Torne-se perito

Títulos históricos ameaçados

A recuperação do jornal italiano "L'Unitá" parece novamente comprometida, na sequência da interrupção das negociações para a sua venda a um grupo editorial. Em França, o jornal que ainda pertence ao Partido Democrático de Esquerda assume dificuldades e anuncia o despedimento de 80 pessoas.

Novas dificuldades nas negociações entre a comissão liquidatária e o grupo editorial comprador do "L'Unitá" estão a bloquear o relançamento do antigo jornal do Partido Comunista Italiano prevista, sucessivamente, para os meses de Setembro, Novembro e agora para finais de Janeiro. De acordo com um comunicado da comissão de redacção do jornal - suspenso desde o passado mês de Julho - as negociações que deveriam conduzir à transferência do título para a editora de Alessandro Dalai foram subitamente interrompidas sem que se conheçam os motivos. Reunidos em Conselho de Redacção, na passada sexta-feira, os jornalistas do "L'Unitá" perante "este enésimo adiamento que torna ainda mais difícil o regresso dos jornal às bancas" lançaram um ultimato: "se até 30 de Dezembro esta história dramática não encontrar um desenlace positivo, os jornalistas tomarão medidas legais de modo a garantir os seus direitos".Sem se referir explicitamente a uma ruptura das negociações, o editor Alessandro Dalai admitiu que o diálogo com a comissão liquidatária do jornal foi interrompido, mas "não aconteceu nada de irremediável". "Estamos numa fase negocial, mas não se quebrou nenhum acordo, continuamos a trabalhar. Encontramo-nos apenas numa pausa de avaliação de algumas posições que julgamos menos positivas. De qualquer forma, se bem que as coisa podiam ter corrido de outra maneira, continuamos a encontrarmo-nos e a sentarmo-nos à mesma mesa", afirmou Dalai. Nada porém faria suspeitar uma quebra das negociações dias depois do próprio Walter Veltroni, secretário-geral dos Democratas de Esquerda, ainda proprietário do "L'Unitá", ter publicamente afirmado que o acordo para a venda do jornal estava praticamente concluído. Num debate organizado pela revista "MicroMega", Veltroni sublinhou que as propriedades do partido da "Quercia" são "manter o "L'Unitá" um jornal de esquerda, envolver no projecto editores e empresários e salvaguardar postos de trabalho". Ao mesmo tempo, defendeu a ideia de "um jornal que prossiga uma batalha político-cultural, que seja uma fronteira avançada face à realidade em mudança, que seja um espaço de reflexão que nos ajude à compreensão das coisas". No debate, o ex-ministro da Cultura garantiu ainda que a publicação deverá voltar às bancas no final do próximo mês. Em França, o jornal do Partido Comunista não atravessa melhores dias. Depois de várias tentativas de relançamento da publicação, o PCF viu-se forçado a adoptar uma terapia de choque, preparando-se para despedir cerca de um terço dos trabalhadores da empresa. "A situação é mais difícil do que esperávamos", confessou no final da semana passada o secretário-geral do PCF, Robert Hue, enquanto explicava a situação no "L'Humanité". "O jornal está a funcionar para uma difusão de cerca de cem mil exemplares, mas não imprime mais do que 45 ou 50 mil". O plano de reestruturação anunciado prevê o despedimento de, pelo menos, 30 dos 80 jornalistas, mais outros 50 funcionários. Hue sublinhou que os comunistas estão "decididos a salvar o jornal" e contam para isso com um plano de saneamento drástico que consiga ultrapassar o passivo de 1,5 milhões de contos relativo ao exercício do ano 2000. Este já não é o primeiro plano de reestruturação que afecta a vida do "L'Humanité". Em Março de 1999, a direcção do diário tentou recuperar a curva descendente de vendas com alterações na linha gráfica e na fórmula editorial, mas os esforços não surtiram efeitos nem nos leitores nem no mercado. Confrontados com um decréscimo contemporâneo das receitas de publicidade, o PCF decidiu substituir a direcção editorial e, pela primeira vez, desde que em 1901 foi fundado pelo socialista Jean Jaures, o "L'Humanité" abriu o capital a investidores privados. De acordo com as declarações de Robert Hue, o PCF pretende limitar a sua participação no capital social da empresa a 40 por cento, permanecendo como accionista de referência, admitindo a entrada no "L'Humanité" de um grande grupo financeiro. Uma operação que, segundo diz o semanário francês "L'Express" está longe de poder vir a concretizar-se já que nenhum dos grandes grupos contactados pelos comunistas franceses - entre os quais se encontram a France Telecom, a Caisse des Depots, o Canal Plus ou a TF1 - terá manifestado interesse na compra do jornal dado "o fraco peso político do PCF". Para a próxima sexta-feira está prevista uma reunião do Conselho de Administração que, no âmbito da contenção de custos, deverá decidir que a impressão gráfica do jornal seja limitada apenas a uma tipografia da área de Paris.

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