Fernanda Fragateiro vence Prémio Tabaqueira de Arte Pública

Fernanda Fragateiro foi a vencedora do Prémio Tabaqueira de Arte Pública, que, este ano, é destinado à implantação de uma obra na Rotunda dos Portões de São Pedro, em Angra do Heroísmo, Açores. O apoio mecenático da empresa tem o valor de 25 mil contos e já contemplou José Pedro Croft e Richard Serra, que viram trabalhos seus serem erguidos respectivamente em Sintra e no Porto, cidades também detentoras do estatuto de Património Mundial. O júri de premiação - Isabel Carlos (Instituto de Arte Contemporânea), Bernardino Gomes (Fundação Luso Americana Para o Desenvolvimento), Pedro Nunes (Tabaqueira), Emanuel Félix (Câmara Municipal de Angra do Heroísmo) e Graça Costa Cabral (Direcção Regional da Cultura dos Açores) - considerou unanimemente a proposta da artista como "a mais intessante, dado que se insere de um modo integrado na paisagem circundante (...)". A escultura de Fernanda Fragateiro, que irá ocupar a totalidade da rotunda, é composta por "uma série de segmentos que sugerem a formação de círculos". Estes fragmentados círculos, dispostos em curva e em linha recta, "serão construídos em tubo de aço, de secção quandrangular de 15 cm, que se cruzam a diferentes cotas do chão e se apoiam em prumos de aço, encontrando-se os mais altos a 150 cm do solo e o mais baixo de nível com este". A escultura irá passar entre uma espécie de cortina natural formada por sete jacarandás - ali plantados também com a intenção de amenizar o impacto provocado pela futura construção de um hotel nas vizinhanças da Rotunda -, simulando assim o movimento do vento entre as árvores. A relação da artista com o local de implantação da obra foi complexa, sobretudo devido à recusa inicial em aceitar o facto de a rotunda existente, lugar de fronteira entre o campo e a cidade, estar a sofrer uma significativa alteração. Como escreve na memória descritiva do projecto, após visitar o sítio e apesar de ter ficado impressionada com a sua grandeza e nobreza, tudo contribuía para uma sensação de desassossego: "O movimento das máquinas que asfaltavam por cima a belíssima e antiga estrada de basalto - que iria desaparecer -, as escavadoras que removiam a terra molhada, a tensão dos operários que nitidamente se apressavam para cumprir o prazo de entrega da obra, a ameaça da futura construção de um hotel na falésia e sobretudo a chuva oblíqua, e um vento fortíssimo que parecia ter entendido que algo iria mudar para sempre naquele lugar".Essa hesitação inicial foi superada e agora Fernanda Fragateiro confessa que "não via o projecto noutro sítio; ele nasce para ali". A artista decidiu então representar "a marca da passagem do vento por aquele lugar". A tradição da ilha foi também seguida na escolha do chão da rotunda, entendida como elemento integrante da escultura e que será feita em calçada portuguesa com fundo negro de basalto com desenhos geométricos embutidos a branco. Recorde-se que Fernanda Fragateiro (n. 1962) é autora do "Jardins das Ondas", projectado para o Parque da Expo-98, em Lisboa. Entre os seus trabalhos mais recentes - onde é evidente a preocupação com a qualificação do espaço público, daí a constante colaboração com arquitectos paisagistas - destacam-se ainda uma escultura para um parque infantil em Tenerife, Espanha e um "Banco de Jardim" criado no âmbito do último Simpósio Internacional de Escultura de Santo Tirso. O prémio atribuído pela Tabaqueira resultou de um protocolo que tem por objectivo "o enriquecimento do Património artístico do Concelho de Angra do Heroísmo, no domínio da Arte Pública contemporânea, através de obras de arte de relevância cultural e indiscutível qualidade (...)". Os restantes concorrentes ao galardão foram José Nuno da Câmara Pereira, Renato Costa e Silva, e Rigo.

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