"Temporada de transição no S. Carlos"

Desenhada pelo ex-director Paulo Ferreira de Castro, a temporada de 2001 do São Carlos, com apenas quatro óperas, deixou de fora "Simon Boccanegra", de Verdi, por razões estéticas e orçamentais. Em contrapartida, foi garantido que no futuro, com a chegada do novo director artístico, Paolo Pinamonti, o teatro entrará nos circuitos internacionais.

É "uma temporada de transição" aquela que vai marcar a vida do S. Carlos, até à chegada do novo director artístico, Paolo Pinamonti: do clássico "Parsifal", de Wagner, ao popular "Barbeiro de Sevilha", passando pela contemporaneidade representada por Janácek e a estreia em Portugal de "Divara", de Azio Corghi, com base em "In Nomine Dei", de José Saramago. A temporada do Teatro Nacional de S. Carlos, anunciada ontem no decorrer de uma conferência de imprensa, com a presença do ministro da Cultura, José Sasportes, abrirá a 10 de Fevereiro com a ópera em três actos de Richard Wagner, "Parsifal". Trata-se de uma produção da Ópera de Nuremberga, com encenação de Bernhard Sinkei, cenografia de Jens Killan e figurinos de Dorothea Katzer. À frente da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do Teatro Nacional de S. Carlos vai estar Hans Walatt. Nos principais papéis actuarão Siegfried Lorenz, Robert Holzer, Hans Tschmaner, Poul Elming - "um dos Parsifais de referência no actual panorama operático", nas palavras do director do S. Carlos, Jorge Matta, que apresentou a programação -, Roy Stevens, Eva Marton e os portugueses Ana Paula Russo, Teresa Cardoso Menezes, Ana Ester Neves, Elvira Ferreira, Ana Ferraz e Dora Rodrigues, entre outros. À semelhança do que acontece com as outras óperas da temporada, "Parsifal" contará com quatro récitas.Depois de Wagner, será a vez de subir à cena, a 10 de Março, a remontagem de "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini, numa encenação de Tito Celestino da Costa, já apresentada na temporada de 1994. "Não será a mesma ópera que vimos já que o encenador está a retrabalhá-la", disse Jorge Matta. Com direcção musical do jovem maestro Paolo Arrivabeni, que em 1999 dirigiu a "Lucia di Lamermoor", de Donizetti - Tito Celestino da Costa assina igualmente a cenografia, os figurinos e o desenho de luzes - o elenco da ópera em dois actos com libreto de Sterbini, segundo Beaumarchais, é constituído por Jon Plazaola, Bruno di Simone, Annarita Gemmabella, Giorgio Giuseppini, Luís Rodrigues, Manuela Moniz e David Ruella. O papel de Figaro, será repartido entre Shon Sims (nas récitas de 10, 12 e 15 de Março) e Javier Franco (nos dias 17 e 19).O Teatro Nacional de Praga volta de novo ao São Carlos e de novo com uma ópera de Leos Janácek - "A Raposinha Matreira", segundo uma novela de Rudolf Tesnohlídek, que estreará a 30 de Abril. No ano passado, a companhia checa trouxe a Lisboa, do mesmo compositor, a ópera "Jenufa" que foi particularmente aplaudida pela crítica em geral. A relação tumultuosa entre pessoas e animais, o cerne da história de "A Raposinha Matreira", conta com encenação de Václac Vezník e coreografia de Daniel Wiesner. Os cantores de serviço desta produção são Yvetta Tannenbergerová, Jolana Fogasová, Ivan Kusnjer, Libuse Márová, Richard Novák, Frantisek Zahradnicek, Alfred Hampl, Karla Bytnarová, Martina Bauerová, Ivona Konecná, Jikta Svobodová, Markéta Bechynová e, entre outros cantores, Jirí Klecher. "Por favor publicitem bem 'A Raposinha Matreira'", pediu Jorge Matta aos poucos jornalistas que se deslocaram ao foyer do S. Carlos.A temporada 2001 fecha com a estreia em Portugal de "Divara", de Azio Corghi, segundo a peça de teatro "In Nomine Dei", de José Saramago. Estreada em Munster, na Alemanha, onde se desenrola a história - a luta fratricida entre católicos e protestantes no século XVI - "Divara" é encenada por Christof Nel, tem cenografia de Hans Dieter Schall e figurinos de Ilse Welter. Na direcção musical está Will Humburg, o mesmo maestro que dirigiu "Blimunda", em 1991, no S. Carlos, com base no romance "Memorial do Convento" do Prémio Nobel da Literatura. Os principais papéis estão entregues a Nina Warren, Ines Krome, Michael König, Jorge Vaz de Carvalho, Daniel Lewis Williams, Agostino Zumbo, Francesco Mirabella e Mark Bowman-Hester. A estreia está marcada para 17 de Julho, contando com mais três récitas - a 19, 21 e 23 do mesmo mês.Além destas quatro óperas, está agendado um recital para o Salão Nobre do São Carlos: Elsa Saque, acompanhada ao piano por Nuno Vieira de Almeida, interpreta canções sobre textos de Antero de Quental e obras de Henri Duparc e Francis Poulenc.De fora ficou a ópera de Verdi, já anunciada, "Simon Boccanegra". A decisão, explicou Jorge Matta, baseou-se no facto de "não ser uma produção inovadora além de ser extremamente cara". Porém, acrescentou, "foi uma decisão bastante difícil".Desenhada pelo ex-director do teatro, Paulo Ferreira de Castro - que, apesar de ter sido convidado para estar presente na conferência de imprensa, não apareceu - a programação foi apresentada por Jorge Matta "como uma temporada de transição".Segundo Jorge Matta, o novo director artístico do S. Carlos, o italiano Paolo Pinamonti, chega em Abril e "em Março daremos a conhecer a temporada de 2001/2002, que irá de Setembro a Julho". Para já, Matta não quis levantar a ponta do véu. "Era delicado - mas posso dizer que a anulação de 'Simon Boccanegra' será largamente compensada por um ou dois grandes Verdis e a presença de grandes encenadores na próxima temporada que colocará o S. Carlos nos grandes circuitos internacionais." Por outro lado, Jorge Matta anunciou que no futuro há a intenção "de levar óperas mais populares ao Coliseu ou ao Centro Cultural de Belém" e garantir "alguma itinerância pela Rede Nacional de Teatros com produções mais leves".Se Pinamonti chega em Abril, Encinar, o maestro titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa, termina o seu contrato no final do mesmo mês. Confrontados com a sua permanência ou não à frente da formação, Jorge Matta e o ministro da Cultura, José Sasportes, apenas confirmaram o que era sabido: que o contrato termina em Abril. No entanto, já a partir de Maio a Sinfónica Portuguesa dará alguns concertos sinfónicos no S. Carlos. "A ideia", explicou Jorge Matta, "é voltar a aproximar a orquestra do seu público. A orquestra tem estado muito afastada do público de Lisboa".Para o ano de 2001, que compreende a temporada agora anunciada e ainda as produções entre Setembro e Dezembro, o S. Carlos conta com um orçamento de 3, 219 milhões de contos.

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