Um telefonema do director da SIC, Emídio Rangel, à provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Maria do Carmo Romão, acabou com o programa Roda dos Milhões, que o canal vinha transmitindo às segundas-feiras há cerca de três anos. Foi uma decisão unilateral da SIC, que argumentou com a pouca audiência que o programa estaria a ter.A futuro televisivo dos jogos que integravam o programa - Lotaria Nacional, Loto 2 e Lotaria Instantânea - está a ser ponderado pela Santa Casa. A SIC apresentou anteontem propostas alternativas ao formato Roda dos Milhões e a RTP encetou ontem contactos com a instituição.Em relação à revista semanal "Roda dos Milhões", criada à sombra do programa, a SIC quer que ela continue. A informação não pôde, no entanto, ser confirmada ontem, junto de Miguel Caeiro, director-geral da ACJ, a editora da publicação. De acordo com os dados da Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens (APCT), entre Janeiro e Setembro do ano passado a "Roda dos Milhões" teve uma tiragem média de 465.066 cópias, registando uma variação positiva de 3,2 por cento face a período homólogo do ano anterior.O fim do programa foi anunciado ao telefone por Rangel na quarta-feira da semana passada e confirmado por fax dois dias depois. A notícia caiu muito mal na Santa Casa. "Foi um pandemónio", disse fonte da instituição.Transitoriamente, a SIC comprometeu-se a manter a transmissão da Lotaria Nacional e do Loto 2 em horário nobre e da "raspadinha" após o programa Noites Marcianas. Foi isso que aconteceu já na última segunda-feira, dia em que a extracção, que durou meia dúzia de minutos, acabou por ser o nono programa mais visto no conjunto dos canais generalistas. O assunto tem estado a ser analisado pelos administradores e juristas, mas os termos do acordo estabelecido, que implicavam a transmissão sem encargos para a Misericórdia, parecem ter amarrado Maria do Carmo Romão. Questão diferente poderia ser a de eventuais prejuízos que a suspensão do programa estará a causar. Apanhada de surpresa, a Santa Casa sentiu-se obrigado a fazer publicar um anúncio em que avisa os jogadores que, apesar do cancelamento do programa "por motivos alheios ao departamento de jogos", a lotaria instantânea "continua à venda" nos agentes oficiais.Nem a SIC nem a Santa Casa parecem, contudo, interessadas em entrar em conflito. Prova disso mesmo será o facto de a estação de televisão, através do subdirector António Borga, ter apresentado anteontem propostas alternativas à Roda dos Milhões. Mas a RTP estará também na corrida: ontem, representantes da estação pública deslocaram-se à Santa Casa para discutir o assunto. Até ontem não havia conhecimento de eventual interesse da TVI e a Santa Casa estabeleceu o dia de quarta-feira como data para uma decisão sobre o futuro da transmissão televisiva dos sorteios.Mesmo depois da SIC ter começado a transmitir jogos sociais, em 1998, a RTP manteve sempre uma colaboração com a Santa Casa, embora em bases gratuitas, a exemplo do princípio imposto pela estação de Carnaxide. Actualmente, o canal 1 da estação pública transmite no programa Sábado à Noite a extracção do Joker, do Loto 1 e do sorteio de matrizes do Totobola entre apostadores que tenham feito mais do que seis apostas. A ideia de fazer um programa com jogos da Santa Casa - actualmente apresentado por Jorge Gabriel e Fátima Lopes - nasceu em 1997 por interesse da SIC numa altura em que apenas a RTP mantinha uma emissão do género, ao sábado à noite. A SIC manifestou interesse em ter a concessão dos jogos, assinou um acordo com a Santa Casa e entregou a produção à empresa de Ediberto Lima. Mais recentemente, também a TVI cobiçou a ideia de fazer um programa que incluísse jogos da Misericórdia e assim nasceu o Tic Tac Milionário.