Incêndio de origem criminosa mata três idosos num lar de Viana

Três mortos, todos do sexo feminino, e 24 feridos, entre os quais dois agentes policiais, foi o resultado de um incêndio ocorrido ontem, às primeiras horas da manhã, no lar de idosos de Santiago, em Viana do Castelo, havendo fortes indícios de que o sinistro terá tido origem criminosa. Uma fonte próxima das autoridades envolvidas nas investigações referiu mesmo que o utente do lar, com cerca de 64 anos, que foi detido pela PSP no hospital distrital, horas depois do incidente, prestou declarações, à tarde, admitindo a autoria do crime, confirmando a tese de fogo posto como causa do desastre. Há suspeitas de que o indivíduo, que ultimamente tinha assumido atitudes provocatórias e proferido ameaças de homicídio e suicídio, ateou o incêndio com roupa embebida em gasolina, vedando os acessos à área, e cortou um tubo de gás noutra das dependências do edifício. A ausência de condições de segurança, como portas corta-fogos, de extintores e de sinalização de emergência poderá ter agravado a tragédia, que, por ironia, aconteceu numa data assinalada no calendário religioso como dia de Santiago.Eram 6h58 quando as duas corporações de bombeiros da cidade foram alertadas para um incêndio que deflagrou junto ao jardim contíguo ao Largo de D. Fernando, num lar de terceira idade pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Viana. Àquela hora, já a população residente nas redondezas acudia aos idosos e à única funcionária de serviço, que haviam entrado em pânico, devido à intensidade das chamas, ao fumo e às altas temperaturas que se fizeram sentir no primeiro piso da instituição. Para os bombeiros a operação de resgate das vítimas, que teve de ser feito pelas poucas janelas existentes no prédio e pela sua única saída, através de um logradouro interno, não terá sido fácil. "Olhando à falta de mobilidade destas pessoas (idosos) foi complicado", admitiu o comandante dos voluntários, Martinho Campos, referindo, quanto às dificuldades sentidas durante a evacuação do lar, que "isso é um assunto que se relaciona com a segurança contra incêndios do edifício". "Acho que os bombeiros demoraram um bocadinho a chegar e não vieram preparados para o efeito. Devem ter achado que não era assim tão grave quanto isso, porque não trouxeram máscaras. E depois penso que aquelas duas velhinhas que morreram foi pela demora, foi por inalação de fumo não foi por mais nada", declarou João Carlos Oliveira, que se encontra de férias numa das casas vizinhas, e que saiu da cama para se envolver no resgate dos idosos que chamavam por socorro. "Subimos por umas escadas pela parte de trás do lar e tentámos acalmar os velhotes, só que havia um que estava mesmo ao lado do quatro, que estava a arder, e esse é que afligia. A gente não lhe podia valer porque as chamas eram tão fortes e aquilo era no terceiro andar e não tínhamos hipótese de lá chegar", contou. "Antes de chegarem os bombeiros, tirámos algumas janelas e as cortinas fora e começámos a tirar os velhotes que pudemos"."Isto aqui não tem condições nenhumas de ser uma casa com tantos idosos dentro, com tudo fechado, porque do lado do jardim não tem nem sequer uma triste janela. Eu chamo-lhe a 'gaiola' e há quem lhe chame 'cadeia' porque os velhinhos não têm mesmo por onde ver quem passa na rua nem nada", comentava Maria de Lurdes Oliveira, que, vivendo a escassos metros do lar de Santiago, foi das primeiras pessoas a chegar ao local. "Estava tudo a arder lá dentro e estava um velhote numa das janelas e uma velhota noutra, aos gritos. A funcionária de serviço estava cá fora numa canto, também a gritar, que não se continha. Foi uma barafunda muito grande. Era polícia a correr para um lado e bombeiros a correr para outro, e estava tudo em pânico". Ontem, ao final da tarde, a maioria dos feridos e os restantes idosos, mais de duas dezenas, que não foram atingidos fisicamente por este incêndio encontravam-se instalados noutras instituições de Viana, nomeadamente, no hospital e nos lares da Senhora da Piedade e da Caridade e em localidades circundantes. No hospital de Viana do Castelo continuavam internados seis dos 57 utentes do Santiago, dois deles com algum risco de vida. Os dois policias, feridos durante a operação de resgate das vítimas e que tiveram de receber tratamento hospitalar, encontravam-se bem e já tinham obtido alta. Quanto às vítimas mortais deste incidente, o director do hospital, Torcato Passos, confirmou que uma das idosas morreu carbonizada e as outras duas devido a intoxicação provocada pela inalação de fumo.A notícia deste incêndio fez com que o ministro da Solidariedade Social, Paulo Pedroso, se deslocasse ontem a Viana do Castelo, acompanhado de uma comitiva integrada pelo secretário de Estado da Segurança Social e pelo presidente da Administração Regional de Saúde do Norte, para garantir, depois de uma breve visita ao lar acidentado, que aquela instituição "tinha sido alvo de uma fiscalização da Segurança Social que tinha demonstrado que tem condições de funcionamento". O ministro anunciou também que, a Inspecção-Geral do seu ministério irá proceder a averiguações sobre as suas "condições reais", acrescentando: "Temos a decorrer uma auditoria a nível nacional a todos os lares e vamos acelerar os procedimentos, de modo a que estes venham a aderir a um sistema de garantia da qualidade que obedece às normas internacionais mais exigentes" (ver texto nestas páginas).

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