Belle Chase Hotel festejados a rigor

Com uma lotação completamente esgotada pela frente e rendida aos seus encantos e charme, os Belle Chase Hotel apresentaram-se anteontem à noite em Coimbra, no Teatro Académico Gil Vicente, para a apresentação do seu mais recente trabalho, "La Toilette des Étoiles". A ocasião especial foi festejada a rigor, num concerto muito aplaudido, que juntou em palco 15 músicos.

Canções feitas de ruínas humanas, envolvidas em veludo velho, encharcadas em álcool, e perdidas de fumo. É este o universo da música mosaico que os Belle Chase Hotel praticam, uma paleta desenfreada que não se envergonha de juntar cabaret, bossa-nova, Edith Piaf, Serge Gainsbourg e Jane Birkin, tango, jazz em formato de big band e blues. A fórmula, que já tinha servido para o primeiro álbum da banda portuguesa ("Fossanova", editado em 1998), regressa, ainda mais elaborada, no seu último trabalho, "La Toilette des Étoiles", produzido por Joe Gore e editado há cerca de um mês. A primeira apresentação oficial ao público foi anteontem, no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, com a surpresa de uma formação alargada que juntou cerca de 15 músicos em palco ao longo de quase duas horas. Com uma lotação esgotada pela frente, os Belle Chase Hotel não tiveram grande dificuldade em conquistar o público que, desde o início, já estava completamente rendido ao charme decadente e à pose de "loser" de J. P. Simões, vocalista e mestre de cerimónias. A noite arrancou com "La Toilette des Étoiles", tema que dá nome ao disco, simpaticamente "patrocinada pelas loiças de Sacavém". Em palco, estavam um acordeão, violino, piano, guitarra e baixo, a que se juntaram, para o tema seguinte, "São Paulo 451", um quarteto de cordas (três violinos e um violoncelo), "os irmãos Shostakovitch, generosamente aconselhados pelo Kronos Quartet".Entre cada tema, J.P. não se coibia em fazer pequenos apontamentos e gracejos, numa espécie de "stand-up comedian show". Entre muitos outras coisas, explicou ao público, numa homenagem à paciência e virtudes feminina, ter pensado que "os Belle Chase Hotel poderiam ter sido a primeira banda do mundo a fazer uma operação de mudança de sexo, não fora a falta de tempo e agenda carregada de compromissos".A "Merry go round" ("uma história de amor que acabou mal, para variar"), que juntou nas vozes Raquel Ralha, seguiu-se "Paganini's Fire" ou "Não consigo resolver a minha vida familiar e vou comprar bombas", descrita como um "blues chateado".O concerto percorreu de forma quase exaustiva "La Toilette des Étoiles". De fora do alinhamento ficaram apenas "Evil Rock", "Light Movie", "Star Sound" e "Nimaroi". Os novos temas receberam tratamento a rigor, pincelados com acordeão, secções de sopros e cordas, que se traduziam na criação de ambientes ao mesmo tempo sofisticados mas com um charme podre.A primeira parte contou ainda com "Perfume of the Stars", "dedicado à vanguarda do amor e patrocinado pela Chanel", onde não faltaram uns coros celestiais deliciosamente kitch, e dois temas de "Fossanova, "Strong Sex" e "Sunset Boulevard", irreconhecível, numa interpretação digna de Frank Sinatra saído de um casino bolorento a que não faltou uns apontamentos de órgão manhoso. Por outras palavras, "a música que fez de nós aquilo que somos hoje, que nos levou à juventude inquieta em busca de novas estéticas e que mais bifanas fez vender". "I want you but i don't", "uma música sobre a ironia do amor" de Momus terminou na perfeição o primeiro set. O regresso ao palco não se fez esperar. "Showbizz oblige. Temos que sair para depois voltar", explicou J.P Simões. "Fossanova" foi, novamente, chamado à convocatória, com um melancólico "Living Room" e o viperino "Scorpions in Love".O concerto terminou, de forma apoteótica, num segundo encore, com "Mirago", retirado do último álbum e interpretado com o charme e elegância de pose de estrela de cinema dos anos 20 de Raquel Ralha, e, para não destoar, "Goldfinger", tema celebrizado por Shirley Bassey em "007". Terna foi a noite.

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