A primeira vez que a voz de Zizi Possi soou em Portugal foi através de um disco de Chico Buarque, datado de 1978, onde ela fazia a voz feminina no dueto de "Pedaço de mim". Hoje, vinte e quatro anos passados sobre essa gravação (que coincidiu com o primeiro disco a solo cantora, "Flor do Mal"), Zizi Possi apresenta-se pela primeira vez na Culturgest, em Lisboa.Na véspera do espectáculo, já perto do palco onde irá actuar, ela recorda esse dueto e também Chico Buarque: "É um compositor e uma pessoa maravilhosa. Sinto-me muito lisonjeada por ter a sua companhia na minha vida profissional. Influiu em toda a minha carreira e fico contente de ouvir falar nesse dueto, embora tenha havido muitos mais, de então para cá." A prová-lo, "Pedaço de mim" faz parte do reportório, que hoje apresenta, junto com outras canções de Chico ("Sobre todas as coisas", "Tanta Saudade" e "Beatriz") e de compositores como Violeta Parra, João Bosco, Gonzaga Jr, Gilberto Gil, Tom Jobim, Herbert Vianna, Sting ou Caetano.Zizi Possi nasceu em São Paulo (a 28 de Março de 1956), tem ascendência italiana (por parte dos avós), cresceu musicalmente em Salvador da Bahia e tem uma filha carioca. Esse cruzamento de geografias faz parte da sua alma: "Nasci em São Paulo e fui estudar música na Bahia, porque na época era tida como a melhor escola de música da América Latina. Sai de lá e fui morar no Rio de Janeiro, para trabalhar profissionalmente com músicos, porque naquela altura fervilhava - hoje nem tanto -, aliás tudo o que acontecia em termos musicais era lá. Foi assim que vivi no Rio treze anos e só depois voltei para São Paulo, há onze anos atrás".Ao princípio, partilhava a paixão pela música com o teatro e a matemática, mas foi para a primeira que se virou: "A música sempre me tocou, tudo o que eu tentei fazer fora dela nunca deu certo. Mas música e matemática têm uma relação muito estreita." Além disso, há influências familiares: "O meu pai e a minha mãe cantam muito bem. O meu pai era desenhista técnico de tecelagem, mas antes de casar com a minha mãe era actor, bailarino e cantor de uma companhia de teatro amadora. O meu irmão mais velho, Zé Possi, é um consagrado director teatral". O espectáculo que Zizi traz hoje a Portugal, "Puro Prazer", nasceu de uma rejeição: ela recusou fazer um terceiro disco de canções italianas depois de gravar "Per Amore" (1997) e "Passione" (1998). "A gravadora queria um terceiro disco com músicas dos anteriores e eu não permiti. Então contrapus, como projecto, este show de voz e piano que já tinha sido apresentado e estava pronto. Disse-lhes que o gravava em dez dias e eles aceitaram." Espantosamente, o disco vendeu 100 mil cópias no Brasil, em quatro meses, e tornou-se, em 1999, um inegável sucesso de vendas. "Se eu me fosse guiar pelas leis do mercado não faria o que faço. Mas surpreendo-me, pela positiva, com o êxito de trabalhos como esse." De qualquer modo, o espectáculo celebra também a já longa relação musical que Zizi estabeleceu há doze anos com o pianista Jether Garotti Jr., que hoje a acompanhará em "Puro Prazer", espectáculo cujo nome advém do sentimento de ambos pela música: "Na hora de escolher o nome do disco, em lugar do nome de uma canção-síntese, resolvi pôr o que eu e o Jether sentimos ao fazê-lo: puro prazer. Sem a menor pretensão. São canções que eu adoro cantar e adoro cantá-las com ele a acompanhar. Nós já construímos uma relação em que falamos por música e é um grande prazer cantar desta maneira, do meu jeito, sem me preocupar em vender ou não vender, fazer sucesso ou não fazer sucesso."No final, uma revelação: o nome de Zizi Possi vem de uma santa cujo corpo foi de Portugal para o Brasil: "A minha mãe baptizou-me como Maria Isildinha, porque o corpo de Santa Isildinha foi levado para São Paulo, Brasil, algum tempo antes de eu nascer. Um dos meus irmãos ficou muito doente, com dois anos de idade, e a minha mãe fez uma promessa para Santa Isildinha: se ela curasse o meu irmão, ela daria o nome da santa caso tivesse uma filha mulher de cabelo liso. Daí é que vem o Zizi."