Mais homens de negro

A dupla de caçadores de extraterrestres de fato preto e óculos escuros regressou. Cinco anos depois de "Men in Black", Tommy Lee Jones e Will Smith reunem-se numa "sequela" de que se espera muito. É parecida com o original, mas deu trabalho - o realizador até teve um ataque cardíaco.

O realizador Barry Sonnenfeld confessava que a Sony, produtora de "Men in Black", estava nervosa em relação à "sequela". O realizador dos dois filmes sentia-se tão pressionado que, uma noite, no início das filmagens, sentiu um aperto no coração. "Às duas da manhã, fizemos um intervalo para almoço nas rodagens. Fui meditar, e comecei a sentir dores no lado esquerdo do corpo", contou Sonnenfeld na semana passada em Nova Iorque, durante um encontro com a imprensa."Julguei que tinha tido um ataque cardíaco, e fui ao hospital de Bellevue", em Nova Iorque. "O problema é que - e com isto aconselho toda a gente a não ir ao hospital de Bellevue de noite - isto aconteceu-me numa terça-feira, e nas noites de terça-feira, entre a uma e as seis da manhã, eles recebem os tipos de Riker's Island [a penitenciária de Nova Iorque] para os consertar. Eu era o único tipo ali sem grilhões.""Como sou judeu, tenho um cardiologista privativo. Ele disse-me: 'o seu coração está óptimo, mas nunca vi ninguém tão stressado'. E mandou-me relaxar, meditar. Eu respondi-lhe: 'ora bolas, meditar era o que eu estava a fazer quando tive o ataque!' Lembro-me de ter pensado nessa altura: 'isto é uma situação em que eu não posso perder. Das duas uma: ou estou de óptima saúde ou então vou morrer e não tenho de realizar este filme'."Felizmente, estava de boa saúde, e quem vê hoje o descontraído realizador nem acredita que o stress lhe causou um ataque. Porque é que "Men in Black II" foi um filme tão difícil de fazer? A gestação da sequela de "Men in Black" foi vítima do sucesso do original, que obteve 250 milhões de dólares em receitas de bilheteira nos EUA, e outros 337 milhões no resto do mundo. Foi o filme mais lucrativo de 1997. Por isso, as expectativas para a continuação são enormes.Michael e os pinguins. No original, Will Smith e Tommy Lee Jones eram dois agentes de uma organização ultra-secreta, os homens de negro, cujas funções eram vestir fatos pretos, usar óculos escuros e disparar armas esquisitas para proteger a Terra de ameaças extraterrestres. As suas aventuras tiveram um inesperado êxito junto do público mundial. "Men in Black" foi o maior êxito de sempre da Sony, que não voltou a ter um filme tão bem sucedido. O lançamento de "Men in Black II" nos EUA, a 4 de Julho, é crucial para o estúdio. Talvez por isso na sequela não se tenha arriscado nada em relação ao original."Men in Black II" tem uma receita quase idêntica à do original, só que ao contrário. No primeiro filme, Tommy Lee Jones é o veterano que ensina o novato Will Smith. Em "Men in Black II", Jones foi "neuralizado", perdeu a memória, e é Smith que lhe serve de mentor.Lara Flynn Boyle (lembram-se de Twin Peaks ou de The Practice?) e Johnny Knoxville são os maus da fita, Rosario Dawson é a donzela em apuros. Várias personagens do primeiro filme são recuperadas - entre as quais o cão falante Pugs (as cenas com ele são as que mais risadas arrancam às audiências) e um grupo de "aliens-palito" fumadores. O filme é surpreendentemente curto (dura só 80 minutos). Isso deve-se à obsessão de Sonnenfeld pela rapidez. É o próprio que o admite: "O argumento está escrito para um filme de 120 minutos, e nós nem sequer cortámos quase nada. Mas sou viciado em velocidade", diz. "Sempre gostei de actores que falam muito depressa. Estava sempre a insistir com o Will e o Tommy Lee para que falassem mais depressa. Os actores já sabiam: comigo não podem andar cinco metros sem dizer nada, senão não aparecem. Se querem aparecer, têm de falar enquanto andam."Sonnenfeld diz que a sua obsessão por velocidade tem a ver com "uma insegurança básica de achar que as pessoas não vão achar graça a nada que faça". Mas lamenta-se agora de que, se soubesse a reacção das audiências a algumas cenas, lhes tinha dado mais algum espaço. Cenas como uma pequena participação de Michael Jackson - em que, surpreendentemente, o "rei da pop" faz não de "alien" mas de agente."Queríamos que o Michael Jackson entrasse no primeiro filme, mas ele não aceitou. Entretanto, quando já estávamos a filmar 'Men in Black II', recebi uma chamada a dizer que ele queria entrar no filme. E não sabia onde havia de o pôr", conta Sonnenfeld."Falei com o Michael e ele disse-me que queria um papel influente e entrar em muitas cenas. Isto numa altura em que já íamos em nove semanas de filmagem. Eu expliquei-lhe que a rodagem já tinha começado e que não tínhamos espaço para uma nova personagem. Ele disse então que não se importava de ter um papel pequeno, desde que aparecesse no cartaz do filme. Eu expliquei-lhe que não podia ser, porque contratualmente só o Will Smith e o Tommy Lee Jones é que podem estar nos cartazes, e se abríssemos uma excepção para ele também tínhamos de incluir a Lara Flynn Boyle e a Rosario Dawson e o Johnny Knoxville. Ele insistiu, dizia: 'desde que nasci que quero estar num cartaz do 'Men in Black''. Desde que nasci? O primeiro filme é de 1997!"."Então ele fez uma última exigência: 'Bom, pelo menos posso usar o fato preto?' E eu disse, 'o.k. então'."E então o.k., é uma das cenas mais hilariantes do filme. Michael aparece a falar de videofone com Will Smith, directamente da Antártida, rodeado de pinguins. E vestido de negro (mas não de óculos escuros).

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