"Taiwan nunca será independente"

A pressão chinesa sobre Taiwan avoluma-se à medida que se aproximam as presidenciais de sábado; o primeiro-ministro da China, Zhu Rongji voltou a advertir os eleitores taiwaneses de que não devem "agir impulsivamente", ou seja, escolher um candidato pró-separatista. Taiwan continua a rejeitar as "intimidações" chinesas.

Taiwan voltou a ser o tema marcante nas palavras do primeiro-ministro chinês no encerramento dos trabalhos da Assembleia Nacional Popular (ANP) em Beijing. Zhu Rongji falou também de outros temas, mas o que dominou o seu discurso foram as duras advertências a Taipé: "Sejamos claros: qualquer que seja o resultado [das eleições presidenciais do próximo sábado], Taiwan nunca será autorizada a ser independente".Há mais de meio século que a China considera Taiwan como uma província rebelde e rejeita peremptoriamente a sua independência. As tensões entre Beijing e Taipé já atingiram níveis mais preocupantes, mas o discurso oficial da China tem endurecido com a aproximação das eleições presidenciais em Taiwan: nos últimos dias, a China emitiu um "livro branco" em que ameaçava com o recurso à força em caso de intenções independentistas, e exigiu pela primeira vez o estabelecimento de um calendário para a reunificação.Ontem, Zhu Rongji recordou que a eleição de um candidato pró-separatista "pode desencadear uma guerra entre os dois lados do estreito de Taiwan", no que foi visto como uma referência a Chen Shui-bian, o candidato que assumiu posições mais extremas quanto a uma possível independência de Taiwan."Deixem-me aconselhar o povo taiwanês: não ajam impulsivamente neste momento que decide o futuro da China e de Taiwan", disse Zhu, que no entanto proferiu acreditar "na sabedoria política do povo de Taiwan", acrescentando que "quem propõe a independência de Taiwan terá um triste fim". O primeiro-ministro contrariou ainda a opinião generalizada dos analistas ocidentais de que a China não terá capacidade militar para um ataque a Taiwan: "Quem assim pensa não sabe nada da História chinesa."Zhu referiu-se também ao papel dos Estados Unidos, principais aliados de Taiwan, parafraseando (em inglês) uma declaração do Presidente Bill Clinton, que na semana passada apelou a "uma mudança, da ameaça para o diálogo, no estreito de Taiwan". O que Zhu disse foi: "É preciso uma mudança, da ameaça para o diálogo, no Pacífico."O Governo de Taiwan reagiu prontamente às declarações de Zhu, através do seu ministro para as relações com a China continental, Su Chi: "O sr. Zhu [...] não tem o direito de dizer nada sobre as nossas eleições." Embora Beijing não apoie nem vete nenhum dos candidatos, as suas últimas iniciativas são vistas como sinal de preocupação sobre a possível eleição de Chen Shui-bian.Por isso, o ministro Su acrescentou que "Chen tem o direito de dizer o que quiser sobre a independência de Taiwan, porque aqui há uma democracia". Su Chi pertence ao partido do poder, o Kuomintang, cujo candidato, Lien Chan, é um dos três favoritos às presidenciais de sábado. Um responsável da campanha de Lien, que ontem contou com um apoio emotivo do Presidente cessante Lee Teng-hui ("Votem nele. Por favor, por favor"), afirmou que Taiwan "não aceita ameaças da China comunista".Outro dos favoritos, o independente James Soong, afinou pelo mesmo diapasão, voltando a repetir a sua oferta de "assinar um tratado de paz com um prazo de pelo menos 30 anos" com a China, caso seja eleito. Quanto a Chen Shui-bian, o seu gabinete emitiu um cauteloso comunicado em que afirma: "A nossa posição não vai mudar por causa das declarações da China."Embora em Taiwan as sondagens estejam proibidas nos últimos dez dias de campanha, Chen, Soong e Lien estarão muito próximos nas intenções de voto. Todos rejeitam a fórmula "um país, dois sistemas" para a reunificação de Taiwan, que Zhu Rongji repetiu mais uma vez ontem no seu discurso à ANP.Mas nem só de Taiwan falou Zhu. O primeiro-ministro prometeu a generalização de eleições por sufrágio universal "o mais cedo possível" na China. Há uma dúzia de anos que há eleições (com candidatos cuidadosamente escolhidos pelo Partido Comunista Chinês, PCC) a nível local, e Zhu quer ampliar o sistema a nível provincial ou mesmo nacional. Mas Zhu não vê "relações significativas entre a luta contra a corrupção e a existência de um sistema multipartidário ou de partido único", sendo que a corrupção foi outra das suas preocupações ao dirigir-se à ANP: em face da recente onda de escândalos financeiros envolvendo autoridades chinesas Zhu admitiu que "o povo não está inteiramente satisfeito" a este respeito.A ANP aproveitou mais um orçamento de Estado deficitário que tem por objectivos grandes obras infra-estruturais e a preparação da China para uma eventual adesão à Organização Mundial do Comércio. A ANC é um órgão parlamentar de importância reduzida que praticamente só confirma as decisões do comité central do PCC, mas legislação ontem aprovada confere-lhe mais poder, o que, paradoxalmente, poderá reforçar a posição da linha dura do regime chinês. É que o presidente da ANC é o ex-primeiro-ministro Li Peng, célebre por comandar a repressão das manifestações de estudantes em Tiananmen em 1989.

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