Carta do regresso ao Brasil

Quinhentos anos depois do achamento da terra que havia de se chamar Brasil, fomos reconstituir as andanças dos navegadores que ali chegaram. O resultado é uma carta na qual se conta, como Pêro Vaz de Caminha então fez, o que naquelas paragens hoje se pode ver. Ainda que para o bem contar e falar o saibamos fazer pior do que todos...

Posto que passam já quinhentos anos desde o achamento desta terra nova a que o capitão-mor da nossa frota deu o nome de terra de Vera Cruz, não deixarei de vos dar conta, o melhor que puder, daquilo que agora por cá se pode ver, ainda que para o bem contar e falar o saiba fazer pior do que todos. Tomem, porém, a minha ignorância por boa vontade e creiam que não relatarei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.Impõe-se-me desde já que vos diga que a terra mudou de nome de então para cá, tendo passado a chamar-se Brasil, por força de umas certas árvores que por cá havia e ainda há, embora sejam agora, ao que me parece e pelo que ouvi dizer, em muito menor número, tendo em sua vez proliferado uma quantidade enorme de coqueiros, trazidos, ao que me disseram nativos bem informados, das partes da Índia e que aqui se deram e proliferaram como se em sua terra estivessem.Tendo os tempos mudado - e, com eles, o meio de nos transportarmos -, partimos de Salvador, na Baía, a 25 de Fevereiro e, num pulo de avião, chegámos à terra a que puseram o nome de Porto Seguro nesse mesmo dia, ao princípio da tarde. Ao monte mui alto e redondo a que Pedro Álvares Cabral deu o nome de Pascoal só o avistámos vários dias depois e não primeiramente, como há 500 anos. E não foi fácil a empresa de ali chegar: as operadoras marítimas deixaram de viajar para as imediações do monte e alugar na cidade um automóvel que possa sair do perímetro urbano é complicado.Por força deste condicionalismo, avistámos o monte a partir de terra, embora à distância de muitos quilómetros, pelo que facilmente se percebe que os achadores o tenham visto em primeiro lugar, ainda que o mar dele fique longe, só sendo visível a partir dali se subirmos ao cume. Chegados à reserva natural que agora ali existe, por ser dos poucos sítios aonde se preserva ainda a densa mata atlântica de outrora, logo topámos com um acampamento indígena. Ali nos explicaram que um grupo da tribo dos pataxó tomou conta do local em Setembro último, tendo ali estendido faixas de pano reclamando que "o monte Pascoal é dos pataxós". E os mais novos destes, vestindo pouco mais do que taboas de palha, logo nos rodearam para tentar vender aquilo que parece ser o único sustento destes nativos: artesanato indígena. Há muitas barraquinhas dele ao longo da estrada BR101 que percorremos para aqui chegar - numa viagem de quase duzentos quilómetros -, rivalizando estas com as dos cocos gelados, que também se traficam em abundância por estas partes.Conversando com estes nativos pataxó - é espantoso que esta gente toda fale agora a nossa língua e que os indígenas pareçam compreender-nos melhor do que os outros brasileiros -, ficámos a saber que os índios andavam descontentes com a forma como a reserva era mantida pelo Governo, tendo optado por ocupar o local à força. "Esta terra é nossa", disse-nos um de 15 anos, Tatu de seu nome indígena, já que por aqui todos têm duas graças - a de baptismo, oficial, que pode ser Carlos Alberto, João Manuel ou Wilson, e uma outra, mais exótica, pela qual respondem perante a tribo.Não havia por ali muito mais que ver do que milhares de árvores que levam nomes como jequitibá, oiti, jacarandá, piqui, aderno, jeudiba ou o tal pau-brasil que deu nome a esta terra. Ainda nos garantiram que é também grande o número de animais selvagens que por ali vagueiam, como macacos, jaguares ou preguiças, mas a estes não os avistámos, nem aos papagaios que quase deram nome a esta terra, que só vimos em gaiolas de madeira, sendo vendidos na beira da estrada. Quanto ao resto, tirando a exibição para turistas, esta gente veste-se agora como qualquer um de nós - sem nada que lhe tapasse as vergonhas só topámos com um pequenito que não devia ter mais de quatro anos -, os mais novos vão à escola e alguns (muito poucos) até têm empregos. E não gostam que se lhes diga que foram descobertos por nós há 500 anos.Visto isto, tentámos ainda chegar nesse dia a Caraíva, a cuja praia se supõe que os navegadores portugueses chegaram a 22 de Abril de 1500. Para lá, porém, a estrada é de terra, tendo no percurso caído tal temporal que em pouco tempo o barro do caminho principiou a desfazer-se, pelo que julgámos mais seguro voltar para trás. Foi este o momento mais tormentoso desta viagem nossa, o qual não se poderá comparar com os perigos que o mar há-de ter apresentado aos navegadores.Importa, ainda assim, que vos conte que a costa que as embarcações portuguesas percorreram até encontrar porto seguro são ainda hoje mui planas, embora agora semeadas de uma vastidão de coqueiros de altura variável e uma vegetação baixa e rala, formando a geografia um serpenteado de pequenas baías de águas límpidas. Indo de sul para norte, encontra-se ainda um pequeno conjunto de povoações e aldeias indígenas, algumas das quais inacessíveis se não se tiver um barco para lá chegar. A primeira destas terras é a já referida Caraíva, aonde se encontram também grupos de pataxós, pescadores e pequenas casas de turismo que parecem conviver amenamente com a natureza. Segue-se Trancoso, que é lugar de belas praias e onde cresceu, no alto de uma arriba, uma povoação portuguesa em redor da igreja de S. João Baptista que os jesuítas ali construíram. A terra cresceu bastante de então para cá, em volta de um conjunto de ruas de terra mui esburacadas, mas o núcleo histórico, com as suas casinhas coloridas meio ocultas pelo arvoredo, mantém ainda um especial encanto. Finalmente, antes de chegar ao rio Bunanhém, que banha a cidade de Porto Seguro, encontra-se Arraial da Ajuda, vila também dividida em dois patamares, um ao nível do mar e outro mais alto, igualmente com a sua igrejinha (dedicada a Nossa Senhora da Ajuda) e com as suas casas baixas e de cores berrantes, que servem de apoio a uma espécie muito particular de turismo que parece atrair sobretudo estrangeiros ligados ao esoterismo, à ecologia e ao nudismo, sendo as praias bastante procuradas para este efeito.E assim, por este caminho com cinco séculos, regressámos, às imediações de Porto Seguro, aonde a frota comandada por Cabral passou grande parte do seu tempo aquando do achamento.Foi Caminha, Pêro Vaz, o do Porto, quem vaticinou que, sendo tão graciosa esta terra aonde chegámos, tudo nela se daria se fosse essa a vontade de quem aqui vivesse. Pois a novidade é que, continuando fértil, este chão à beira-mar permanece tão inculto como antes, sendo sua única safra a de uma árvore chamada turismo, a qual, constato, faz brotar quantidades inacreditáveis de argentinos e ainda, em menor quantidade, de gente de outras pátrias, que trazem os bolsos cheios de dólares para alimentar os hábitos nativos. Um dos mais curiosos, de resto, conheci-o logo à chegada, quando me cobraram quinze reais (mais de 1500 escudos) por uma viagem de táxi que não excedeu os cinco minutos. Após novas experiências neste meio de transporte, conclui que por aqui se pagam quase quinhentos escudos por cada quilómetro percorrido num táxi.Nesse dia, o da minha chegada, depressa constatei que quase tudo por aqui invoca a viagem lusitana de há quinhentos anos, sendo comum cruzarmo-nos com frases que indicam, em variações diversas, que "aqui nasceu o Brasil". Pedro Álvares Cabral, o nosso capitão-mor de 1500, tem uma estátua à entrada da cidade de Porto Seguro e, mais para os lados do mar, na Praça 22 de Abril, que recorda a data da nossa chegada, está imortalizado Caminha, descrito como o primeiro jornalista que aqui chegou. Mais para norte, percorrendo a estrada marginal - ladeada de hotéis, restaurantes, bares e parques de diversões nocturnas e diurnas -, encontra-se o Cabralão, descrito como "a maior e melhor casa de espectáculos do Brasil". Do paraíso a que chegámos há 500 anos sobra, todavia, muito pouco - sendo igualmente difícil de vislumbrar onde está aquele que é prometido aos turistas -, persistindo, ademais, uma querela sobre qual o local aonde aportaram as caravelas de 1500. Porto Seguro adoptou a designação com que Pero Vaz de Caminha encerrou a carta do achamento, mas os de Santa Cruz de Cabrália, vinte e cinco quilómetros mais a norte, garantem que foi ali que as embarcações acharam o seu bom pouso. Não nos tocando tarefa de ter de arbitrar a contenda, note-se que Cabrália é um lugar mais pequeno e sossegado, mais pobre também, com casinhas baixas e ruas empoeiradas, tendo uma praia pequena e rochosa e, no alto, um centro histórico minúsculo que na ocasião da nossa visita estava em obras e transformando num grande lamaçal por força das chuvas que abundantemente por aqui caem; e que, comparando a descrição de Caminha ao que ainda por ali se pode ver, os barcos não terão lançado âncora em nenhuma das localidades que disputam o dote, mas sim a norte da ponta de Coroa Vermelha, assim chamada precisamente por dali se ver o recife - encarnado - a que a carta faz alusão, "com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada", sendo esta visível quando, chegando de avião a estas paragens, o aeroplano desce para se fazer ao chão. De resto, há por ali, na beira da estrada que percorre a costa, uma placa de madeira anunciando o rio Mutari, onde alegadamente "foram abastecidas as caravelas de Cabral".Porto Seguro, com a sua barreira de recife formando quase um porto natural, bem que podia ter sido o sítio escolhido, não parecendo, contudo, possível que os marinheiros tenham atravessado Pedro Álvares Cabral em braços pela foz caudalosa do rio Bunanhém. Caminha conta, de resto, que o tal rio atravessado não era "mais largo que um jogo de mancal".Mais consensual é que a primeira missa rezada em solo brasileiro, após aquela que no domingo de Pascoela foi oficiada num ilhéu ao largo da costa por Frei Henrique de Coimbra, tenha ocorrido nas proximidades da tal Coroa Vermelha, aonde existe ainda uma cruz que replica aquela que ali terá sido armada para a ocasião pelos marinheiros portugueses. Não tem esta mais de trinta anos, mas já por ali se está a construir outra que a substitua, mais alta e com aspirações escultóricas, sob cuja sombra hão-de decorrer parte das solenidades oficiais que assinalarão os 500 anos do achamento. Por força da celebração, andava aquele pedaço de costa num alvoroço de obras quando ali estivemos, bulindo estas com o quotidiano dos indígenas pataxó que por ali habitam em miseráveis e minúsculas cabanas de madeira, não raro munidas de largas antenas parabólicas. A maior parte, porém, está a ganhar casa nova.Verdade seja dita, estes índios já pouco têm a ver com os que aqui achámos há cinco séculos. São ainda pardos, mas não andam todos nus, nem abundam os narizes bem feitos ou os bons rostos, as cabeleiras corredias ou os corpos tingidos de vermelho. Na maior parte do tempo vestem-se com pouco mais do que uns calções e, quando muito, uma camiseta, nome que por cá dão às nossas "T-shirts". Envergam os arcos e flechas, as taboas, os cocás ou as bordonas apenas em dia de festa, na reserva aonde vão para que os turistas os vejam ou quando estão zangados. Era o que sucedia num dos dias em que os visitámos, tendo posto nos rostos pinturas de guerra para lutar pela posse de um naco de terra que o Governo lhes atribuiu, mas cujo proprietário não queria abandonar.A Pêro Vaz, que receitou a el-rei a salvação urgente destas almas, havia de agradar ver como a maioria destes indígenas professa agora a religião católica, ainda que uma parte adore ainda os deuses nativos e outra tenha sido desviada para as correntes evangélicas e até para a Igreja Universal do Reino de Deus (há em Coroa Vermelha, como nas outras terras desta costa, um templo deste estranho credo). Achei curioso que uma pataxó que respondia pelo curioso nome de Gengiroba tenha chegado a agradecer-nos - a nós, portugueses - o facto de termos conquistado o Brasil, permitindo-lhe, deste modo, conhecer "o Deus vivo que criou todas as coisas". Pesados todos os factores, não nos pareceu, contudo, que a "salvação" destas almas tenha feito dos indígenas que aqui vivem pessoas mais felizes do que eram há 500 anos.Outra das curiosidades destes indígenas que agora por aqui habitam reside no facto de não serem já da tribo que originalmente habitavam estas paragens, os tupinambá. Estes, ao que parece, tiveram pouca sorte no convívio com os portugueses, tendo os pataxó vindo ocupar as terras que ficaram livres. Ademais, muitos destes nativos não são índios de verdade, sucedendo estarem abundantemente miscigenados com indivíduos de raça negra (também há, embora em menor número, exemplos de cruzamento com brancos), sendo por vezes difícil distingui-los. Terem os rostos pintados de vermelho e negro ou um cocá de penas na cabeça ajuda muito quando se quer perceber quem é quem.Quanto às nativas que tanto encantaram Caminha, há que dizer que continuam a não ser afanadas. Agora, porém, as mais gentis e garbosas não são já as descendentes dos índios de 1500, mas antes as que trazem nas veias o sangue dos africanos que nós portugueses para cá trouxemos. São estas bem feitas e redondas e as suas vergonhas (que agora ocultam, embora sem excessos) tão graciosas que ainda agora muitas mulheres da nossa terra teriam inveja de as não ter como elas. Acresce que estas negras e mestiças têm um tal encanto no caminhar e no vestir que mesmo as que não são estonteantemente belas seguem os mesmos preceitos, ganhando um especial encanto. Há-de ser coisa que, não sendo regra que não admita excepções, já vem no sangue.Deixando na paz possível os índios de Coroa Vermelha e seguindo em direcção a Porto Seguro, o que por esta estrada fora hoje se vê é, se não motivo de espanto, coisa de arregalar bem os olhos, tal a quantidade de hotéis, pousadas, cabanas de praia e casas de diversão que plantaram junto ao mar para deleite dos argentinos. Mesmo no areal, caminhando sem pressa, se encontra grande quantidade de vendedores ambulantes que vêm tentar convencer-nos a comprar as mais distintas coisas, desde o mais comum milho verde a bonés, "T-shirts" e outras bugigangas. Um deles, que me ficou na memória, abeirou-se de nós e perguntou sem rodeios:- Quer fazer uma tatuagem, argentino?Explicamos - com a cortesia possível a quem está já farto que lhe falem em castelhano - que não queremos a tatuagem nem somos argentinos, ao que o rapaz se foi.- Desculpa aí, meu; essa praia está cheia de argentinos...Importa dizer que estas praias que aqui existem têm nomes bem pitorescos, como Taperapuan, Mundaí, Itacimirim, Curuípe e Mucugê, os quais só rivalizam com as denominações dos estabelecimentos, que vão desde o Koroa Tropical ao Tuareg, passando pelo Transilvânia, o Loló Brasil, o Tôa Tôa e o Axé Moi. No Point da Tartaruga, aonde nenhum destes animais se viu, tomámos uma refeição nocturna de frango frito. Ofereceram-nos com simpatia do bolo do aniversário que ali se comemorava e, no fim, trouxeram a conta num papel gorduroso, no qual se discriminava que, pela dose de "fangofito" e duas "caipirias", nos cabia pagar um "totau" de 11.50 reais, que é a moeda corrente deste país. Como não tinham troco, recebemos um vale no mesmo tipo de papel em que viera a conta, o qual pudemos descontar em refeições seguintes.Foi também por estas praias que separam Porto Seguro de Cabrália que vimos uma arara de exuberantes cores, robusta, mas que já pouco voava por lhe terem sido cortadas as asas para que não fugisse da cabana de praia aonde servia de animal decorativo. Quanto ao resto, a fauna destas terras não se mostrou particularmente rica: uma grande quantidade de urubus; uns passaritos pequenos de grandes asas e caudas que no ar pareciam ter muito maior porte; e uma espécie de canários grandes que se instalavam nas ramagens dos coqueiros para dali mergulhar repetidamente nas águas azuis da piscina do hotel em que nos instalámos foi tudo o que pudemos ver. Às pombas de que Caminha fala na carta só vimos muito longe daqui, na cidade de Salvador. Mas, tendo em mente o episódio dos papagaios nas gaiolas e da arara de asas cortadas, não é difícil compreender que os animais prefiram manter-se longe de certas espécies tidas por inteligentes.E, finalmente, Porto Seguro. Poiso de argentinos e local de muito folguedo, tem uma avenida à qual puseram o nome de Passarela do Álcool, por ali se praticar a boémia nas suas mais diversas formas, mas sobretudo em estado líquido. Tem esta avenida uma fileira de casinhas garridas aonde se vendem camisetas e artesanato, proliferando ainda os restaurantes com mesas ao ar livre. Quando a noite cai instala-se à frente desta fachada, paralelamente, um longo cortejo de barraquinhas de venda, formando-se por esta via um corredor longo aonde se pode comer de muitas coisas e beber mui espirituosas bebidas, que levam nomes como "capeta", "noite de amor" ou "tesão de vaca". A esta febre mercantil não escapam sequer os frades capuchinhos que ali têm um templo: certa noite, houve em que um dos católicos estava na porta da igreja, com o seu hábito grosso e uma longa barba branca, vendendo também de uns cartões com a imagem de uma santa.Em meio desta sucessão de folguedos, junta-se nesta passarela enorme multidão de gentes de todas as partes, tendo até sucedido cruzarmo-nos com um brasileiro que levava posta uma camisola azul e branca do clube de futebol campeão de Portugal - suponho que era algum admirador do Jardel, mas não o inquiri sobre o assunto por falta de oportunidade. Certo é que a nossa visita coincidiu com o arranque dos festejos do Carnaval, que por aqui constam de uns grandes camiões aonde vão postos grupos que tocam instrumentos deveras barulhentos; os quais, à sua passagem pelo meio dos foliões, arrastam atrás de si um grande número de pessoas que se saracoteiam ao som da música que vão tocando. Sucede também que, por aqui, o Carnaval não se extingue na Quarta-Feira de Cinzas, prolongando-se por umas semana mais, tendo passado a decorrer com maior vagar, como sucede com quase tudo, a construção de seis pequenas caravelas que se estão a armar em frente desta passarela e que se destinam a comemorar a nossa chegada a estas terras.Nem tudo, todavia, é folgação por estas partes. Numa das noites em que por aqui tomávamos o jantar, abeirou-se da mesa, já a refeição estava no fim, um garotinho de cor parda que fez um movimento circular com a mão na barriga para indicar que tinha fome e que, por nós autorizado a fazê-lo, levou os restos da janta para comer do outro lado da rua. Moral da história: 500 anos passados, já dos nativos não podemos dizer serem todos belos, bem nutridos e fortes, rijos e nédios. Alguns, não criando boi, nem vaca, nem cabra, ovelha, galinha ou qualquer outra alimária que se veja, continuam também à margem do rio dos dólares que à cidade desagua.E nesta maneira, senhores, vos dou assim conta do que nesta terra vi. Se algum pouco me alonguei ou se, acaso, vos aborreci, perdoe-se-me esta vontade de vos dizer pelo miúdo aquilo que por cá agora existe.Não vos beijo as mãos, mas ponho-me, como de hábito, ao vosso serviço.Desta cidade de Porto Seguro, do país que agora é Brasil, hoje, sábado, quarto dia de Março de 2000.

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