Muralhas da Circunvalação de Lisboa estão esquecidas

"O concelho não fica nada prejudicado. Fica até mais bem servido com ligações directas às duas novas estradas", responde a Brisa

<EM><FONT FACE="Times New Roman" SIZE="4">Edificação na encosta da Calçada de Carriche</FONT></EM><STRONG><EM>Construído aquando da última revisão administrativa da cidade, o muro faz a divisão entre a capital e Odivelas</EM></STRONG>São muitas e variadas as teorias sobre as origens do muro com pequenas ameias que, ao fundo da Calçada de Carriche, faz a divisão entre os municípios de Lisboa e Odivelas. Desde a quase certeza de que estará relacionado com as defesas da cidade durante o período das invasões napoleónicas, passando pelo palpite de que constitui um resquício das muralhas fernandinas, muito poucos são os que realmente sabem a história daquela construção. Na verdade trata-se do que sobrou da fortificação que ladeava a Estrada de Circunvalação fiscal de Lisboa, via implementada entre 1885 e 1900, e que ligava Algés ao Vale de Chelas. O desconhecimento das origens da muralha - que possui um outro troço ali perto, no Vale do Forno - alarga-se mesmo a muitos autarcas da zona, e poderá, de certa forma, justificar a inexistência de qualquer classificação patrimonial para um conjunto que corresponde à última alteração das fronteiras administrativas de Lisboa. Alguns confessam até o seu desconhecimento sobre a importância da muralha e a existência de estudos aprofundados, e não têm qualquer opinião sobre se a mesma deve ou não ser preservada.A única certeza, neste momento, é de que em Vale do Forno, um bairro clandestino da freguesia de Odivelas, ao arrepio de qualquer regra de ordenamento urbanístico, existem diversas construção ilegais que praticamente utilizam a muralha como parede de apoio. Do outro lado está uma montanha de terra que tapa o que restou do aterro sanitário que, durante anos, serviu Lisboa. Aliás, a população daquele zona tem sido constantemente ameaçada pelo perigo de derrocadas.É um cenário bastante desolador para quem quiser seguir o trilho daquele que constitui um dos últimos exemplares patrimoniais - a par das Portas de Benfica, que estão referenciadas no Inventário de Património anexado ao Plano Director Municipal (PDM) de Lisboa - da reforma administrativa de 1885, que desenhou os limites da cidade tal como existem hoje. Por entre habitações inacabadas, pontificam oficinas e barracões repletos de materiais de construção e lixo diverso.De acordo com o Instituto Português do Património Arquitectónico, as muralhas "não se encontram classificadas como monumento nacional, imóvel de interesse público ou interesse municipal, nem foi apresentada até ao momento qualquer proposta para eventual classificação das mesmas". A mesma entidade assegura que "no que se refere à salvaguarda e conservação dos restos, segundo o PDM, caberá à câmara de Lisboa cuidar da preservação do património municipal não classificado".No entanto, a autarquia da capital não parece estar muito segura do que fazer com a edificação. Maria Calado, a vereadora responsável pelo pelouro da cultura, é a primeira a reconhecer a necessidade de se tomarem medidas no sentido de estudar e preservar a construção, que nem sequer está inventariada. "Estamos sempre atentos e disponíveis para proteger as memórias da cidade", assegura.Por isso, a autarca estará mesmo receptiva a estudar um eventual pedido de classificação, "que pode vir de outras partes que não a câmara". Maria Calado assume que a muralha da antiga circunvalação pode ser importante na construção de um "olhar sobre a cidade, que não se limite a vê-la como um território onde se aglomeram um conjunto de construções associadas a factos conhecidos".Os responsáveis pela preservação do património do novo concelho de Odivelas afirmam desconhecer a importância da muralha, e até mesmo a sua extensão, que de acordo com os planos iniciais seria de quase um quilómetro.

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