Caçadores portugueses participam no abate de lobos junto à fronteira

PROTEGIDOS EM PORTUGAL, OS LOBOS SãO ESPéCIE CINEGéTICA EM ESPANHA. Espanhóis pagam fortunas pelo prazer do abate

"Muelas del Pan viveu durante o passado fim-de-semana uma das caçadas mais espectaculares do couto local San Esteban, em que participaram 150 caçadores de Espanha e Portugal, com mais de 300 cães. Abateram-se 43 peças: 41 javalis, um lobo ibérico e uma raposa, nesta espectacular jornada cinegética". A notícia, com honras de primeira página, saiu na edição da passada terça-feira do jornal castelhano "La Opinión de Zamora".Nos textos e nas fotos dos animais abatidos, o que choca é a exaltação que é feita à morte do lobo - uma espécie ameaçada -, o envolvimento de caçadores e matilheiros de Miranda do Douro e o local da caçada, Muelas del Pan. Esta aldeia da região de Castilla y Léon fica situada a escassos quilómetros da fronteira de Quintanilha, porta de entrada no Parque Natural de Montesinho, onde o lobo tem sido alvo de um grande projecto de conservação. Para além das que ele próprio delimita, o lobo não tem fronteiras. Alguns dos animais que foram capturadas nestas área protegida e depois seguidos através do sistema de telemetria acabaram por passar a fronteira. Um deles apareceu morto no lado espanhol. Protegido em Portugal, o lobo é considerado uma espécie cinegética na maior parte do território espanhol. As excepções são as regiões da Andaluzia, Castilla-La Mancha, Extremadura e a zona de Castilla y Léon situada a sul do rio Douro. A caçada do passado fim-de-semana decorreu na zona situada a norte do rio Douro.Pela legislação portuguesa, os prejuízos causados no gado e atribuídos ao lobo são pagos pelo Ministério do Ambiente. No caso de Castilla y Léon, com a actual lei da caça, em vigor desde Agosto de 1996, essa responsabilidade pertence aos coutos de caça, que, porém, não a cumprem. Revoltados, alguns produtores de gado têm vindo a fazer justiça pelas suas próprias mãos, recorrendo ao uso de venenos, laços e cepos para combater o mítico predador. Os restos desses animais são depois vendidos, a bom preço, a caçadores urbanos, que os guardam em casa como preciosos troféus. Segundo algumas organizações ecologistas da região de Castilla y Léon, existe mesmo um verdadeiro mercado negro em torno da venda de cadáveres de lobos. Matar um lobo é hoje o sonho de muitos caçadores espanhóis, alguns dos quais se dispõem a pagar fortunas por esse prazer. Para conciliar as queixas dos produtores de gado com as pressões dos caçadores, a Junta de Castilla y Léon começou, em 1996, a leiloar o abate de lobos na Reserva Regional de Caça da Serra da Culebra, que faz fronteira com o Parque Natural de Montesinho. Por ano, são mortos dois lobos, um de cada vez, e sempre durante o inverno. O caçador que pagar mais é o que ganha o direito de matar o animal. Há lobos que chegam a render perto de mil contos. A caçada exige apenas do caçador a paciência suficiente para esperar que a sua vítima apareça junto do comedouro onde previamente foram colocados restos de veados ou javalis. O matador é acompanhado por guardas da reserva, que, depois de confirmarem que o animal atraído à armadilha não é nem uma fêmea reprodutora nem um juvenil, dão ordens para premir o gatilho. Morto o lobo, a uma distância de 50 a 100 metros, o autor da façanha fica, como troféu, com a cabeça do animal e o resto é entregue ao "ayuntamiento". Na lei da caça daquela região espanhola, o lobo é considerado um "recurso a explorar". Para os ambientalistas locais, esta visão "produtivista da natureza" é "escandalosa". Na província de Zamora, considerada a mais lobeira de Espanha e onde decorreu a caçada do passado fim-de-semana, deverão existir entre 200 a 350 lobos. No distrito vizinho de Bragança supõe-se que existam cerca de 20 alcateias, num total aproximado de 100 lobos.

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