Torne-se perito

A nova TVI começa no I

Quando, desde há meses, José Eduardo Moniz negava que os outros canais fossem adversários pretendia apenas adiar para o início da nova grelha a guerra intensa que pretendia travar com o seu inimigo de sempre: a SIC.A TVI tinha de conquistar audiências e as únicas disponíveis são as que já existem; e um canal comercial como a TVI só pode querer as audiências do outro canal comercial.A actual guerra de palavras entre os dois canais é irrelevante, apenas um efeito colateral do que realmente conta: aquilo que está em antena em cada um dos canais. A SIC mantém para já a estratégia de programação, que a audimetria revela continuar ganhadora, tendo apenas ajustado a programação - ou a contra-programação - para evitar perdas para a TVI. Este operador, por seu lado, teve de mudar de imagem, de postura, de programação informativa e recreativa.Pela quarta vez em sete anos, a TVI mudou de imagem. Só este facto revela a inconstância e desorientação por que passou a empresa. Mudou também de mãos mais do que uma vez e, ainda, de instalações. Nada corria bem. Chegou-se aos tribunais. Neste momento, a estabilidade da empresa, mesmo a nível de accionistas, só existirá se o vil metal começar a entrar nos cofres esbulhados pelas incompetências anteriores. Apesar de a empresa não divulgar os números do ano passado, o que, julgava eu na minha ignorância, é obrigatório por lei, as coisas parecem estar melhores.Toda a gente tem a ganhar com a saúde económica da TVI e não apenas os accionistas: os seus colaboradores, o meio televisivo em geral, e o público, que pode esperar, em princípio, uma programação mais adequada aos seus interesses e expectativas.A nova cara do canal começa no seu cartão de visita - e também nele, no novo logotipo da TVI, se aponta para um combate contra a SIC: está lá o mesmo anel que caracteriza o logotipo da SIC, e em ambos os anéis abraçam a própria estação (SIC num caso e o I de Independente no outro). Em qualquer deles o anel simboliza o público, a multidão reunindo-se em torno do canal. É a multidão do estádio, é a aliança que une para sempre. O anel está virado para dentro, para a letra ou letras que simbolizam o canal. Antes de o logotipo aparecer no canto do écrã, vemos um separador com o nome da estação em que o anel se movimenta em torno do I: é a multidão a escolher a TVI. Depois, surge o logotipo no canto com a novidade de o I estar sempre em movimento, simbolizando a mudança permanente por parte do canal de forma a satisfazer o anel que abraça o I, o público. O signo da estação substancia a imagem renovada da estação, particularmente visível noutro I, o de informação. Neste sector as mudanças foram significativas e contribuem para o dinamismo e uma maior ligação do público ao canal.O novo estúdio dos noticiários da TVI coloca esta estação em grande vantagem estética, pois o estúdio tem cores bonitas, uma respiração espacial excelente, mobiliário decente e uma boa iluminação. O estúdio da SIC, que antes parecia tão grande e luminoso, transformou-se por comparação num cochicho. Do da RTP1 nem vale a pena falar: parece uma loja de centro comercial suburbano com móveis de desmontar e luzes fluorescentes dependuradas dum tecto falso manhoso.Na TVI, os arquitectos aproveitaram o espaço disponível da melhor forma: a linha de vista que temos em casa, a partir da principal câmara do noticiário, é a diagonal de um quadrado, isto é, a maior distância possível que se podia mostrar no espaço existente (ver diagrama). Num canto da diagonal está a câmara principal dos noticiários e, por inerência, da estação. Ao centro da linha fica a cadeira do pivot - que é o trono principal de qualquer estação de televisão com noticiários. É lá que se senta Manuela Moura Guedes. Ao fundo da diagonal, já quase imperceptível nos nossos televisores, fica a secretária onde se senta o Director de Programas: o outro trono. É lá que se senta José Eduardo Moniz. O rei e a rainha estão nos pontos fulcrais da arquitectura.À esquerda e à direita dos tronos, preenchendo os dois triângulos que a diagonal do quadrado divide, ficam as abelhas obreiras nos favos da redacção: os jornalistas dos vários departamentos arrumam-se em dois pisos que têm uma face visível para nós, como na colmeia. É lá que produzem o mel que enche os noticiários. Todos os estúdios televisivos em que se vê a redacção pretendem dar esta ideia de que «eles» estão sempre a trabalhar, a produzir notícias sem fim, para nossa satisfação.As outras novidades da nova grelha informativa da TVI foram: a mudança de nome e a colocação do noticiário principal cerca das 20h00; uma informação mais activa, buscando notícias e reportagens, querendo dar cachas, com mais jornalistas e aproveitando os que já tinha; os grafismos; e os novos pivots, nomeadamente Manuela Moura Guedes. A análise destas novidades fica para um segundo artigo.

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