Um jogo 'evolucionário'

"Dune II" foi um dos maiores êxitos de sempre da indústria de videojogos. Lançado há quase dez anos, vendeu o astronómica número de 12 milhões de cópias. Mas, curiosamente, não teve continuação imediata em termos de história. Teve, sim, no género - baptizado como "estratégia em tempo real" - já que foi a partir de "Dune II" que a Westwood criou "Command & Conquer", um marco fundamental na evolução dos jogos digitais.Passado tanto tempo, é com curiosidade que se assiste ao lançamento deste "Emperor: Battle for Dune" e também à expectativa que foi criada à sua volta. Afinal, a trilogia literária de Frank Herbert não foi esquecida, o filme de David Lynch que a retrata (em parte) continua a ser um culto e o imaginário imperial que rodeia esta história épica ainda faz sonhar. Como a Westwood não deixou os seus créditos por mãos alheias, o jogo (quase) tem hipóteses de se tornar um êxito igual ao seu antecessor.E dizemos quase porque a "Emperor: Battle for Dune" falta aquela pequena centelha de genialidade que integra qualquer revolução. Por isso, pode-se dizer que, não sendo um jogo revolucionário, é certamente "evolucionário" no bom sentido. Isto apesar de ser o primeiro jogo do género que a Westwood produz totalmente em 3D, o que permite, por exemplo, alterar o ângulo de visão da acção durante o jogo."Emperor: Battle for Dune" tem todos os ingredientes para se aproximar da perfeição. Que, aliás, foi procurada e atingida mas dentro de um conceito já bem conhecido e estabelecido. Daí o não atingir a nota máxima que só os jogos de excepção devem ter - e que não são tantos como isso: como acontece em qualquer outra área, as obras-primas são-no por serem excepcionais e não por serem muito boas.Mas vale a pena insistir que, para quem gosta de jogos de estratégia em tempo real ou mesmo, em sentido mais lato, de jogos, "Emperor: Battle for Dune" é uma excelente aposta. E nem cai no exagero de complexidade, tantas vezes visto nestes jogos, que afasta os não iniciados. "Emperor: Battle for Dune" é um jogo para todos, com uma dificuldade média (e configurável entre fácil e difícil) e uma curva de aprendizagem acentuada, que permite que se comece rapidamente a jogar. Depois, é um jogo em que as falhas, mesmo nos pormenores mais ínfimos, são difíceis de encontrar. O grafismo geral é brilhante, a organização e as interfaces simples, directas e intuitivas. Claro que tanta aposta na tecnologia tem o seu senão: mesmo em computadores rápidos, o tempo de carregamento de cada missão é muito longo e, em batalhas mais complexas, sente-se a dificuldade do sistema em digerir tanto processamento. Isto poderá ser um pouco atenuado reduzindo a definição, o que não afecta demasiado o aspecto geral.O envolvimento - ou seja, a trama dramática que envolve a acção propriamente dita - está também ao nível do que seria de esperar: uma excelente síntese entre as imagens digitais 3D e o vídeo com actores. Aliás, refira-se que foram realizadas três semanas de filmagens (duas em estúdio e uma no deserto) para obter as imagens para o jogo - o que é o tempo de rodagem normal de um telefilme, a atestar o empenho na construção de uma narrativa de ficção complexa. Os actores foram escolhidos para encarnar os personagens não só pelas suas qualidades (o mais conhecido é Michael Dorn, de uma das séries "Star Trek") mas também pelas suas parecenças com as figuras do filme "Dune", em que se inspiram todos os figurinos, cenários e caracterização.Esta narrativa integra-se na perfeição com o jogo, através de longas sequências cinemáticas, que colocam o jogador em pleno ano 10190, no momento em que começa a segunda guerra pelo controlo de Arrakis, o planeta deserto também conhecido por Dune, onde os monstros da areia produzem a especiaria Melange, fundamental para o Universo... e para o seu domínio. Os nobres Atreides, os maléficos Harkonnen e os insidiosos Ordos voltam à luta, inicialmente restrita à superfície do planeta. E o vencedor será o novo imperador do universo. Em termos de jogo isto traduz-se em mais de cem missões em 33 mapas distintos, não só em Arrakis mas também nos planetas de origem de cada um dos adversários. Para não fugir à regra dos tempos, "Emperor: Battle for Dune" foi optimizado para o jogo "on-line" e tem missões exclusivas.Quando se começa o jogo - distribuído por quatro CD-ROM, um de instalação e mais um por cada "casa" em que se pode ocupar o posto de comandante -, o jogador é contratado para liderar a guerra, e directamente interpelado e integrado na acção de forma muito eficaz. Além da campanha propriamente dita, o jogador pode passar por uma fase de formação (tutorial) ou divertir-se com uma pequena escaramuça isolada.No jogo, que pode ser jogado quase exclusivamente com o rato, encontramos o esquema que já se tornou norma no género. Temos o mapa do campo de batalha, uma barra de comandos (Construir, Reparar, Defender, Atacar, etc.), o dinheiro disponível para o esforço de guerra, um radar e uma função interessante, que permite definir trajectórias para as unidades, permitindo, por exemplo, definir-lhe uma zona de ronda. As unidades são tropas ou máquinas, bélicas ou de trabalho, e os edifícios têm funções diversificadas e destinadas a cada objectivo ou necessidade. Inovação é que a parte económica (colheita e refinação da Melange) é totalmente automática, deixando o jogador concentrar-se na batalha. Cada uma das casas tem as suas unidades de combate diversas e com características próprias, mas as funções das infra-estruturas são idênticas.Existe igualmente um sistema de alianças com cinco outros povos menos importantes: os Fremen, nómadas nativos de Arrakis, os Sardaukar, soldados fanáticos devotos do Imperador, a Casa Ix, devota da alta tecnologia, a Casa Tleilaxu, mestra da manipulação genética, e a Guilda, que monopoliza o segredo do transporte espacial."Emperor: Battle for Dune" é exactamente aquilo que seria de esperar, tanto pela peso histórico do título como pela sua origem - a Westwood. E, se calhar, até é uma vantagem que não seja revolucionário mas, sim, "evolucionário". Este é o jogo de estratégia em tempo real perfeito para as necessidades e os PC dos jogadores actuais.

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