Setenta passagens de nível na Linha do Vouga vão ser extintas

Fechar todas as passagens de nível do país é um dos actuais propósitos da Rede Ferroviária Nacional (Refer) que, desde 1997, numa acção concertada com as autarquias, colocou esse objectivo em cima da mesa. De lá para cá, tem-se proibido o estabelecimento de novas passagens de nível e trabalhou-se na elaboração de um plano de supressão. Nesse sentido, em Abril do ano passado, a Refer promoveu a criação de uma equipa responsável pelo projecto de supressão e reconversão das passagens, abarcando toda a rede ferroviária nacional. Desta forma, a ideia é arranjar soluções alternativas e que passam pela execução de passagens superiores e inferiores, caminhos de ligação alternativos, acessibilidades e melhorias de visibilidade para o aumento da segurança do tráfego rodoviário. Um dos objectivos é que, no próximo ano, restem apenas 1400 passagens de nível em todo o país. Na Linha do Vale do Vouga, que atravessa os concelhos de Espinho, Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Oliveira de Azeméis, são cerca de 70 passagens que vão ser suprimidas, num total de 800 que no decorrer deste ano serão fechadas, algumas das quais reconvertidas. "Não é um problema ferroviário, é um problema rodoviário", salienta Susana Abrantes, do gabinete de comunicação e imagem da Refer. Uma situação a que é preciso dar resposta, de forma a garantir a segurança das pessoas que, muitas vezes, não entendem a intervenção da Refer. "Na maioria dos casos, são as populações que não querem", sublinha a responsável. E, na sua opinião, as pessoas terão de perceber que o grande objectivo é "propor um percurso mais seguro". A Refer entrou em contacto com as autarquias, como manda a lei, no sentido de se encontrarem alternativas mais viáveis. Até porque há linhas, como é o caso da do Vale do Vouga, em que há passagens de nível quase de 200 em 200 metros e com tipologias muito diferentes. Com ou sem sinalização, com ou sem guarda. E se a ideia é "criar alternativas seguras", à medida que as passagens de nível vão sendo suprimidas, estuda-se a melhor solução. O que não significa que em cada passagem fechada surja um caminho alternativo. Começa-se por "eliminar as mais fáceis e tenta-se convertê-las", ou seja, "dotá-las de outras características", sem esquecer o bem-estar das populações. Seja como for, Susana Abrantes assegura que esta intervenção não significa uma redução drástica do número de funcionários da Refer. "Não há despedimentos", garante, lembrando que "as pessoas são reconvertidas para outras funções". Esta é uma medida pela qual a Câmara de Oliveira de Azeméis muito esperou. Na opinião do presidente da autarquia oliveirense, Ápio Assunção, a intervenção da Refer já devia ter chegado "há mais tempo". A edilidade tinha contactado a Refer há quatro anos, no sentido de se resolver o problema da falta de segurança nas passagens de nível. A 19 de Dezembro do ano passado, a autarquia reuniu--se com a Refer, e, no final de Janeiro, chegou o relatório que dá conta de uma velha aspiração do município de Oliveira de Azeméis. Ápio Assunção considera que este é um óptimo prenúncio, um investimento que é visto como "um sinal positivo" de que se quer investir na Linha do Vale do Vouga, "querendo que seja aproveitada e que preste um bom serviço". O autarca tem a certeza que a população do concelho de Oliveira de Azeméis vai compreender esta medida de suprimir as passagens de nível, quando para mais houve alguns acidentes nesses locais, um dos quais mortal. "Tem de haver uma opção de segurança e defesa da vida das pessoas", refere. "Há casos graves e as pessoas acham que esta acção é urgente", acrescenta. O vereador responsável pelo pelouro das Obras Municipais, Protecção Civil e Ambiente da Câmara de Santa Maria da Feira, Delfim Silva, refere que a edilidade "está receptiva a que se elimine o maior número de passagens de nível, desde que haja alternativas e que não se prejudique em demasia a população". Durante este ano, o vereador prevê que a Refer feche 50 por cento das passagens de nível na Linha do Vale do Vouga. No entanto, Delfim Silva espera que a câmara tenha conhecimento "da proposta concreta", até para "depois se poder estudá-la no terreno e juntamente com a população". "Tudo o que venha resolver o problema em termos de segurança das populações é uma ideia bem-vinda, desde que isso não prejudique os próprios habitantes". De qualquer forma, o responsável está convicto que a população vai aceitar de bom ânimo esta intervenção. Um dos símbolos do ciclismo português, Fernando Mendes, foi atraiçoado pelo destino numa das passagens de nível sem guarda, situada na freguesia de Rio Meão, no concelho de Santa Maria da Feira. Perdeu a vida há cerca de meio ano. Naquele lugar, refere o presidente da Junta de Rio Meão, Ângelo Castro, "por uma distracção, pode acontecer a qualquer um". O autarca vê com bons olhos a medida da Refer, desde que sejam criadas alternativas para a população. A junta de freguesia espera, no entanto, ser informada do que concretamente venha a ser feito naquela zona. "Os americanos já vão à Lua e nós temos esta brincadeira aqui", observa Ângelo Castro, referindo-se ao perigo que pode espreitar em qualquer passagem de nível sem guarda e com pouca visibilidade.

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