Arguido do caso Daniel Pearl condenado à morte no Paquistão

Sheikh Omar, um militante islâmico de origem britânica, foi ontem condenado à morte por um tribunal especial paquistanês, que o considerou responsável pelo sequestro e assassinato do jornalista norte-americano Daniel Pearl. O seu advogado já garantiu que vai recorrer da sentença e acusa os juizes de terem cedido à pressão dos Estados Unidos.Omar ouviu a sentença juntamente com mais três arguidos, Salman Saqib, Fahad Naseem e Shaikh Adil, que foram condenados a prisão perpétua, o que geralmente significa 25 anos de detenção. Todos se deram como inocentes, apesar de Omar ter primeiro admitido, em Fevereiro, que participara no sequestro do repórter do "Wall Street Journal". Depois da sentença, o advogado de Omar leu uma carta escrita pelo seu cliente: "Veremos se quem me quer matar me vai matar ou se morre primeiro", ameaçava. "Tenho dito que isto [tribunal] é uma total perda de tempo. Esta é uma guerra decisiva entre o islão e os infiéis e todos estão a provar individualmente de que lado estão", cita a Reuters.Daniel Pearl, de 38 anos, desapareceu em Carachi (Sul do Paquistão) em Janeiro, quando preparava um artigo sobre os extremistas islâmicos. Os sequestradores, que se identificaram como Movimento Nacional para a Restauração da Soberania do Paquistão (um grupo que, segundo as autoridades, agrupa membros da Al-Qaeda e do Jaish-e-Mohammed) enviaram vários "e-mails" com fotografias de Pearl amarrado e com uma pistola apontada à cabeça, exigindo como resgate a libertação dos prisioneiros afegãos que se encontram na base americana de Guantanamo.A principal testemunha contra Omar foi um taxista, Nasir Abbas, que afirmou ter visto Pearl a entrar num carro com Omar perto de um restaurante em Carachi no dia em que o jornalista desapareceu. Algumas informações fornecidas por agentes americanos que detectaram a origem dos "e-mails" conduziram as pistas para Naseem, que identificou os outros arguidos como os autores do golpe. A defesa afirmaria depois que os depoimentos foram recolhidos sob coacção. Ontem, o advogado de Omar afirmou que as sentenças foram um resultado da pressão americana. "O Paquistão quer agradar aos Estados Unidos", acusou Rai Bashir. O pai do arguido, Saeed Shaeikh, disse que este caso vem salientar a hipocrisia americana. "A jihad [guerra santa] costumava ser a menina bonita dos seus olhos", enquanto os islamistas combatiam os soldados russos no Afeganistão. "Agora, é o seu inimigo. Se tivesse havido uma decisão honesta, ninguém tinha sido condenado", cita a Reuters.O líder do principal partido islamista, o Jamaat-i-Islami, disse também que não foi feita justiça e apelou a um julgamento aberto. "Condenamos o assassinato brutal de Daniel Pearl. Somos contra isso e somos contra todos os tipos de terrorismo", disse Qazi Hussain. "Mas a justiça não foi feita com a condenação de Sheikh Omar. Queremos um julgamento aberto para que todos sintam que foi feita justiça"."Na minha opinião, os requisitos legais foram cumpridos", disse por sua vez o procurador Raja Qureshi.As sessões do tribunal antiterrorismo decorreram em Hyderabad, perto de Carachi, à porta-fechada e rodeadas por um forte dispositivo de segurança, já que todos os magistrados receberam ameaças de morte. A vigilância policial foi reforçada ontem, mas a cidade manteve-se calma.A família de Pearl saudou o veredicto e agradeceu às autoridades paquistanesas a forma como conduziu o processo. "Nós, pais, mulher e irmãs de Daniel Pearl estamos agradecidos pelos esforços incansáveis das autoridades do Paquistão e dos Estados Unidos para levar os responsáveis pelo rapto e morte de Danny à justiça", lia-se num comunicado do "site" da Fundação Daniel Pearl.

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