Maquinista morre no Douro

O descarrilamento de um comboio na Linha do Douro, próximo da Estação de Ermida, em Baião, provocou ontem a morte do maquinista e ferimentos em sete passageiros. A composição colidiu com uma rocha de grandes dimensões que tinha desabado junto à via-férrea momentos antes. O Sindicato dos Ferroviários do Norte responsabiliza a Refer pelo sucedido.

A culpa pode ter sido de uma fraga de grandes dimensões que desabou junto à linha de caminho-de-ferro, nas proximidades da Estação de Ermida (Baião). A culpa pode ter sido do destino - o comboio circulava naquele local com mais de 30 minutos de atraso e, momentos antes de a rocha ter desabado, uma viatura de inspecção à via tinha dado luz verde à circulação. Segundo o Sindicato dos Ferroviários do Norte, a culpa pode ainda ter sido da própria Refer, a empresa responsável pela gestão das linhas férreas nacionais. Não terá avaliado bem as consequências do mau tempo sobre as condições de circulação. O acidente acabaria por ter consequências fatais para o maquinista da composição, Bruno Sousa Vieira, de 59 anos. O cadáver foi resgatado das águas do Douro, já ao fim da tarde, por mergulhadores de corporações de bombeiros da região. Além disso, provocou sete feridos (o ajudante do maquinista, dois revisores e quatro passageiros). Uns foram transportados para o Centro de Saúde de Baião, outros para o hospital da Régua, mas nenhum ficou internado. Tudo se passou às 7h30. O comboio que viajava do Tua em direcção a S. Bento, no Porto, embateu violentamente numa fraga gigantesca e descarrilou. A máquina (uma locomotiva diesel 1400) foi projectada para o rio Douro e a primeira carruagem ficou suspensa sobre a ribanceira, a poucos centímetros da água. A segunda carruagem do comboio ficou apoiada na fraga que originou o acidente, com as rodas de um dos lados no ar. As restantes três carruagens não tiveram problemas. O acidente foi tão aparatoso que muitas pessoas que chegavam ao local consideravam que "só por milagre" não tinha havido mais mortos. Que o diga o condutor do comboio que, apesar de ir na cabina da locomotiva junto ao maquinista, conseguiu saltar e cair junto ao rio, centímetros abaixo do local onde foi embater a primeira carruagem com cinco ou seis pessoas. Ao todo, segundo a Refer, viajavam no comboio cerca de 50 pessoas.O desprendimento da rocha que provocou o acidente ocorreu breves momentos antes da passagem do comboio. Dez minutos antes da passagem do comboio passou pelo local um veículo de inspecção à via - conhecido por Drasin - e tudo se encontrava normal. Durante o Inverno, antes da passagem de qualquer comboio, a Refer faz circular na via-férrea este veículo para verificar se não existe qualquer desabamento de terras que possa provocar problemas. "A pedra deveria ter caído à passagem do comboio, senão o maquinista tinha-a visto [o local é antecedido de uma recta] e teria frenado [travado] e nada disto aconteceria", afirma José Manuel Cardoso, delegado do Sindicato dos Ferroviários do Norte, presente no local. Mesmo assim, este sindicato responsabiliza a Refer pelo acidente. "Esta via no Inverno não tem condições de segurança, o perigo espreita em qualquer sítio. Todos os anos há problemas com barreiras nesta via e ninguém toma medidas. Está em causa a vida do pessoal que conduz e das pessoas que viajam", acusava Joaquim Ribeiro, delegado daquele sindicato. Antigo maquinista nesta via, Joaquim Ribeiro confessa que em dias de tempestade ficava sempre "com o coração nas mãos". Na sua opinião, esta linha foi "esquecida" pela Refer, já que necessita de melhoramentos nas trincheiras de acesso à via e de mais vigilância. Segundo aqueles sindicalistas, os acidentes ou pequenos problemas nesta via vão-se sucedendo. Ainda no Inverno passado, a poucos quilómetros do acidente de ontem, descarrilou um outro comboio que "só por sorte não caiu ao rio". Quem, ainda bebé, sofreu o impacte de um descarrilamento na Linha do Douro foi o próprio secretário de Estado da Administração Marítima e Portuária, José Junqueiro, que se deslocou ontem ao local do acidente. "A Drasin passou aqui 10 minutos antes do acidente e não teve qualquer problema. Era impossível prever que isso iria acontecer", sublinhava.O governante anunciou ter pedido à CP que fossem analisadas as "condições da encosta e o porquê do desprendimento" e disse ser necessário inspeccionar toda a Linha do Douro."Esta linha está inserida numa zona geológica complicada, há desabamentos de terras, de rochas, mas este acidente era totalmente imprevisível", explicava por seu lado José Moutinho, responsável pela Zona Operacional de Conservação Porto da Refer. Moutinho não foi, todavia, capaz de fazer uma previsão sobre a data de reabertura da Linha do Douro, mas, de acordo com a CP - empresa que só responde pela circulação rodoviária -, os comboios não irão circular durante o dia de hoje.

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