Illan Pappé: O historiador perseguido por Israel

O historiador Illan Pappé arrisca-se a ser o primeiro universitário israelita a ser excluído de um estabelecimento de ensino superior por assumir publicamente posições políticas. Membro da corrente dita dos "novos historiadores", que se distinguiu, desde o fim dos anos 80, pelos seus escritos a favor da revisão da génese do conflito com os palestinianos, Pappé está na iminência de sofrer um processo de expulsão da universidade de Haifa onde ensina História do Médio Oriente. O historiador recebeu recentemente da direcção da faculdade uma acta de acusação de várias páginas e uma convocação para se apresentar perante uma comissão disciplinar. De que é acusado Pappé? Oficialmente, a universidade de Haifa inibe-se de atacar o professor pelas suas opiniões políticas. Censura-o só, numa acusação pouco precisa, por ter atacado a ética profissional de alguns dos seus colegas. Na realidade, Ilan Pappé paga - entre outras coisas - pelo apoio que deu a um investigador, Theodore Katz, expulso da Universidade de Haifa depois de ter defendido uma tese - que os detractores acusam de mal sustentada - sobre o massacre de palestinianos por soldados israelitas na aldeia de Tantura, em 1948. Autor ele mesmo de um livro onde conta o êxodo dos palestinianos expulsos das suas terras, Pappé diz que o querem castigar por ter exigido às autoridades israelitas que peçam desculpa por esta acção na altura da criação do Estado de Israel, em 1948.Mas o mais revelador na questão Pappé é talvez o momento em que estala. "Se sou atacado agora, é por três motivos: porque assinei recentemente uma petição, com nove outros colegas, apelando aos europeus a boicotarem os universitários israelitas para assim lhes exprimirem o seu desacordo com a política de [Ariel] Sharon, porque vou em breve publicar um artigo sobre o massacre de Tantura, e porque prevejo dar, no próximo ano lectivo, um curso sobre a 'Nakba' [o êxodo dos palestinianos em 1948]", disse-nos. Para Pappé, como para os universitários Ze'ev Sternell ou Moshe Zuckerman, dois homens marcadamente de esquerda, o nível de "tolerância" está a baixar tanto entre os universitários como na própria sociedade israelita. Os três apoiam-se em vários exemplos recentes como a exclusão da cantora Yaffa Yarkoni do sindicato dos artistas, por se ter insurgido contra a "Operação Muro Defensivo", na Cisjordânia; a decisão da ministra da Educação Nacional, Limor Livnat, de perseguir na justiça vários universitários que se manifestaram solidários com os reservistas que se recusam servir nos territórios palestinianos; o número crescente de leitores do diário "Ha'aretz" que deixaram de ler o jornal como forma de protesto contra os artigos de Gideon Levy e Amira Hass sobre o sofrimento dos palestinianos; as novas instruções dadas aos jornalistas de língua árabe da rádio Kol Israel (A Voz de Israel) aconselhando-os por exemplo a qualificar como "mortos" em lugar de "vítimas" os civis palestinianos mortos durante esta Intifada. "Israel nunca foi uma grande democracia, mas jogava o jogo da democracia. Hoje, já não o faz", diz Pappé. "Somos cada vez mais pessoas a sair das normas, a reivindicar o direito de recusar uivar com a matilha, de recusar servir numa guerra colonial", declara Sternhell, que acaba de assinar no "Ha'aretz" uma coluna intitulada "O imperativo imoral", no qual denuncia o hábito das autoridades israelitas de acusarem de anti-semitismo todos os que criticam a política de Israel. Para Zuckerman, este fenómeno é ilustrado pela tendência cada vez maior entre alguns israelitas de falarem contra os "criminosos de Oslo", evocando a geração de Yitzhak Rabin que acreditou na paz com os palestinianos. *Exclusivo PÚBLICO/"Libération"

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