Primeira mesquita do Porto à espera de terrenos

A primeira mesquita a ser construída na cidade do Porto, vocacionada para o culto da comunidade islâmica, será erguida logo que seja encontrado um local adequado para os fiéis do Corão. Ao que o PÚBLICO apurou, o assunto já foi aflorado entre Nuno Cardoso, presidente da Câmara do Porto, e Abdul Rehman Mangá, responsável pela população islâmica sediada na região. Pouco tempo depois de Cardoso ter assumido a liderança do município, Abdul Mangá solicitou uma audiência ao autarca, para o sensibilizar para a necessidade de o Porto ter um local sagrado para praticar o seu culto. Cardoso mostrou-se receptivo à ideia, mas manifestou alguma apreensão pelo facto de haver poucos terrenos disponíveis na cidade para erguer um monumento com aquelas características. Mesmo assim, a comunidade nunca perdeu a esperança de poder ter para os seus fiéis um local condigno para as suas orações e tem vindo a burilar contactos. É certo que o projecto ainda não existe formalmente, embora o assunto esteja em cima da mesa, à espera de uma resposta do município.Abdul Rehman Mangá, em declarações ao PÚBLICO, admitiu ontem que gostaria de ter uma mesquita na Baixa, mas reconhece que a cidade é pequena e que os espaços disponíveis são escassos. Se for de todo impossível realizar o seu "sonho" no coração do Porto, Mangá aceita que a mesquita seja construída na periferia da cidade, até porque nessa região residem muitos maometanos. Todavia, não desiste da construção de uma mesquita no Porto, até porque isso chamaria à cidade muitos dos "irmãos" que se encontram espalhados à volta da cidade. Ao mesmo tempo, considera, isso permitiria a transferência de um grande número de membros da comunidade islâmica lisboeta, sobretudo aqueles que se encontram ligados à actividade comercial e que têm de se deslocar com frequência ao Porto para as suas transacções comerciais.Este porta-voz dos maometanos considera-se completamente integrado na cidade e refere que já nem os seus filhos querem abandonar o Porto. Mais um argumento, defende, para justificar a construção de um monumento que considera emblemático para a cidade e que, na sua opinião, será erguido com a ajuda da Câmara do Porto e com a colaboração da embaixada da Arábia Saudita. Segundo Abdul Mangá, existe uma promessa antiga da embaixada para custear a obra, que aguarda apenas a definição do local para a sua implantação."A comunidade muçulmana em Portugal tem características próprias. A maioria de nós é portuguesa, ao contrário do que sucede noutros países, em que as populações islâmicas são constituídas sobretudo por estrangeiros", declarou ao PÚBLICO um outro membro desta comunidade. "Apesar de nos sentirmos enraizados, não podemos esquecer os mandamentos islâmicos, que são claros, e são esses que defendo", acrescentou.Abdul Mangá, quadro de um grupo económico, também sente necessidade de ter um espaço de recolha e oração, até porque entende que a espiritualidade "é importante para as pessoas". "A parte espiritual sempre fez falta a qualquer ser humano. E nós, tal como os nossos irmãos de Lisboa, de Odivelas ou do Laranjeiro, precisamos de nos reunir e alojar num espaço adequado. Neste momento, estamos a fazer as nossas orações nas instalações do Centro Cultural Islâmico do Porto [que funciona num edifício da Rua do Heroísmo], espaço este que não reúne as melhores condições para o exercício da oração e alojamento dos religiosos", declarou. Daí que Mangá insista, até pelo número de membros que a comunidade congrega no Porto, na necessidade de levar por diante o projecto com que sonha há 18 anos, altura em que a comunidade começou a instalar-se na cidade que é hoje Património da Humanidade.A comunidade islâmica espera apenas por uma resposta oficial da autarquia para avançar em definitivo com o projecto, que provavelmente será feito por um arquitecto não-muçulmano. Ontem, Nuno Cardoso confirmou que o assunto passou pelas suas mãos, mas de momento encontra-se na Divisão Municipal de Gestão e Planeamento Urbanístico, entidade que vai apreciar o projecto em termos de localização, devido às eventuais implicações com o Plano Director Municipal.Apesar deste aparente distanciamento, o presidente da Câmara do Porto não fecha a porta à ideia, mas acha que deve ser a comunidade islâmica a encontrar os seus próprios recursos e a financiar os seus projectos. "Que seria de nós se tivéssemos de dar terrenos a todos os grupos de pessoas, de diferentes credos, que nos viessem pedir ajuda?", questiona o autarca. No entanto, Cardoso lembra que o Porto é "tolerante e liberal" e exibe a bandeira da liberdade, que simboliza a cidade, para realçar a receptividade e a abertura dos portuenses a novos credos. Se Nuno Cardoso não conseguir resolver este assunto até ao final do seu mandato, a questão voltará provavelmente a cair nas mãos de Fernando Gomes, que, em tempos, recusou disponibilizar terrenos para erguer a primeira mesquita no Porto.· Em Portugal existem, de acordo com indicadores da comunidade islâmica de Lisboa, cerca de 30 mil muçulmanos· No Porto, os seguidores de Alá rondam o milhar de pessoas

Sugerir correcção