A caminho de Sagres

Da Carrapateira a Sagres, há mais de dez praias em cerca de 20 quilómetros de costa. São ventosas, de águas frias e nem sempre de fácil acesso. Mas são imbatíveis, em termos de beleza, e perfeitas para usufruir do último mês de Verão. Luís Maio (texto) e Luís Ramos (fotos) fartaram-se de castigar os ossos e de comer pó, mas foi um sacrifíco largamente compensado por múltiplos prazeres naturais.

Depois de termos considerado o sul de Vila do Bispo (Fugas 8/7/2000) e o conselho de Alzejur (Fugas 5/8/2000), concluimos hoje o roteiro das praias da Costa Vicentina passando em revista a faixa litoral que vai da Carrapateira a Sagres. Deixámos estas praias para o fim porque, à excepção da vila de Sagres, não há aqui praticamente nenhumas infra-estruturas turísticas, sendo uma das áreas menos povoadas no perímetro do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina. Na prática, isto significa que não são um destino para assentar arraiais e passar férias. Mas, uma vez escolhido um lugar onde ficar na costa alenteja, ou na algarvia, proporcionam uma excelente alternativa para a enchente de outras praias no pico do Verão, como ainda constituem um itinerário privilegiado para fazer longos passeios nos dias mais frescos de Setembro. É daquelas praias que nem aos amigos se deveria falar. Em compensação, o acesso é tão difícil que não se prevê que por ser mencionada num jornal passe a ser mais concorrida. Não vem assinalada na estrada, nem resulta simples explicar como se vai lá dar. Uma possibilidade é tomar por referências as pás das torres de energia eólica que ficam sensivelmente a meio dos doze quilómetros de estrada entre a Carrapateira e Vila do Bispo. Aí, vira-se algures no sentido do mar e tenta-se a sorte num dos vários carreiros de terra batida que cortam a paisagem. Se não tiver um 4X4 e um telemóvel o melhor é mesmo não arriscar, porque são cinco quilómetros a castigar o automóvel sem uma única casa onde ir bater em caso de acidente. A praia, em si, é soberba. O areal terá uns 700 metros de comprimento, recortados por falésias rochosas e elevadíssimas. O mar é hiper-batido e, previsivelmente, não há vigilância. A compensação é que, na maré baixa, forma uma piscina natural onde é perfeitamente seguro tomar banho. Também é um paraíso para os nudistas. Quer uma praia privada, um extenso areal só para si no Algarve, mesmo num domingo de Agosto? Então Mirouço e Mouranitos são as praias para si. O "pequeno" problema volta a surgir: consiste em saber como lá chegar. Pode sair da estrada em frente às tais ventoinhas da energia eólica, como se fosse para Murração, e procurar adivinhar qual dos carreiros à esquerda lá vai dar, ou vir também por caminhos de terra batida da Barriga. Mas chegado ao topo da arriba, alta e a pique, não vislumbrará qualquer caminho até lá baixo. Saindo de Vila do Bispo em direcção ao Castelejo, cerca de dois quilómetros depois encontra-se um parque de merendas aprazível, que inclui "barbecue" e um escorrega. À esquerda, há um caminho de terra que vai dar à Torre de Aspa, um marco geodésico, mas antes disso vale a pena parar no antigo posto da Guarda Fiscal, que agora é propriedade do Ministério do Ambiente. A casa não é especialmente apelativa, mas a vista panorâmica é fantástica, sobretudo para norte, onde se avistam as praias da Águia, Castelejo, Cordama e Barriga que, quando a maré baixa, se percebe serem realmente uma só. Justamente a Águia é uma reduzida concha de areia quase só acessível a partir do Castelejo na maré baixa. Esta segunda é a de mais fácil acesso, uma vez que é a única que se encontra alcatroada nos cerca de três quilómetros que dista de Vila do Bispo. Alcatroaram, mas não alargaram, o que quer dizer que dois carros que se cruzem no caminho só passam se sairem para a berma. A visibilidade é boa, mas para quem sobe pelo lado de fora entre curvas e contracurvas sobre o abismo pode resultar bastante traiçoeiro. Num "placard" situado mesmo à entrada do areal, o utente é informado pela Câmara de Vila do Bispo que a praia do Castelejo foi galardoada com bandeira azul, mas que só poderá ser hasteada quando o apoio à mesma for concluído. Mesmo ao lado, também se anuncia que se precisa de um nadador-salvador, assim como de um empregado de cozinha e de mesa. Como estes sinais já deixam adivinhar, o café-restaurante ao lado direito de quem entra no Castelejo encontra-se encerrado para remodelação e a praia este ano não tem vigilância. O areal na maré baixa pode ter um quilómetro de comprimento, boa parte do qual ocupado por formações rochosas. Com a maré cheia é estreito e diminuto e não há muito espaço para enterrar o chapéu de sol. É, provavelmente, o que menos interessa aos surfistas, que são quem actualmente a mais frequenta. Previsivelmente o mar é muito ondulado e a água a dar para o gelado. A Cordama (diz o mapa), ou Cordoama (diz a placa) é mais do mesmo, com a diferença do areal ser bastante mais extenso, haver vigilância e o restaurante à entrada estar aberto. Tem o nome bonito de "O Encantado" (tel: 282 639813) e serve doses de espadarte grelhado a 1600$00, de sargo a 1800$00 e de anchova a 1600$00. Também aluga chapéus de sol e pranchas de "bodyboard". Especificidades que confluem para eleger a Cordama como uma praia familiar, especialmente do agrado dos estrangeiros. O único contra é o acesso, que se faz em 2,5 kms de estradão, largo, mas acidentado, que parte da estrada alcatroada de Vila do Bispo ao Castelejo. Da Cordama à Barriga vai-se a pé na maré baixa, ou então seguindo o mesmo estradão em mais 3,5 kms, que se torna mais estreito e difícil de percorrer, com a grande contrapartida da paisagem neste troço ser particularmente deslumbrante. Em contraste com os planaltos agrestres onde predominam o zimbro e outros arbustos pequenos, nesta zona mais protegida há bosques de pinheiro manso, de pinheiro bravo e de alepo, além de eucaliptos, sobreiros e azinheiras. De mais difícil acesso, a praia da Barriga não têm vigilância e a sua faixa de areal é menos extensa que a da Cordama. Por isso talvez aqui há menos carros estacionados e mais matrículas portuguesas que estrangeiras. Outra maneira de chegar à Barriga é, na estrada que vai de Vila do Bispo à Carrapateira, virar à esquerda cerca de um quilómetro depois, quando aparece a placa de perímetro florestal. A terra batida é que é sempre a mesma. Em Vila do Bispo só há uma pensão sobre o café Mira Sagres. Fica no largo, mesmo em frente à igreja e os quartos custam 5.000$00 sem casa de banho e 7.000$00 com. Não aceitam marcações, mas em caso de estar cheia há quartos para alugar nas redondezas por preços semelhantes. Quase em frente, fica o Café Correia, que os locais nos recomendaram, mas que estava fechado no sábado em que lá estivemos. Noutra esquina do largo da igreja há o restaurante Central que tinha como pratos do dia atum de cebolada a 1100$00, choquinhos fritos a 980$00 e dourada a 1800$00. Chega-se a estas praias por caminhos de terra batida a partir de Vila do Bispo, ou de Sagres. A segunda hipótese é, eventualmente, a mais fácil e segura: na estrada que vai de Sagres ao Cabo de S. Vicente, há um desvio no Beliche para o interior. Não está indicado, mais é facilmente detectável, ou então pergunta-se nos restaurantes e casas de cerâmica das imediações. Cerca de três quilómetros depois encontra-se um caseiro e a estrada bifurca-se. Seguindo-se pela esquerda chega-se à praia do Telheiro, embora os últimos 300 metros só se atinjam de 4x4. O resto tem de se fazer a pé e o caminho é ingreme, sendo praticamente impossível percorrê-lo de chapéu de sol numa mão e de geleira na outra. De modo que, mesmo no meio de Agosto, não há quase ninguém, até porque a praia é muito ventosa, não tem vigilância e o mar é quase sempre intimidante. Os estrangeiros, no entanto, gostam de visitar o Telheiro e quando lá passámos havia dois "jeeps" com os dizeres Geografic Safari cheios de jovens estrangeiros. Voltando ao caseiro em que o estradão se bifurca, seguindo pela direita 3,5 km depois atinge-se a praia da Ponta Ruiva. É assim chamada devido à cor singular do rochedo que a recorta do lado esquerdo e que fica rodeado de água durante a maré cheia, mas onde se vai passear a pé quando baixa. Tem mais de um quilómetro de comprimento, não é tão ventosa quanto as que lhe são contíguas, e mesmo não sendo vigiada, é costume haver bastantes surfistas dentro de água. Frequentam a zona norte do areal, no extremo da qual se encontram alguns nudistas, enquanto as famílias preferem assentar arraiais na parte sul. Há estacionamentos improvisados em vários níveis e o sequente acesso a pé não é problemático.Fica a três quilómetros da vila de Sagres na estrada que vai dar ao Cabo de São Vicente. O parque de estacionamento é amplo e o acesso à praia faz-se por uma escada de cimento que é nova e larga até meio, enquanto a parte inferior é antiga e íngreme, sobretudo para quem sobe. A meio desta segunda há, no entanto, uma pequena esplanada em madeira, que é excelente para fazer uma pausa da canseira da escalada, ou então para beber um aperitivo enquanto se assiste ao pôr do sol. A praia do Beliche, protegida por falésias elevadas, é a mais abrigada da zona de Sagres. Terá mais de quilómetro e meio de comprimento e é tão larga que o espaço não falta mesmo nesses dias de ventania em que se torna mais concorrida. É vigiada e pode-se alugar cadeiras, toldos e gaivotas. Quando lá estivemos na semana passada, apresentava um colorido quadro humano, sobretudo juvenil e com muitos estrangeiros.Na fortaleza do Beliche há uma pequena, mas espectacular extensão da Pousada de Sagres. Só tem quatro quartos e se decidir lá ficar peça o número 4, que é o único com vista para o mar. O quarto duplo custa até ao final de Outubro 16.300 escudos e o individual 14.800 (reservas para o telefone 282 624124 e fax 282 624225). Para quem só estiver de passagem, recomendam-se as duas esplanadas nas esquinas da fortaleza, mesmo sobre o mar, e o restaurante com uma excelente cozinha e um serviço de cinco estrelas. O gaspacho a 450$00 é uma delíciosa entrada, recomendando-se, como pratos principais, o arroz de polvo malandrinho a 1800$00 e as lulas à algarvia a 1900$00. São as duas praias mesmo à beira da vila Sagres, uma de cada lado da Fortaleza. Nem por isso o acesso ao Tonel é mais explícito. Passadas as bombas de gasolina da Galp, chega-se a uma rotunda, onde há placas indicando o Tonel e a Fortaleza. O visitante desprevenido seguirá em frente, julgando que a praia fica depois do edifício histórico, quando, de facto, há um desvio não sinalizado para a mesma à direita, logo a seguir à rotunda. Em qualquer dos casos, não há quase lugar para deixar o carro e talvez seja preferível deixá-lo no parque de estacionamento da Fortaleza. A praia é linda, sobretudo por causa das formas sinuosas das falésias que a enquadram. Terá perto de dois quilómetros de extensão, embora seja muita estreita na maré baixa, o que dificulta o acesso à sua extremidade norte. Esta é menos frequentada e não tem vigilância, ao contrário da parte sul, onde há toldos, caixotes do lixo e uma esplanada em madeira. A Mareta é a praia mais familiar de toda a região. O mar é calmo ao ponto de não apresentar uma onda sequer, desde que não se levante o vento de sudoeste. Apresenta bandeira azul, é vigiada, tem toldos e dois bares-restaurantes. No pico do Verão, o areal com mais de um quilómetro de extensão tende a estar tão cheio quanto o das praias mais concorridas do Algarve, sendo de recomendar, a quem vai de férias com as crianças, e de evitar, a quem precisa de sossego. Em Agosto, este ano, tanto o Tonel como a Mareta foram invadidos por legiões de turistas italianos. O que não falta em Sagres são quartos e apartamentos para alugar a preços populares, o que presentemente significa entre 5000$00 e 10.000$00 diários. Mas, em contraste com o que sucede na maior parte da Costa Vicentina, também aqui há estabelecimentos hoteleiros de gama mais alta. Pousada do InfanteTel: 282 624222 e fax: 282 624225Magnífica vista oceânica, luxuosa tranquilidade e todas as comodidades. Totalmente indicado para primeiras e segundas núpcias. O quarto duplo custa 25.100$00, o individual 23.600$00 e a suite 31.100$00. Navigator AparthotelTel: 282 624354 e fax: 282 624360; e-mail: hotel.navigator@mail.telepac.pt e site: http://www.sagres.net/navigator55 apartamentos com vista para o mar, que incluem um quarto, salão com terraço, casa de banho, "kitchnette", rádio, TV satélite, telefone, ar condicionado e aquecimento. Em Agosto, os apartamentos custam 17.000$00, em Setembro 13.500$00 e em Outubro 11.000$00.Hotel da BaleeiraTel: 282 624212 e fax: 282 624425; e-mail: hotel.baleeira@mail.telepac.pt e site: http://www.sagres.net/baleeiraMesmo em frente ao porto de Sagres, tem quartos duplos a custarem 17.800$00, em Agosto e Setembro, e individuais a 13.600$00 nos mesmos meses. Para ter um quarto com vista para o mar paga-se mais 2.000$00. Pensão D. HenriqueTel: 282 620000 e fax: 282 620004No centro da vila de Sagres, tem 18 quartos com casa de banho, aquecimento e TV (satélite). Na presente época alta, os quartos com vista para o mar custam 13.000$00 (individuais) e 15.000$00 (duplos); sem vista, são 12.000$00 (i.) e 15.000$00 (d.)Parque de campismoTel: 282 624351 e fax: 282 624445À saída de Sagres em direcção ao Cabo de S. Vicente, cerca de um quilómetro depois há um desvio à direita para o parque de campismo, que fica a mais 900 metros. Custa por pessoa 750$00 em Agosto e 650$00 em Junho, Julho e Setembro; a tenda, entre três e 12 metros quadrados, custa 800$00 (Agosto) e 700$00(Junho, Julho e Setembro) e o automóvel 450$00 (A.) e 400$00 (J., J. e S.). Tem supermercado, parque infantil, bar-restaurante e aluga bicicletas, o que atendendo, à sua localização, é muito conveniente para quem não tiver carro e não quiser arriscar a boleia. Vila Velha Tel: 282 624788A escassos metros da Pousada e do Navigator fica o excelente restaurante Vila Velha, que só serve jantares. Tem uma ementa vasta que inclui pratos vegetarianos e para crianças. O menu custa 4950$00. Inclui tosta com salmão fumado e queijo creme, sopa rica de camarão, lombo de novilho com cogumelos da floresta, queijo português com vinho do Porto, gelado de noz, café e bombom. Papa 2 É mais em conta que o Vila Velha, mas igualmente central. As especialidades (para duas pessoas) são a lagosta com massa a 5.000$00, o arroz de tamboril a 3500$00 e o bacalhau na telha a 2700$00.

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