As diabruras de Jesse James, fora-da-lei à boa maneira do velho Oeste americano, não escaparam ao boneco que dispara duas vezes mais rápido que a própria sombra - o igualmente famoso Lucky Luke, num álbum com o nome do bandido. A sua lenda não acaba aí, pois ainda hoje não se sabe ao certo em que campa pára o corpo de Jesse James. Talvez não falte muito, se os testes genéticos ao corpo agora exumado forem conclusivos.

Os livros de História contam que Jesse James, um dos mais lendários bandidos dos Estados Unidos, morreu a 3 de Abril de 1882, no Missuri, depois de ter sido baleado pelas costas por Robert Ford, um dos membros do seu próprio bando. Mas há quem não acredite nada nesta versão e diga que o bandido faleceu apenas a 15 de Agosto de 1951, aos 104 anos, no Texas - por isso, os restos mortais supostamente pertencentes ao segundo Jesse James, digamos assim, foram exumados e agora serão objecto de testes genéticos para ver se são mesmo do famoso fora-da-lei. Será Jesse James um bandido que viveu duas vezes?"Esperamos que seja uma oportunidade para fornecer dados adicionais sobre a vida e a lenda de Jesse James", declarou à agência noticiosa AP Steven Reid, advogado de Jesse Quanah James e Charles A. James, dois supostos bisnetos do bandido que vivem no Arcansas e pediram a exumação do corpo. Para a história ficou que Jesse James deixou este mundo, traído com um tiro na nuca, na sua casa em St. Joseph, no Missuri, e foi enterrado em Kearney, no mesmo estado. Mas alguns habitantes de Granbury, uma pequena cidade a 72 quilómetros de Fort Worth, no Texas, insistem que o fora-da-lei sobreviveu e forjou a sua morte. Mudou o nome para Frank Dalton (não, ele não estava a pensar no bando dos irmãos Dalton, que Lucky Luke também perseguiu nos livros aos quadradinhos) e foi viver para Granbury. Dizem os habitantes desta cidade que chegou até aos 104 anos e foi enterrado numa campa onde se lê "Jesse Woodson James", e inclui a inscrição "supostamente morto em 1882". Para deslindar o caso, a equipa de David Glassman, director do Departamento de Antropologia da Southwest Texas State University, em San Marcos, pôs-se no encalço dos restos mortais de Jesse James. Da campa no Texas recolheram amostras de pedacinhos de osso, que foram enviados para David Glenn Smith, um antropólogo da Universidade da Califórnia, que irá fazer-lhes testes genéticos: comparará o ADN nos pedaços de osso com o dos descendentes de Jesse James. As análises deverão estar prontas daqui a três meses. O corpo enterrado com o nome de Jesse James em 1882 já havia sido exumado em 1995 e os cientistas concluíram que pertencia, muito provavelmente, ao fora-da-lei, depois de estabelecida a comparação com o ADN de Robert Jackson, um advogado de Oklahoma City que é filho de Susan James, irmã do bandido. Os defensores da teoria da morte forjada argumentam, porém, que esses dados são inconclusivos. "Queremos esclarecer a história. Eles cometeram um grande erro", opina Bud Hardcastle, um vendedor de carros usados em Purcell, Oklahoma, e historiador amador que está envolvido nesta história em nome dos bisnetos Jesse Quanah James e Charles A. James. Tantos anos de investigação levam-no a dizer que os restos mortais de Jesse James estão em Granbury e não em Kearney. Este ano, uma juíza do condado de Hood autorizou a exumação do corpo no Texas. Jesse James faz parte da galeria dos fora-da-lei mais famosos, tendo as suas aventuras sido popularizadas em inúmeras novelas de cordel. Certas biografias, sem grande rigor histórico, apresentam-no mesmo como o Robin dos Bosques americano, que roubava mas para ajudar os aflitos.Ao lado do irmão, Frank, lutou na Guerra Civil dos Estados Unidos, pelo lado da Confederação, com os membros do grupo de guerrilheiros do coronel Charles Quantrill, onde aprendeu a ser um fora-da-lei. Depois da guerra, Jesse e Frank James e muitos dos irmãos Younger juntaram-se para assaltar bancos e comboios, matando a sangue-frio quem se cruzasse no seu caminho. Iniciaram num banco de Liberty, no Missuri, uma carreira de 16 anos de assaltos. Mas a 7 de Setembro de 1876 as coisas não lhes correram bem, falhou o assalto ao First National Bank de Northfield, no Minnesota. Os cidadãos da cidade perseguiram os bandidos pelas montanhas, e mataram e capturaram membros do grupo. Jesse James escapou a tempo, e acabaria por encontrar outros parceiros.Mas enquanto os documentos históricos mostram que foi morto em 1882 por Robert Ford - na esperança de receber uma recompensa de dez mil dólares, o que não aconteceu-, há quem diga essa foi a versão para iludir as autoridades. Consta em Granbury que os habitantes terão suspeitado de que Dalton era o bandido e este, pouco tempo antes de morrer, em 1951, terá feito saber que realmente o era. O xerife do condado de Hood disse então que examinou o corpo e "contou 32 buracos de balas desde a testa até aos joelhos". Quem não acredita nada nesta história é Elizabeth Gilliam Beckett, do Museu Jesse James, em Kearney. As análises à caligrafia feitas nos anos 80, diz Elizabeth Gilliam Beckett, concluem que Dalton não era Jesse James. Ela também afirma que os homens que se dizem netos de Jesse James não são seus descendentes directos. "Sabemos que o verdadeiro Jesse está enterrado aqui em Kearney." Sobre a campa oficial pode ler-se: "Jesse W. James, morto a 3 de Abril de 1882 com a idade de 34 anos, 6 meses e 28 dias, assassinado por um cobarde cujo nome não é digno de figurar aqui."Para uma visão romanceada da vida de Jesse James, poderá sempre deleitar-se com as aventuras de Lucky Luke, num álbum de 1969 da dupla Morris (desenhos) e Goscinny (textos). Lucky Luke acaba por perseguir Jesse James, e o final talvez não seja muito difícil de adivinhar.