A Gruta do Escoural explicada aos visitantes

SÍTIO PRÉ-HISTÓRICO EQUIPADO. O Ippar inaugurou no sábado um centro de interpretação do Conjunto Arqueológico do Escoural, na vila alentejana de Santiago do Escoural, concelho de Montemor-o-Novo onde os visitantes ficarão a conhecer a história e o local, antes de o visitarem.

A principal dificuldade com que se debatem os visitantes da maior parte dos sítios arqueológicos espalhados por Portugal é a falta de informação. O conjunto arqueológico do Escoural, no concelho alentejano de Montemor-o-Novo não era excepção até agora. Mas desde sábado que o Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar) colocou à disposição dos visitantes um espaço onde estes podem ficar a conhecer a história da ocupação da gruta. Além da informação, o objectivo é levar mais pessoas também à vila de Santiago do Escoural.No Centro de Interpretação do Conjunto Arqueológico do Escoural, um espaço rectangular com uma área de cerca de 80 metros quadrados, procurou-se recriar a história da ocupação da gruta. A ténue luminosidade e o som das goteiras e do crepitar do lume pretendem ser os pontos de partida para um recuo no tempo. Nas paredes, o tom amarelo-cobre remete para a cor das estalactites e estalagmites que enchem a cavidade rochosa.Uma sequência de mapas, fotografias e painéis descrevem ao visitante quem, quando e como habitou a gruta, desde há 50 mil anos, acompanhada com uma explicação sumária da evolução do Homem. dado o carácter didáctico da exposição, espera-se que o número médio mensal de mil visitantes suba, tendo em conta que a maior fatia são estudantes.A gruta situa-se na Herdade da Sala, no lugar de Fonte Nova, a cerca de cinco quilómetros da vila. A presença de uma faixa de pedra calcária numa zona dominada pelo granito permitiu a formação de uma cavidade subterrânea constituída por várias galerias, distribuídas por três níveis diferentes. Foi descoberta por acaso, em Abril de 1963, quando os trabalhadores da pedreira que ali estava a ser explorada, depois de rebentarem uma carga de pólvora, deram conta de que se abrira um buraco na parede rochosa, ao qual não viam o fundo. A sua classificação como Monumento Nacional aconteceu apenas seis meses depois.O Escoural foi o primeiro local em Portugal onde se descobriram vestígios de arte rupestre paleolítica. A primeira ocupação remonta ao Paleolítico Médio, há cerca de 50 mil anos, quando os caçadores-recolectores nómadas usaram o espaço como abrigo temporário. Dessa altura encontraram-se instrumentos de pedra talhada e ossos de auroque (antepassado selvagem do boi), veado e cavalo.Entre 35.000 e 8000 anos antes de Cristo, no Paleolítico Superior, a gruta foi usada como santuário rupestre pelos primeiros homens anatomicamente modernos, que usaram as paredes como "tela" de pinturas e gravações de representações zoomórficas, especialmente de equídeos e bovinos. A partir do Neolítico (5000 a.C. a 3000 a.C.), a cavidade transforma-se em cemitério das comunidades de agricultores-pastores da região, onde os corpos eram deixados lado a lado com oferendas.Voltou a ser novamente habitada cerca de dois mil anos depois, mas a população estendeu-se para o exterior, onde construiu um povoado fortificado e um monumento para enterrar os seus mortos.Depois da construção deste centro de interpretação, cujo investimento rondou os 70 mil contos, está já programado o arranque, ainda este ano, de um espaço de acolhimento junto à gruta do Escoural, avaliado em 50 mil contos. É um plano que tem quase uma década e até já houve um outro projecto pronto, que visava a construção, naquele espaço, de um museu - que incluiria o núcleo expositivo que se encontra agora no centro.Acabou por se dividir os espaços porque, segundo explicou Miguel Lima, da delegação de Ippar de Évora, "o objectivo também é fazer com que os turistas redescubram Santiago do Escoural", que tem sofrido as consequências da desertificação. Aliás, o novo equipamento permitiu empregar quatro pessoas ao abrigo do Programa Cultura-Emprego, em parceria com o Instituto do Emprego e Formação Profissional.Antes do início das obras, é necessário "fazer escavações na zona, já que se sabe que também houve ocupação exterior da colina onde está situada a gruta", explicou a arqueóloga Ana Cristina Araújo, comissária científica do Escoural. Se forem encontrados alguns vestígios, então o novo espaço terá que esperar mais uns tempos.

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