Hospital da Prelada quer partilhar gestão

O provedor da Misericórdia do Porto queixa-se da forma como têm sido conduzidas as negociações para encontrar um parceiro para a gestão do Hospital da Prelada. José Luís Novais diz que "houve uma certa precipitação" e que "andaram demasiadamente" à sua frente. A Misericórdia tem mantido "conversações" com uma empresa do Grupo Mello, mas entretanto surgiram mais três interessados.

A Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) pode vir a partilhar a gestão do Hospital da Prelada com uma entidade exterior à instituição e para o efeito tem mantido contactos com a José de Mello Saúde, uma empresa do Grupo Mello com participações nas sociedades gestoras dos hospitais da CUF e das Descobertas, em Lisboa, e que administra o Hospital da Amadora-Sintra. "As conversações estão bastante adiantadas", disse ao PÚBLICO, José Luís Novais, negando a existência de qualquer acordo com aquela empresa e frisando que "a SCMP não de afastará da administração do hospital".Novais revela que entretanto foi contactado por três outras entidades interessadas em gerir o Hospital da Prelada - a Clipóvoa, da Póvoa de Varzim, um grupo que reúne médicos do Porto e uma instituição que não identificou. Em sua opinião, "a Misericórdia devia analisar também as propostas destes interessados" e só depois escolher o seu parceiro. O provedor está contra a possibilidade de ser fechado negócio com a José de Mello Saúde e não consegue disfarçar algum mal-estar face ao modo como processo tem sido conduzido."Houve em tudo isto uma certa precipitação. É a minha maneira de pensar", desabafa, para logo a seguir sublinhar que "um caso destes devia ser discutido em assembleia geral". Porque, continua José Luís Novais, "a Misericórdia não é nossa, não nos pertence". Refira-se que as negociações com a José de Mello Saúde têm sido conduzidas pelo vice-provedor, Jorge Calheiros, e pelo mesário (designação dos membros da instituição) responsável pelo Hospital da Prelada, Costa e Almeida. "São eles os principais interlocutores por parte da Misericórdia", refere o provedor.Tanto Jorge Calheiros como Costa e Almeida "estão de férias", segundo informação prestada ontem pela SCMP. Novais confirma e sugere que o têm deixado à margem do processo. "Andaram demasiadamente à minha frente, sem me terem dito nada", queixa-se, ressalvando que não está em causa a eventual escolha da José de Mello Saúde para compartilhar a gestão do Hospital da Prelada. "Mello é um nome muito credível, mas eu ainda sou o provedor. Só que havendo outros interessados, isso obriga-nos a ouvi-los", reforça. O PÚBLICO tentou também ouvir um responsável da José de Mello Saúde, mas em vão.Em funcionamento desde Outubro de 1988, depois de um processo que se arrastou durante dezenas de anos, o Hospital da Prelada tem 300 camas, dispõe de serviços de Ortopedia, Cirurgia Plástica e Fisioterapia, para além de uma unidade para doentes queimados, e ainda tem dois pisos vazios (os últimos), "porque ainda não chegou o momento de os aproveitar". Começou por ser gerido pela Hospitália, que tinha como responsável máximo Silveira Botelho, antigo chefe de gabinete da ex-ministra da Saúde Leonor Beleza. Novais não guarda boas recordações dessa ligação, porque "a Hospitália ficou estupidamente cara à Misericórdia".Foi então a vez da instituição chamar a si essa tarefa. Até hoje e, segundo o provedor, "com bons resultados". Acontece que o administrador que nos últimos anos esteve em funções, Menezes Correia, anunciou a intenção de se retirar, o que levantou a questão da sua substituição. É disso que a Misericórdia está a tratar - e daí as negociações entabuladas com a José de Mello Saúde, uma sub-"holding" do grupo José de Mello na qual a Farmindústria, empresa do universo da Associação Nacional de Farmácias, detém 30 por cento do capital.No ano passado, a actividade consolidade da José de Mello compreendeu vendas superiores a 125 milhões de contos. A empresa está a liderar o investimento num "novo hospital privado de dimensõs semlhantes às do Hospital da CUF em Lisboa (168 camas e 650 empregados) - o Hospital das Descobertas, no Parque das Nações", que tem abertura prevista para Abril de 2001. Esta nova unidade representa um investimento de 6,8 milhões de contos.

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