Os altifalantes estão vivos e falam

O festival Música Viva - Festival Internacional de Electroacústica, está vivo. Depois de Lisboa, palco da edição do ano passado, o Porto-2001 abriu a sua programação a este certame que Miguel Azguime, dos Miso Ensemble, director artístico e responsável pela concepção da orquestra de altifalantes, transformou num dos acontecimentos anuais mais marcantes de música contemporânea realizados em Portugal. O festival arranca hoje no Teatro Helena Sá e Costa, onde irão decorrer, até dia 14, todas as actividades, com a atribuição dos prémios do Concurso de Composição, imediatamente antes do primeiro concerto, às 21h30, dedicado ao compositor português Cândido Lima. Cândido Lima, um dos compositores portugueses mais importantes deste século, natural do Porto, terá a seu cargo a direcção do Grupo Música Nova, para interpretar obras suas, das quais se destaca a estreia mundial de "Gestos-Circus-Círculos", para sete instrumentos e electrónica em tempo real, encomenda do "Porto-2001, Capital Europeia da Cultura".Amanhã, a Orquestra de Altifalantes - sistema de difusão sonora que permite emitir e manipular quer música electroacústica pré-gravada, quer executada por instrumentistas - este ano acompanhada de suporte visual (filme, vídeo, etc), em colaboração com o Institut de Musique Electroacustique de Bourges, estreia-se como veículo de obras de compositores portugueses e estrangeiros, algumas delas com suporte vídeo de Inge Kamps. No dia seguinte, Domingo, a mesma orquestra executará peças do compositor francês Jean-Claude Risset, pioneiro da escrita para computadores e outras tecnologias digitais, com execução ao vivo de Franziska Schroeder, em saxofone solo.Momento alto do Música Viva 2001 será a actuação, segunda-feira, dia 9, do Ensemble Recherche, das mais notáveis formações de música de câmara contemporânea da actualidade, com direcção de Johannes Kalizke. Entre as peças a apresentar, destaque para a estreia absoluta de "Organa", de Pedro Amaral, outra encomenda do "Porto 2001". Depois de nova apresentação da Orquestra de Altifalantes na terça-feira, 10, o Ensemble Recherche regressa na quarta com um programa preenchido pela integral para trio de cordas de Emanuel Nunes, a estreia absoluta de "Derrière son Double", de Miguel Azguime e "Vortex Temporum", de Gérard Gisey.Na quinta serão ouvidas as três obras vencedoras do concurso de composição, pela Orquestra de Altifalantes, a anteceder um programa de contrabaixo solo, por Corrado Canonici, com obras de Luciano Berio e Giacinto Scelsi, entre outros.A poesia também tem direito a espaço no "Música Viva 2001". No dia 13, às 23h30, uma performance pelo Sindicato de Poesia, dará a ouvir e a sentir a poesia de Eugénio de Andrade, Ângelo de Lima, Matsuo Bashô, Carlos de Oliveira, Salette Tavares, Ernesto de Melo e Castro, Mário de Sá-carneiro e do próprio Miguel Azguime. Palavras com música para ouvir. Antes, os altifalantes vibrarão com a música de Filipe Pires, João Pedro Oliveira e Iannis Xenakis, entre outros, este último com "Legend d'Eer", obra de referência da música do séc.XX.Finalmente, no sábado, 14, outro acontecimento, a apresentação ao vivo do Ensemble Fur Intuitiv Musik Weimar, constituído por músicos ligados a estúdios de improvisação e composição como o IRCAM de Paris, o WDR de Colónia ou o IMEB de Bourges, que beberam na grande fonte chamada Karlheinz Stockausen para criar novas paisagens virtuais. Sintetizadores, informática, piano, trompete e vozes em composição instantânea (chamam-lhe improvisação...), intuição, mecânica e espírito em acção conjunta.Em paralelo com os concertos, todos marcados para as 21h30, no Teatro Helena Sá e Costa, o Música Viva 2001 inclui na sua programação um curso de composição por Jean-Claude Risset (dias 6 e 7), um curso de informática musical/música para computador e conferência sobre espacialização com software Pangea, ambos por Tomás Henriques (dias 8 e 9), conferência sobre música electrónica: composição no interior do som, por Jean-Claude Risset (dia 9), workshop sobre Difusão e Interpretação com a Orquestra de Altifalantes, por Pedro Rebelo (dia 10), workshop de Introdução à Extensão Vídeo em Tempo Real NATO 0.55 para Linguagem MAX, por Paulo Raposo, do grupo Vitriol (dia 11), conferência "Música Britânica Hoje", por Christopher Fox (dia 11), curso de Composição do Tratamento Electroacústico, por Hans Tutschku (dias 12 e 13), conferência "Jogo e Diálogo: Compondo com Aparelhos", por Paulo Chagas (dia 12) e um concerto extra, às 18h30 do dia 13, do grupo MC47, com Virgílio Melo a dirigir a execução da música dos MC47 ("O Gato Preto") e Karlheinz Stockausen, na conhecida "Mikrophonie 1". Cândido Lima proferirá no último dia (14), uma conferência dedicada a Xenakis, "Xenakis: O Conceito de Integração".

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