terrorismo, tendo prendido mais de 70 pessoas nos últimos meses, incluindo cinco homens já esta semana, suspeitos de pertencerem à JI. As ligações a Bin Laden traçadas no relatório passam ainda pela Frente de Libertação Islâmica Moro (MILF), grupo que luta pela implementação de um estado islâmico nas Filipinas.Na capital filipina, Manila, a explosão de uma bomba num autocarro matou ontem três pessoas e fez duas dezenas de feridos, um dia depois de dois atentados em Zamboanga, no Sul do país, terem causado sete mortos e 160 feridos. O pânico na capital começou horas antes deste novo ataque, quando uma granada explodiu na zona da cidade em que se concentram as instituições financeiras. Mais tarde, uma ameaça de bomba levou à evacuação de um edifício.A polícia lançou ontem uma caça ao homem para encontrar quatro suspeitos dos ataques em Zamboanga, cidade na ilha de Mindanao, onde se concentra a luta de várias guerrilhas separatistas. A Presidente Gloria Arroyo, que visitou o local, recusou confirmar se os quatro procurados são membros de algum dos grupos fundamentalistas islâmicos que operam no país, uma possibilidade avançada ontem por vários responsáveis policiais. Para além da MILF, o Abu Sayyaf e a JI local encontram-se entre os suspeitos.O aviso feito pelos australianos foi ontem repetido pelo Reino Unido e pelos EUA. Noruega, Bélgica, Dinamarca, Alemanha e Nova Zelândia também aconselharam os seus cidadãos manterem-se longe do maior país muçulmano do mundo.

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