Cientistas descobrem o que se passa dentro de uma mancha solar

O que se passa realmente dentro de uma mancha solar? Até agora, ninguém sabia ao certo, embora os cientistas especulem há muito sobre os pontinhos negros na superfície da estrela que nos aquece. Finalmente, porém, descobriu-se o que acontece no interior dessas manchas, que podem atingir o tamanho de seis Terras. O satélite Soho, da NASA e da Agência Espacial Europeia, é que permitiu a obtenção de dados que possibilitaram a compreensão pormenorizada das misteriosas manchas solares, que já haviam fascinado Galileu e que o astrónomo italiano registou em desenho em 1611. A equipa de cientistas explicou, na revista "Journal of Astrophysics", que uma mancha solar é uma espécie de remoinho onde os campos magnéticos se mantêm unidos e os fluxos de gases perto da superfície do Sol convergem em direcção uns aos outros e mergulham para o interior, a velocidades da ordem dos 4800 quilómetros por hora. Mas o que é estranho é que os campos magnéticos convirjam. Seria de esperar que numa zona onde os campos magnéticos são muito fortes eles se repelissem entre si, como acontece a dois ímans com o mesmo pólo. Só que isso significaria a morte das manchas solares. Então como é que elas lá ficam durante semanas?Na superfície da mancha solar - que pode atingir 80 mil quilómetros de largura - há material que é atirado para fora. Só que, por baixo dessa mancha, acontecem muitas coisas, algo que a equipa de Junwei Zhao, da Universidade de Stanford, acaba de descobrir graças ao Soho. O que o satélite observou, pela primeira vez, foi o tal mergulho da matéria solar rumo ao centro da estrela. "Descobrimos que o material expelido é apenas um fenómeno à superfície. Se olharmos mais profundamente, encontramos material a cair para o interior, como um remoinho ou furacão do tamanho de um planeta. Esta queda do material mantém unidos os campos magnéticos", explica Junwei Zhao, citado num comunicado da NASA. Já se sabia que os campos magnéticos nas manchas solares eram intensos e que isso impedia a ascensão normal da energia do interior do Sol até à superfície. Como as estrelas são fornalhas nucleares, onde ocorrem fusões de átomos, ao não chegar energia à superfície, a área das manchas é mais fria - um adjectivo algo relativo, já que a temperatura atinge aí os 4500 graus Celsius, face aos 6000 graus na restante superfície. É porque essas zonas são mais frias que ficam escuras em relação ao resto do Sol, que tem a característica cor de uma laranja. Os cientistas perceberam que o facto de nem toda a energia do interior do Sol chegar à superfície faz com que se forme uma espécie de tampão. O resultado é que a matéria solar por cima dessa zona-tampão arrefece e fica mais densa, o que conduz então ao tal mergulho vertiginoso em direcção ao centro do Sol. Ao mesmo tempo, esse mergulho turbulento não só arrasta os gases solares nas vizinhanças da mancha como mantém unidos os intensos campos magnéticos. E, numa espécie de círculo vicioso, a concentração dos campos magnéticos faz com que a área da mancha ainda arrefeça mais e se afunde mais matéria solar. "A origem e estabilidade das manchas solares tem sido um dos mistérios de longa duração em física solar. Estou encantado por ver que, com o Soho, começamos a resolver este mistério", comenta Bernhard Fleck, cientista da Agência Espacial Europeia (ESA) envolvido no projecto do satélite. De resto, estes mergulhos de matéria para o interior do Sol já haviam sido propostos por outros cientistas nos anos 70 como explicação para as manchas solares - pelo alemão Friedrich Meyer, em 1974, e pelo norte-americano Eugene Parker, em 1979. Só que agora existem observações que confirmam essas hipóteses. "A nossa observação parece trazer provas fortes para as duas hipóteses", remata Junwei Zhao, num comunicado da ESA. A equipa analisou uma mancha gigante que era visível no dia 18 de Junho de 1998 e teve outra surpresa. As manchas são menos profundas do que se pensava. A análise, feita através das ondas sonoras produzidas pelo Sol, revelou que estas viajavam mais devagar na superfície, onde a temperatura é mais baixa. A velocidade mantinha-se até que, aos 4800 quilómetros de profundidade, começaram a viajar muito mais rapidamente. "Isto significa que as manchas solares são frias só até 4800 quilómetros de profundidade - uma camada relativamente pequena, tendo em conta que a distância desde a superfície do Sol até ao núcleo é de 692 mil quilómetros", explica outro membro da equipa, Alexander Kosovichev, da Universidade de Stanford.Ao comentar esta descoberta, Douglas Gough, professor de astrofísica na Universidade de Cambridge, Inglaterra, ficou admirado pela pouca profundidade das manchas solares. "Uma das características surpreendentes destas observações é que mostram como uma mancha solar é pouco profunda. No passado, houve debates puramente teóricos sobre a profundidade das manchas, mas estas observações dão-nos a resposta."Se quiser ver a animação de uma mancha solar, pode-se sempre dar um pulo a uma página da NASA na Internet (http://www.gsfc.nasa.gov/gsfc/spacesci/pictures/sunspot/UnderSunspot_final.mpeg ). E, depois, prepara-se para um pequeno mergulho.

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