12º Festival de BD da Amadora centrado nos autores portugueses

A sombra da BD francesa ou dos "comics" americanos nunca esteve muito longe das histórias aos quadradinhos portuguesas. É o peso dessas influências que o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora quer avaliar na sua 12ª edição, a decorrer entre 19 de Outubro e 4 de Novembro.Ao fim de uma década de vida, o certame optou por definir para cada ano uma temática genérica. Em 2000, passaram pela Fábrica da Cultura os super-heróis do século XXI. Este ano, a organização decidiu-se por uma exposição central na Escola Intercultural (ver caixa), onde serão equacionadas as confluências e influências externas da BD portuguesa."A nossa aposta é na reunião de um leque de autores e de trabalhos em torno de um tema que, assim o esperamos, constitua uma base de trabalho para os debates e discussões a realizar durante o festival", explicou Nelson Dona, director do festival, numa conferência de imprensa realizada ontem na Amadora para apresentar o programa deste ano. Levando ainda mais longe esse enquadramento, a organização decidiu apresentar duas exposições em torno dos caminhos contemporâneos da BD francesa e americana, respectivamente. Os acontecimentos do passado dia 11 de Setembro nos Estados Unidos deitaram por terra as hipóteses de apresentar uma exposição sobre os "comics", que traria a Portugal Chris Ware e Charles Burns, entre outros consagrados criadores. No entanto, está confirmado o núcleo que irá passar em revista a profunda transformação sofrida pela BD francesa desde os acontecimentos políticos de Maio de 68, que abalaram profundamente os alicerces da sociedade francesa e tiveram enormes repercussões em todas as sociedades modernas europeias. Com a exposição vem um conjunto representativo de autores, entre os quais Sylvain Victor, Yvan Alagbé e Christian Maucler.Em contraponto, apresenta-se um conjunto alargado e diversificado de exposições de autores portugueses. Do clássico José Ruy é apresentada uma mostra abrangente do seu trabalho - incluindo o domínio das artes gráficas e da pintura - na Galeria Municipal Artur Bual. Miguel Rocha tem direito a uma exposição individual na sua condição de galardoado, em 2000, com o prémio Zé Pacóvio e Grilinho para o melhor álbum português. Os originais de Luís Louro estão patentes na galeria do Centro Nacional da BD e Imagem. Alvo de investimento considerável são, também, as exposições consagradas a Rui Lacas, José Abrantes, Diniz Conefrey e ao colectivo Nova Comics.No quadrante internacional, o grande destaque vai para uma mega-exposição sobre a obra do belga Hermann, que estará igualmente presente na Amadora. Outros nomes a reter são o brasileiro Laerte, o espanhol Alvarez Rabo e o americano James Kochalka, cujos originais poderão ser vistos em exposições individuais.A dinâmica descentralizadora do festival é confirmada este ano através da presença de exposições em outros espaços culturais do concelho. Assim, na Casa Museu Roque Gameiro tem acolhimento uma exposição sobre o trabalho de ilustração de Henrique Cayatte. Nos Recreios da Amadora apresentam-se as obras participantes no concurso de "cartoon" e a exposição "Mulher", consagrada a ilustradoras e "cartoonistas" do sexo feminino. Finalmente, o Centro de Arte Contemporânea (Alfragide) abre pela primeira vez as portas a uma mostra sobre "Os Fazedores de Letras", jornal da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa que integra um espaço dedicado aos quadradinhos.O habitual ciclo de cinema de animação e um espaço comercial para editores, onde o PÚBLICO terá este ano um pavilhão próprio, completam a programação geral do festival, onde estão previstos numerosos lançamentos de edições de banda desenhada.

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