Quadro de Amadeo de Souza Cardoso encontrado nos EUA

Uma exposição itinerante pelos EUA, organizada pelo Ministério da Cultura, sobre a obra de Amadeo de Souza Cardoso, esteve na origem do redescoberta de um quadro do pintor português "Regresso da Caça", dado como desaparecido desde 1914. A obra faz parte da colecção do Museu de Michigan.

O quadro "Regresso da Caça" do pintor português Amadeo de Souza Cardoso foi reencontrado, no Museu de Michigan, nos EUA. Depois de mais de 80 anos de ser dada como perdida, a tela foi localizada pelo interesse suscitado pela obra do pintor depois da exposição organizada pelo Ministério da Cultura e que esteve em Washington, Chicago e Nova Iorque.A recepção da imprensa à mostra foi importante: na maior parte dos casos, a obra de Souza Cardoso foi considerada como a de um grande modernista ignorado quer pelo grande público quer pela crítica. Foram estas notícias que levaram os responsáveis do Museu de Michigan a revelar que tinham entre a sua colecção "Regresso da Caça". A "redescoberta" do quadro esteve ligada ao facto de se ter falado em outros quadros vendidos pelo próprio artista nos EUA, no âmbito da grande exposição internacional modernista Armory Show de Nova Iorque e Chicago, realizada entre 1913 e 1914. Desde 1914 que se pensava que o quadro se encontrava perdido. Sabia-se que o pintor e coleccionador Manierre Dawson o tinha adquirido no Armory Show, mas, desde então, ignorava-se completamente o seu paradeiro. Foi então que a directora do Museu de Michigan contactou o Arts Club de Chicago, revelando que "Regresso da Caça" tinha sido doado por Dawson àquela instituição.Helena de Freitas, do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, actualmente a organizar com José Sommer Ribeiro, António Cardoso e o Serviço de Restauro da Fundação, o catálogo "raisonné" - uma compilação de todas as obras de um autor para salvaguardar a autenticidade dos seus trabalhos - vai contactar o Museu de Michigan a fim de "obter informações mais detalhadas sobre a pintura". Cautelosa, Helena de Freitas afirma: "No caso de se confirmar a autenticidade da informação trata-se de uma descoberta extraordinária." Ao mesmo tempo, sublinha a importância das mostras itinerantes, "estas exposições são fundamentais para colmatar vazios e descobrir outras obras de outros artistas que possam estar na mesma situação".O Centro de Arte Moderna da Gulbenkian é a instituição que possui na sua colecção o maior número de obras de Amadeo - cerca de 50 -, que terá produzido, segundo a investigação em curso para o catálogo "raisonné" (cuja edição está prevista para 2002), cerca de 300 obras. Pedro Lapa, director do Museu do Chiado, mostrou-se manifestamente surpreendido com a notícia da localização. "É fantástico", disse ao PÚBLICO. Segundo o director do museu, esta redescoberta "vem mostrar que o universo da história de arte do século XX português pode ainda revelar surpresas destas e que a investigação neste período ainda não está esgotada". Uma afirmação que é inteiramente corroborada por Helena de Freitas. De acordo com Pedro Lapa, situações desta natureza "continuarão a acontecer porque a produção de arte moderna portuguesa é muito pouco conhecida no estrangeiro, sobretudo nos casos de artistas da primeira metade do século". E recorda que, quando em 1996, o Museu do Chiado organizou uma retrospectiva em torno da obra de Mário Eloy contactaram-se vários museus de Berlim - onde o pintor viveu durante vários anos - mas todas as tentativas se mostraram infrutíferas. A exposição de Souza Cardoso - que contou com o apoio do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, do Museu de Amarante e de alguns coleccionadores privados - terminou a 16 de Outubro na Aza Galery de Nova Iorque, depois de ter passado no Corcoran Museum, de Washington, e no Arts Club em Chicago. A mostra foi acompanhada por um catálogo, organizado pelo Ministério da Cultura através do Gabinete de Relações Internacionais, com textos de, entre outros, José-Augusto França, Joana Cunha Leal, Lourdes Simões de Carvalho, Keneth E. Silver, Laura Coyle e Pedro Lapa.

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