Fábrica em Braço de Prata acolhe Artistas Unidos

Até finais de Dezembro, a Fábrica da Pólvora, em Braço de Prata, na zona oriental da cidade (próximo da Expo), vai acolher provisoriamente os escritórios dos Artistas Unidos (AU), da APA (Actores Produtores Associados), da Re.Al, da Eira e da Ilusom, as produtoras artísticas que foram despejadas por ordem camarária, há uma semana atrás, do edifício A Capital, ao Bairro Alto. Para além dos escritórios destas companhias, algumas áreas da fábrica reservarão também espaços para uma sala de ensaios e para o depósito de materiais cénicos. "O espírito d'A Capital poderá ser encontrado lá", afirmou ao PÚBLICO Jorge Silva Melo, director dos AU, sublinhando que a ocupação será feita no "mais breve prazo possível".O anúncio desta solução provisória foi divulgado ontem, ao princípio da noite, num comunicado emitido pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) e subscrito por Jorge Silva Melo, porta-voz dos restantes grupos sediados n'A Capital. A proposta de albergar os colectivos na fábrica em Braço de Prata partiu da câmara de Lisboa, nomeadamente da vereadora da Cultura, Maria Manuel Pinto Barbosa, e da vereadora do Urbanismo, Eduarda Napoleão, que ontem estiveram reunidas durante quase toda a tarde com Silva Melo. O consenso entre as duas partes foi alcançado depois de uma vistoria conjunta ao equipamento, que, segundo fonte do pelouro da Cultura, se encontra em bom estado de conservação. O comunicado da autarquia adianta ainda que ontem foi realizada uma vistoria ao edifício A Capital, "a pedido da CML", de forma a definir "as medidas necessárias para a consolidação e recuperação daquele espaço". Excluída da discussão de ontem parece ter ficado a estreia, prevista para hoje, da peça "Mouchette", de Arne Sierens, apesar dos esforços encetados pela equipa dos AU para encontrar uma sala. Silva Melo afirmou ao PÚBLICO que, provavelmente, "a temporada foi ao ar", já que não existe ainda um espaço que dê continuidade à programação dos AU. A necessidade de uma sala de teatro que permita a realização dos cinco espectáculos já programados é um dos assuntos que serão abordados hoje, a partir das 12h, no Ministério da Cultura, numa reunião que contará com as presenças do secretário de Estado da Cultura, José Amaral Lopes, de Jorge Silva Melo e das vereadoras da Cultura e do Urbanismo. Neste encontro serão ainda discutidas novas propostas de equipamentos que tenham as condições necessárias para receber os grupos no início do próximo ano. A situação das produtoras artísticas d' A Capital foi um dos assuntos em discussão na reunião camarária de ontem, na qual toda a vereação foi unânime quanto à urgente necessidade de procurar um espaço alternativo que albergue os criadores. Durante a sessão o executivo analisou a hipótese de restaurar o edifício A Capital e propôs a sua conversão num Centro de Artes, avançou ontem agência a Lusa. O projecto pretende que os Artistas Unidos regressem ao Bairro Alto, estando também previsto o acolhimento de outros grupos teatrais. Segundo a Lusa, o presidente da câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes, concorda com a atribuição de uma parte do imóvel à companhia, mas vai adiantando que a autarquia não pode privilegiar somente alguns colectivos: "Vou falar com a vereadora da Cultura para a atribuição de espaços para outros grupos. Tem de haver igualdade de direitos", afirmou Santana Lopes, relembrando a polémica que envolveu a passagem de um equipamento cultural na Praça de Espanha para as mãos do Teatro Aberto. A ideia de reconstruir A Capital e transformar o conjunto de três edifícios num Centro de Artes não é recente. A proposta tem vindo a ser discutida entre o pelouro da Cultura e os AU, grupo que sempre defendeu a existência de um espaço cultural naquela zona da cidade. "Tem todo o cabimento o Centro de Artes ser no Bairro Alto, porque vai atrair população mais jovem, fixar um público jovem e possibilitar a continuidade das actividades culturais", declarou à Lusa Maria Manuel Pinto Barbosa, vereadora da Cultura, acrescentando que os AU poderão retornar ao edifício "só quando as obras estiverem terminadas". Ao PÚBLICO, Jorge Silva Melo afirmou que existe por parte da câmara "uma vontade de trabalhar depressa" na reabilitação do edifício. De acordo com informações prestadas à Lusa, a autarquia irá brevemente adquirir o imóvel, uma vez que assim está previsto no protocolo firmado entre o anterior executivo e a Sojornal, proprietária dos prédios. O acordo afirma que a Sojornal deve vender o imóvel à câmara pela quantia de um milhão de euros (200 mil contos), recebendo em troca um lote de terreno em Chelas, uma zona onde a empresa pretende construir a nova sede do semanário "Expresso". A vereadora da Cultura apontou que "os 200 mil contos da Sojornal" poderão não ser investidos nas obras d'A Capital, não avançando, contudo, com a data prevista para o início da reconstrução. Entretanto, fonte dos AU assegurou ontem ao PÚBLICO que o espectáculo "A Colecção", de Harold Pinter, fará um prolongamento da sua carreira na sala de ensaios do Centro Cultural de Belém, uma vez que a autarquia lisboeta comprometeu-se a suportar os custos financeiros da peça a partir do dia (8 de Setembro) em que "A Colecção" iria ser transferida para A Capital. Assim, o espectáculo ficará em cena até dia 22.

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